segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Deita-se a parede abaixo! - A violência na publicidade

Pensei eu, na minha ingenuidade, que mui rapidamente haveria um movimento de opinião contra o anúncio e que, por consequência, ele iria ser prontamente retirado.
        Não foi.
        Não terá havido movimento contra.
E eu estou, portanto, na minha de bota-de-elástico, de estúpido defensor das crianças, das obras d’arte, da não-violência, que já nos bastam as imagens de devastação vindas da guerra na Ucrânia. Tudo assuntos doutras eras e eu deveria era ficar mudo e quedo no meu cantinho…Não fico.

Custa-me ver o ar amedrontado da jovem (embora saiba que é publicidade montada), quando se dá conta de que o pai, para lhe dar rede da Internet, decide pegar no camartelo e abrir à marretada um buraco na parede da sala, estragando quadros, fazendo estremecer tudo, para os filhos terem rede, uma vez que a da operadora contratada não atravessa paredes.

Ai não atravessa? Eu já trato disso! E há o rosto façanhudo do pai. E há o rosto assustado da jovem. E o anúncio continua a ser exibido na RTP 1!

 

                        José d'Encarnação

Publicado em Duas Linhas, 25-01-2023: https://duaslinhas.pt/2023/01/deita-se-abaixo-a-parede/

 

sábado, 21 de janeiro de 2023

O deus das duas caras

      
           Sempre achei piada àquela engenhosa representação: dum lado, a cara dum velho barbudo e desgrenhada cabeleira; do outro, o jovem imberbe. Deram-lhe os Romanos o nome de Jano e tinha o condão de representar o ano velho e o ano novo.

Do seu nome terá vindo «janua», ‘a porta’, e o adjectivo «Januarius», nome próprio (Januário) e também ‘Janeiro’, nome do primeiro mês do ano, o que abre o ciclo anual. Porta, então, que se fecha, a do ano findo; e porta escancarada, a do ano a começar.
Escancarada para quê? – gostaríamos de saber. E nunca saberemos com antecipação.
E quem será o porteiro? Sempre me encantaram os porteiros de libré: dum hotel, duma casa nobre, dum banco, dum ministério… Sempre atenciosos, sobretudo os dos hotéis, que os demais se importam mais em dar lustre aos seus galões, raramente esboçam sorriso, fazem-se caros. Só lá entra quem eles autorizem, pois então! Os dos hotéis não: apressam-se, solícitos, a abrir a porta às madamas, afáveis, sabem cumprimentar em várias línguas. Uma sedução de emprego!
Direi que, por falar em portas, a que, até agora, mais se seduziu, pelo seu significado histórico e sua inigualável beleza foi a da antiga Babilónia, que se reconstituiu no museu Pérgamon, de Berlim. A gente avança devagarinho pela avenida faustosa e dá com a porta no fim. Maravilha!...
Palmilhando outras artérias, encanta-me também, confesso, ler, na minha carta de condução, que o meu concelho é Alportel. Não deve ter havido tempo nem disposição nem, se calhar, espaço para porem, como deveria ser, S. Brás de Alportel. E não haverá duas opiniões: Alportel quer dizer isso mesmo, a porta. A porta para lá – a serra, o Alentejo, a capital longínqua; a porta para cá – até à beira da Ria Formosa.
Precisamos, porém, de porteiros. Com uma função diferente da habitual. Abrirem portas, sim, para que entrem; e saberem criar argumentos convincentes para que não haja portas de saída.
Não, «Janus» não pode mesmo ser divindade a destronar o nosso santinho S. Brás. E vamos prometer a este (pomos-lhe umas velinhas!) ser de Alportel bons porteiros, de libré, para atrair pessoal e seduzir com cara de Jano jovem – afável, voluntarioso, acolhedor!...

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 314, 20-01-2023, p. 13.

«Desligado do serviço»

            Um amigo meu solicitara a aposentação, por reunir as condições necessárias e suficientes para o efeito. Acaba de receber a resposta da Caixa Geral de Aposentações e da instituição de que é técnico superior: va
i estar «desligado do serviço» a partir de 1 de Fevereiro próximo.

            Assim: «desligado do serviço»!
            Neste tempo das informáticas, em que a corrente eléctrica é fundamental, a passagem à aposentação não poderia, portanto, equivaler a algo menos elucidativo: «desligado do serviço». Como uma ficha, um computador. Deixa de estar ligado à corrente e, das duas uma, ou deixa de funcionar e morre ou corre a ligar-se a outra tomada!...
            Aqui há tempos (eu creio já ter contado esta história várias vezes, tanto ela me chocou), precisámos de saber o contacto de um docente da Universidade do Porto, para uma comunicação de serviço. Acabara de se aposentar e a resposta foi:
            – Não temos os contactos. Esse professor já foi abatido.
            A um desligaram-no do serviço; a outro, abateram-no!
            Nada se faz por menos! Tanto um como outro estiveram quatro décadas a servir dedicadamente a instituição. Que interessa isso? Por sinal, também eram pessoas e não robôs. Que interessa? Desligam-se! Abatem-se!
            Portanto, vocês, meninos, que estão no poder, que ainda têm emprego e trabalho, acautelem-se! De um momento para o outro, vão ser abatidos ou desligam-vos da corrente. Com uma agravante, sabem? É que ambos estes meus amigos foi deles que partiu a iniciativa de se aposentarem antes dos 70 anos. A vocês – os que ora têm na mão o botão de desligar ou a metralhadora para o abate – é bem provável que nem vos seja dada a hipótese de escolher: de um dia para o outro, sem aviso prévio, a ficha cai ou a metralhadora dispara, fatal!

                                                                                   José d’Encarnação

Publicado em Duas Linhas, 21-01-2023: https://duaslinhas.pt/2023/01/desligado-do-servico/

           

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Mangando, mangando… as sentenças se vão dando!

            Pode, num primeiro momento, ser um sorriso que desponta ou, até, uma gargalhada boa. Acha-se piada e, porventura, nem se enxerga de imediato o âmago da questão. Haverá, contudo, um dia em que a imagem sai, mui sorrateira, do inconsciente para onde rapidamente a havíamos alijado e entra, pé ante pé, no domínio do consciente, a obrigar-nos a pensar.

            Recordo, amiúde, uma das últimas entrevistas de Manuel da Fonseca, em que, a dado passo, confessa ao entrevistador:
– Uma das coisas que mais me impressiona é a pressa em que as pessoas andam na rua, sem olharem para nada, é só andar, andar!
Não terão sido estes os termos exactos; na altura, não tive o cuidado de anotar a fonte. Manuel da Fonseca, de Santiago do Cacém, o grande evocador da «Planície Heróica», morreu em 1993; vivera ele os nossos dias e não só se impressionaria, como era capaz de ficar estarrecido. Aliás, tudo nos convida agora à velocidade, ao não «perder tempo», como se o tempo se pudesse perder… «Precisas de dar maior velocidade ao teu motor de busca, homem! Isso está duma lentidão de morte!...».
            E ocorre perguntar: ¿Ter mais uns segundos… para quê? Para melhor dominares o fluxo do teu pensamento? Sim, que esse fluxo pode dominar-se, sabias? E dá muito jeito, quando vamos no autocarro ou quando esperamos por ele ou enquanto o almoço não chega… Será ocasião de alinhavar ideias, arquitectar planos…

            Duas imagens mui positivamente me surpreenderam há dias e não posso deixar de as partilhar: o letreiro à entrada dum restaurante e a frase da rolha dum vinho. O letreiro, pelas razões lógicas: o ar de brincadeira das frases escritas como a gente as pronuncia, uma brincadeira de alcance bem profundo, já se sabe; o caso da rolha, porque, ao jeito alentejano, devagar, devagarinho, como se diz das gentes de lá, agarra no conceito (como eu gosto, agora, desta palavra tão na moda!...) e faz através dele sugestiva publicidade.
            Abençoados!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 837, 15-01-2023, p. 11.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Portugal dendrodescoberto

            Esse, o título deste ano do habitual cartão de boas festas do Doutor Jorge Paiva, botânico, da Universidade de Coimbra. Mais um alerta para os erros cometidos ao longo de séculos.

A mostrar como a desflorestação contribui – eficazmente! – para a progressiva aridez do solo. Não se favorecendo a plantação de árvores capazes de proporcionarem a fixação de mais e variadas espécies vegetais, o desastre ecológico está à vista – e mostra Jorge Paiva a fotografia do Pico da Nevosa, Serra do Gerês: «deserto rochoso, sem árvores nem arbustos». Incêndios, cheias, intenso desequilíbrio climático…
Há que limitar drasticamente a opção por pinheiros e por eucaliptos («facilmente inflamáveis pela elevada concentração de produtos aromáticos voláteis dos eucaliptos e resina dos pinheiros») e privilegiar espécies como o castanheiro, a azinheira, o sobreiro… Aliás, o caminho a seguir está devidamente sinalizado, toda a gente o conhece, falta é vo
ntade política para por ele decisivamente se encarreirar.
            E o Doutor Jorge Paiva bem o verbera:
            – «o abandono a que foram votadas as serras pela diminuição de técnicos florestais»;
            – «como já não há Serviços Florestais»…
            Por isso, «um país florestal que éramos está a transformar-se num Portugal dendrodescoberto (do grego dendron = árvore), sem água e com enorme perda de biodiversidade».
            Daí o seu voto: «Que a época festiva do final do ano ilumine a consciência de todos para que não se continuem a destruir e poluir os ecossistemas naturais».
E não são apenas as montanhas do Norte e Centro do país. É um dó d’alma ver olivais e mais olivais, a perder de vista, nas terras alentejanas!... Rega gota a gota, oliveirinha ao pé de oliveirinha, para se carregar de azeitona. Nada mais no chão. Nem erva nem bicheza – que nem para os bichos comida há! Uma dúzia de anos, uma fartazana! Depois, amigos, já não rende, a teta secou, ala que se faz tarde!...

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº, 01-01-2023, p. 11.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

A inveja, a cobiça, a delação

            Estavas, linda Inês, posta em sossego, de teus milhares antevendo o doce fruito, quando uns miseráveis queixinhas puseram a boca no trombone, deitaram tudo a perder e foi o escarcéu que se viu…

Já na Guerra dos Cem Anos (1337-1415), entre a Inglaterra e a França, uma outra heroína, Joana d’Arc (1412-1431), os soldados seguiram-na com fervor, até que alguém (sempre a inveja!...) ciciou que havia bruxaria pelo meio e a pobre acabou por ser queimada na fogueira.
Do cavalo-marinho do pai escapou à justa o Toninho, de 9 anos. Combinou com a Maria encontrarem-se naquele recanto fofo da seara do Ti Alfredo. Encontraram-se, deve ter sido bonito para a idade, mas logo adregou passar por perto uma vizinha, que viu os dois enlaçados e correu a meter tudo nas saias da mãe da Maria. O Toninho jurou a pés juntos que até nem conhecia bem quem era essa Maria e, não senhor, nada fizera. O pai sentenciou-lhe então, pela primeira vez, «brincar, brincar, mas na gaita não tocar!». E perdoou-lhe.
 
 
 
Nos tempos da Inquisição, também era assim. Não de guerras nem de amorezinhos em loiras e mornas searas, mas de milhares como os de Inês. Aquele marmanjo está a sair-se demasiado bem nos negócios, o melhor é a gente acusá-lo de ser cristão-novo e de andar por aí em rezas às escondidas. Se calhar, até alguns dinheirinhos dele nos podem calhar pela denúncia. Atire-se o homem prá fogueira!
E há também aquele outro senhor, o da guerra santa – como a dos cruzados da Idade Média – que já o disse alto e bom som: «Descubram-me os traidores! Digam-me já quem é que anda praí a murmurar contra a minha guerra! Eu recompenso!».
 
 
 
Enfim, o estilo de todos os tempos!
 
