Era ali.
Junto de uma escarpa lisa, dois homens de maior
idade haviam estendido as cordas, amarrado bem as ilhargas, olhando para o cimo
(25 metros
seriam, lisos)… Conseguiriam escalar. Era o seu sonho para este sábado de
Inverno primaveril.
A poente, outra rocha a pique, magote de jovens.
A Escola de Escalada da Guia em actividade plena, a explicar que chegar ao
topo, pé aqui, pé acolá, na tenacidade, na autoconfiança… Um sonho atingível
aquele cimo. Reluziam as argolas onde se deveriam amarrar… Escola de Escalada
da Guia. Era ali!
Pouco antes de nós, pelos mesmos degraus a
esconderem-se nas anfractuosidades da rocha, descera um jovem, mochila aos
ombros. Sentara-se no bico dum dos blocos para ali tombados há muitas décadas.
Poisara a mochila, olhara o mar, cruzara as pernas. Vai meditar – pensei. Que o
ambiente se presta a um encontro consigo, no fim de uma semana frenética, a
pesar os sonhos, agarrando uns, afastando outros – que há joio a separar do
trigo… Ná!… Ali, afinal, o sonho dele era outro, chamava-se evasão… Vivia num
palácio e sonhava com a choupana ou vivia na choupana e queria viver em
palácio…
Rosa ficara para trás, a dado passo, numa
intuição feminina:
– Eu bem me parecia – comentou. – Ele não vinha
pescar, nem ler, nem deliciar-se com as escaladas… Que pena!…
Evolava-se fumo cinzento de um pedaço de papel
prateado. Brilho de prata a desfazer-se em fumo. Viagem quiçá
sem retorno; ou com mais retornos, mais retornos, a sonhos inacessíveis,
desesperados – sem ninho de pombos bravos na anfractuosidade aconchegada da
fraga...
José d’Encarnação
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