sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Com os dedos entanguidos…

             A Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, aprovada em Outubro de 2003, entrou em vigor a 20 de Abril de 2006, e Portugal ratificou-a a 26 de Março de 2008. Tendo como principal objectivo «a salvaguarda do património cultural imaterial», explicita que o primeiro domínio em que este património se manifesta é o das «tradições e expressões orais, incluindo a língua como vector do património cultural imaterial».
Por isso, estamos a assistir em diversos órgãos de Comunicação Social e até em livros a esse desejo de mostrar como é que o Povo fala e falava, de modo a não se perderem as expressões de outrora – e ainda bem! Lutamos, assim, contra essa danosa invasão de frases (que até ouvimos dos «senhores políticos»!...), como newsletter, best of, workshop, brainstorming, meeting, call center, call of papers…
Isso aqui temos feito e, agora que o frio aperta, não é invulgar que fiquemos, a determinado momento, com os dedos… entanguidos! O adjectivo pode assumir diversos significados mas, no falar algarvio, é… «não ter engenhos»! Ou seja, o frio impediu a circulação do sangue e os dedos perderam força e só à custa de muita fricção é que voltamos… a ter engenhos, para, por exemplo, pegar em qualquer coisa! «Não tens engenhos nenhuns!», dizíamos ao moço pequeno que não lograva atirar o «bias» (berlinde) para longe…
            Curiosas, sem dúvida, as duas expressões. E se, aqui, ‘engenho’ se prenderá, naturalmente, com o latim «ingenium», capacidade, não me admiraria que entanguido seja susceptível de se relacionar com o verbo latino «tangere», tocar para a frente, sendo ‘entanguido’ o oposto, aquele que nem se pode mexer!...
 
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 169 (Fevereiro 2013) p. 10.

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário