terça-feira, 1 de maio de 2018

«Atacar o Maio»

           Permita-se-me que, neste 1º de Maio, eu recorde não apenas o que foi a alegria esfusiante do primeiro 1º de Maio após o 25 de Abril, em que todos demandámos a orla, até ao Guincho, nos enfeitámos de flores e aplaudimos a Liberdade, mas também uma das tradições arreigadas no pessoal que trabalhava nas pedreiras do Ocidente cascalense.
Recorto o que escrevi em Cascais e os Seus Cantinhos (2002, p. 50-51):
«Eles por aí vinham, de Birre até à Barraca de Pau, do Zé Martins, e iam arrolando gente.
Era no primeiro de Maio.
Ninguém trabalhava nesse dia. Não se traziam da cova os blocos a-pau-e-corda; não se esponteirava um forro, nem brita se podia fazer.
Era sagrado o dia.
E eles por aí vinham, de garrafita de aguardente, figos secos (que haviam sobejado da safra do ano atrás), se calhar um punhado de bolotas. E batia-se à porta deste e daquele, para «atacar o Maio».
Penso que acabava tudo, mais para a banda de lá que para a de cá, na Taberna do João Gordo, no Cobre.
E jogava-se ao burro, ao chinquilho, ao dominó, às cartas… quando não se abalava até para as bandas da Guia, a juntar-se a outro grupo que por lá andava a preparar a caldeirada.»
                                              José d’Encarnação

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