Imaginei,
imagino a luta de todos os seres vivos, cada um à sua maneira, para lograrem
sobreviver e espreguiçar-se ao Sol.
Quando
me foi dado observar, agora, as peças escultóricas e as telas do jovem Filipe Curado,
na exposição que celebra os seus 20
anos de carreira, surgiu-me logo a imagem do secular pinheiro do meu bairro. Na
verdade, são assim as árvores do escultor. Lutaram, contorceram-se nas suas
raízes, enrolaram-se na busca difícil da claridade em que a alvura do mármore resplandecia…
E… desabrocharam!
Explosão,
diríamos, essas copas! Corais, esponjas, núcleos primordiais… donde brotarão
formas a recompor! Sim, porque o desafio aí está, para cada um dos olhares: que
vou eu fazer sair daqui?
Inquietante,
a mensagem, na sua génese. Consoladora, porém, se nela atentarmos melhor: são
duas as árvores nascidas! Gémeas. Irmãs. No hino a recordar como, no estranho labirinto
em que mui dolorosamente se nos vão as vidas, há por perto uma companhia fraterna,
solene promessa de amparo!
Suspenso
está o jardim; mármores e telas transmitem-nos, no entanto, uma serenidade
real.
Cascais,
8 de Maio de 2018
José
d’Encarnação
Abertura do catálogo da exposição
«Jardim Suspenso», do escultor Filipe Curado, patente na galeria do Casino
Estoril desde 19 de Maio até 18 de Junho.
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