Quando
eu era menino, passava pelos campos ao ir para a escola. E desde logo me
encantaram as moitas de uma flor branquinha com uma rodinha amarela no meio.
Explicaram-me que eram malmequeres e que a gente podia tirar as folhinhas uma a
uma e ir dizendo «mal me quer, bem me quer, mal me quer, bem me quer» e
pensava-se numa das nossas coleguinhas de que gostávamos, a fim de saber se a
última folhinha dava «mal me quer» ou «bem me quer» e, assim, ficávamos a saber
se o nosso amor (a gente pensava que era amor…) era, ou não, correspondido.
Pela
vida fora, acabei por saber que isso dos amores correspondidos não tinha que
ver com a flor, mas sim com a nossa maneira de ser. E aprendi que aquelas
«folhinhas» brancas não eram folhas mas pétalas; que faziam parte da corola, norma lmente vistosa para atrair os insectos que ajudavam
na reprodução dessas plantas; que a rodinha
amarela eram os estames todos juntinhos, onde os insectos iam buscar pólen e
que o conjunto dos estames se chamava androceu; e que havia também na flor o
gineceu, conjunto dos carpelos, a parte feminina da planta. Muito mais tarde,
vim a saber que androceu vem duma palavra grega que deriva de «homem» e que
gineceu era o lugar reservado, numa cidade grega, às mulheres…
Fiquei
a saber essas coisas todas. No entanto, hoje, ao olhar para uma moita de
malmequeres na Primavera, já não penso em namoradas nem em pétalas ou corolas,
mas na beleza que essas minúsculas flores espontaneamente emprestam aos nossos
campos. Abrem-se ao sol pela manhã e fecham-se quando a noite vai cair. E fico
suspenso a admirá-las também!
José d’Encarnação
Publicado na edição
de Maio de 2018 de Ponto & Vírgula,
revista do Gabinete de Informação e
Comunicação do Agrupamento de
Escolas de Marinha Grande Poente, acessível em: http://gic.age-mgpoente.pt
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