Agradou-me,
de facto, ter sido publicado com tanta informação
o livro sobre a evolução história do
mercado de Cascais, a que já houve oportunidade de me referir na passada edição .
Manancial de informação
Recordo que se
informava, por exemplo, que houvera uma transferência, do mercado, da zona por
onde depois passou a marginal «para a Parada, para o local onde haviam
funcionado os lavadouros e antigas oficinas municipais» (p. 24).
Informação como esta, à primeira vista insignificante,
detém, na realidade, um grande alcance para quem deseje estudar a evolução urbanística da vila. Deveras interessante a
referência a lavadouros nessa área da Parada, o que é capaz de fazer sentido se
pensarmos que passava não muito longe o Rio dos Mochos e, porventura, a conduta
que abastecera outrora o Convento de Nossa Senhora da Piedade.
E
o livro está pejado de pormenores que, bem analisados, constituem verdadeiros
achados. As fotografias das páginas 32 e 33, por exemplo… ¿quem, natural de
Cascais, resistirá a não olhar para elas com a maior atenção ,
na tentativa de discernir o que hoje resta das casas aí mostradas?
Vamo-nos
entretendo a ver datas, documentos oficiais, carimbos de casas autografados,
recortes de jornais… até às renovações já da nossa época, a requalificação levada a cabo em 2014, ano que marc a, como aí se proclama (p. 62) «o efectivo
regresso do Mercado da Vila à vida dos cascalenses, dotado de nova imagem e
espaços renovados, bem como da centralidade de outros tempos».
O novo conceito
Mais
abrigado e menos perturbador do que a esplanada frente à Praia do Peixe, o
recinto do mercado presta-se, na verdade, a acoitar os mui frequentes eventos
que animam a vila. De resto, um pouco por toda a parte, os mercados tradicionais
(veja-se agora o encerramento do do Bolhão, no Porto) se renovam, irmanando os
costumes tradicionais com as exigências da modernidade.
Um saloio da Malveira em azulejo do mercado de Cascais |
Direi
que apenas apreciei uma frase que li de soslaio e que dava a entender que se
pensava que à dos saloios era mais barato, mas não era! Eu acho que era, porque
– nessa altura – não havia os impostos que hoje há e os produtos vinham da
terra para a banca, como escreve Carlos Carreiras (p. 3), os produtos «carregam
o peso da identidade de um produtor ou de um artesão da terra». Em menino, vivendo
em Birre, eu adregava ir, na tarde do dia anterior ao da «praça», ajudar a Rosa
do Ti António Fernando ou a Ti Adelaide a apanhar nabos a caminho da Areia, nas
terras de cultivo que aí tinham, abrigadas como estavam das aragens da maresia
pelos toscos muros de pedra solta (alguns ainda por aí resistem!). Tudo era simples
e natural!
Instantâneo da praça saloia, num desdobrável turístico de há anos... |
Uma proposta desonesta
Eu
cá gostaria que as publicações da Câmara passassem a ter o mesmo formato.
As
minhas prateleiras da estante que tem os livros sobre Cascais são pistas de motocross: aos altos e baixos! Alturas
diversas, modelos díspares. Veja-se a colecção
do centenário; veja-se a série «Memória de Cascais» ou os livros dos Cursos de
Férias… Sei que os gabinetes gráficos gostam de mostrar originalidade. Mas
tanto!...
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 233, 2018-05-09, p. 6.
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