Quando, pela
década de 90, fui incentivando os meus estudantes do Curso de Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias a
que preparassem relatórios de estágio sobre o aproveitamento da água nos
respectivos concelhos, pareceu-me ter encontrado, a princípio, alguma
relutância. Pouco a pouco, porém – como sói dizer-se e aqui de forma bem
apropriada, «água mole em pedra dura…» –, a consciencialização surgiu.
É
que a preocupação pelo abastecimento
domiciliário de água levara ao abandono de poços, de fontanários, de nascentes,
até porque outros ‘valores’ empresariais vieram, paulatina e mui
sorrateiramente, a ganhar terreno e sabemos, na factura mensal, o que hoje esse
capitalismo significa e nos dói.
Acabaram
por apresentar-se, pois, com muito agrado, no âmbito do Património, levantamentos
deveras interessantes e, sobretudo, começou a generalizar-se pelo País a preocupação em voltar a olhar, agora com outros olhos, para
esses ‘monumentos’ de antanho.
Municípios
houve – e recordo Sintra, S. Brás de Alportel… – que alindaram esses recantos,
reabilitando-os e incentivando os habitantes, mediante singelo ordenamento urbanístico,
a deles usufruírem melhor, para piqueniques e festas de aniversários, por exemplo.
Numa das fontes valorizada pelo município de S. Brás de Alportel |
Regozijei,
por conseguinte, ao verificar que, numa das suas crónicas do seu mais recente livro
– «Digressões Interiores – 2», a que já aqui me referi – o Doutor João Lourenço
Roque tenha desabafado:
«Entristecem-me
as fontes abandonadas que já ninguém procura ou sabe onde ficam. Mataram a sede
a tanta gente, ouviram conversas e segredos que davam um romance. Algumas até já
secaram, perdidas no esquecimento ou desgostosas de só verem bicho s e matagais. Outras ainda esperam por algum pastor ou eremita sequioso de águas puras, de águas
bíblicas» (p. 203).
Eu
não saberia escrever assim; mas ouso fazer minhas as suas eloquentes palavras.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 731, 15-05-2018, p. 10.
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