Claro, não é o Povo. É aquele grupo
mais ou menos fiel de pessoas que – porventura a troco de umas moedas – se
disponibiliza a estar ali, nos dias aprazados para a gravação, disponível para
bater palmas por tudo e por nada, porque há o mestre-sala a comandar, agora é
palmas, agora é palmas. Mormente palmas, muitas, para os trocadilhos que o
apresentador faz sempre questão de, solenemente, com toda a pompa e
circunstância, dizer, a propósito ou a despropósito da profissão do
concorrente, «aí vai mais uma forma de eu introduzir a…» presença da voz off!
Há quem não resista a perguntar onde é que ela está, a Patrícia Figueiredo, e o
certo é que é omnipresente! Vasco Palmeirim faz, nessa altura, um cagaçal tão
grande e atropela tanto as palavras que, amiúde, nem se consegue perceber bem o
trocadilho!
Mas não é do espalhafato do Vasco
que ora importa falar. Ele é assim, foi a imagem de marca que criou, de baixa
estatura (como está sempre a dizer), sem barba e sem carta de condução. Um fenómeno!
Usado também para o taskmaster e, agora, para o floor. Não,
também esses são fenómenos, porque mostram como a televisão portuguesa dobra a
cerviz perante a estrangeirada e os senhores que mandam se vêem obrigados a usar
não nomes portugueses para os programas mas nomes vindos da estranja, que os criadores
deles não abdicam para ganharem o que lhes é devido. Não vamos, porém, por aí,
pelo menosprezo oficial da riqueza imensa do vocabulário português, mas pelos dividendos,
o que se paga, o que custa aos cofres do Estado, (ou seja, diz-se, a cada um de
nós).
Os 50 000 euros de cada sessão?
É disso que o senhor está a falar? Os 50 000 euros do prémio máximo cujo
anúncio em cada programa é bem sonoramente aplaudido, como, aliás, o está agora
a ser esse tal de floor, que é um chão dividido em parcelas miudinhas
com vontade de serem maiores, a lembrar as muradas que protegem as videiras na
ilha do Pico? Não. Esses 50 000 euros saem só quando el-rei faz anos e o
algoritmo está seguramente bem adestrado para dificultar a subida a esse cume!
O que mais admira – e disso ora se
quer falar – é o à-vontade, a desfaçatez, a descontração como somos
presenteados dia sim dia não, quando não em dias seguidos, com sessões (50 000
euros!...) que já passaram e que, na ausência de qualquer indicação do género
dum ainda que envergonhado REPETIÇÃO, pretendem dar a entender ao espectador
que, mais uma vez, a RTP 1 põe a hipótese de alguém vir a ganhar um prémio
chorudo. Sim, é mais uma vez não porque se trate de nova sessão, mas porque é,
como sói dizer.se, «mais do mesmo!», essa sessão já foi! E a gente até maldosamente
pergunta: «Será que ele puseram isto agora de novo, para o desgraçado que
ganhou, há uns meses, 3000 euros ainda os não recebeu e, assim, vendo a sessão
de novo, se lhe vai reavivar a esperança de os vir a receber um dia? Ou será,
ao invés, com um bem generoso propósito pedagógico de mostrar a supina
ignorância do concorrente que desconhece o nome do rei que está a cavalo no
Terreiro do Paço e de incitar, por isso, o espectador a estudar mais sobre o
seu País?
Compreende-se
que a RTP não nade em abastança financeira. Mascarar desta forma a indigência
não parece, porém, de bom tom e boa educação, quando se trata de um serviço público
que deve pugnar pela Verdade (sim, Verdade com letra maiúscula!). Haja tento.
Não
sei se nas redes sociais e na Comunicação Social o tema já terá sido verberado,
Porventura foi e eu, nesse caso, meto a viola no saco, deserto, todavia, por
saber se já houve essa ‘observação’ e, sobretudo, se os responsáveis pela RTP
deram alguma resposta para não lhe ligarem nenhuma.
Fico
à espera. Sentado, claro! Porque eu próprio já falei nisso à senhora Provedora
e ela, coitada, decerto encaminhou a conversa para as instâncias superiores e…
tudo ficou na mesma. O caso ocorreu quando o joker já passara a ter como
prémio máximo 50 000 euros e apareceu no alinhamento, alegremente, um da série
anterior de prémio menor. E lá fomos cantando e rindo!...
José
d’Encarnação
Publicado em Duas
Linhas, 2 de Outubro, 2024: https://duaslinhas.pt/2024/10/50-000-euros-e-o-povo-aplaude/