        
  Lançou-se a minha amiga Maria Federica Petraccia, da Universidade de Génova, à descoberta de como é que esses guisados se cozinhavam na Roma antiga. Daí nasceu o livro Indices e Delatores nell’Antica Roma. Indices eram, ao que parece, os que, tendo participado no crime, acabavam por fornecer dados para que o processo chegasse ao fim e eles ficassem ilibados ou, pelo menos, com penas aliviadas. Delatores, ao invés, eram os que andavam de fora a farejar, nada os havia prejudicado, mas decerto lhes caberia algum provento se denunciassem o escravo fugitivo, as heranças ocultas ou sem pretendentes…
            Tem-se mesmo a ideia, escreve Federica Petraccia, que uma forma de então se andar protegido era confiar-se a informadores profissionais, esses delatores. No reinado do primeiro imperador, Augusto, os delatores foram extraordinariamente eficazes, sobretudo para revelarem tentativas de assassinato do imperador e para controlarem as multidões. Houve inclusive uma lei, a lex Iulia maiestatis, que estipulava, no ano 8 antes de Cristo, ser crime contra o Estado a injúria verbal ou a simples calúnia contra o Príncipe ou, ainda, a difamação dos membros da sua família. (¿Não se condenava recentemente quem ousasse pronunciar a palavra «guerra»?).
            O segundo imperador romano foi Tibério, reinou de 14 a 37 da nossa era. No seu tempo, «as acusações pululavam nos lugares públicos e nas casas particulares e até os senadores mais respeitáveis se abaixavam às mais vergonhosas delações, alguns abertamente, muitos às ocultas». Havia uma relação estreita entre o imperador e os delatores, uma relação somente conhecida e documentada nos segredos da chancelaria imperial, «uma espécie de do ut des [«dou-te para que tu me dês», ¿onde é que eu já ouvi isto?...], um instrumento de excepcional pressão política nas mãos do imperador, uma forma de obter reconhecimentos, promoções e riquezas para os segundos».
            Refere-se Federica Petraccia a dezenas de casos ocorridos nesse (já longínquo, repita-se…) tempo dos Romanos. Aludo a três, de índole diversa, só para exemplificar.
            Um, de aspecto agradável, do ano 362, a excepção para confirmar a regra. Dois emissários imperiais que haviam sido dispensados do serviço prometeram ao imperador Juliano revelar-lhe o esconderijo de um certo Florêncio, na condição de o imperador os readmitir. E, aqui, o príncipe não esteve com meias medidas: chamou-lhes delatores e disse não ser conveniente para um Príncipe deixar-se levar por informações indirectas para encontrar quem se escondera com medo de ser assassinado.
            Um outro, de contexto singular. O ex-pretor Paulo estava num banquete e tinha no dedo um camafeu com a efígie de Tibério. A dado momento, já com os copos, pegou num urinol. O caso foi observado quer por Marão, um dos delatores mais famosos da época, quer por um dos seus escravos. Este último apressou-se a tirar-lhe o anel e enfiou-o no dedo, a fim de tornar inconsistente a acusação, que Marão já estava a preparar, de que Paulo encostara às virilhas a imagem imperial!...
 
  
 
           O terceiro faz lembrar a nossa constante busca de um bode expiatório. Corria o ano de 472 a. C. Pairava sobre Roma uma pestilência inaudita: as mulheres grávidas morriam e davam à luz fetos mortos. Quando se haviam esgotado todos os normais procedimentos de expiação, há um escravo que segreda aos pontífices que a vestal Orbínia perdera a virgindade a que estava obrigava e continuava a presidir, assim impura, às celebrações sagradas. Julgada como culpada, vergastaram-na, arrastaram-na através da cidade até ao sepulcro. Um dos dois cúmplices suicidou-se, o outro foi punido como era de lei – e a pestilência acabou!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Duas Linhas, 02-01.2023: https://duaslinhas.pt/2023/01/a-inveja-a-cobica-a-delacao/

 

Detesto ser Dona Maria, pronto!...

Há obras que surgem no momento oportuno, porque os seus mentores reflectem sobre o mundo e lhes pareceu que, de facto, era importante lançar uma pedrada no charco.

É o caso dos temas escolhidos pela equipa da revista Egoísta, chefiada por Mário Assis Ferreira, da Estoril-Sol. ¿Que assunto poderia interessar, sem lamechices, na quadra natalícia? ¿Que personagem ocupa, na celebração, o principal papel? Maria, a mãe! Maria, a consubstanciar, aqui na sua não fácil função maternal, o papel da Mulher.

            «Maria» é, pois, essa evocação de um nome onde cabem, na feliz expressão de Assis Ferreira, «todas as Mulheres do mundo»:

«Mulheres, Mães, que são esteio do que somos e inspiração de amor.

Amor que parece arredado deste conturbado mundo em que a angústia tende a sufocar a esperança».

Desta vez, Mário Assis Ferreira foi parco na introdução: 10 linhas que terminam a sugerir a divinização da Mulher, tal a relevância que lhe deve ser dada – e aqui se dá!

Capa da revista Egoísta

               Com a inesperada maquetização a que a equipa gráfica, chefiada por Patrícia Reis, já nos habituou – é sempre impossível imaginar com que nos vão surpreender!… – este nº 75 de Egoísta, com 124 páginas, reúne colaborações bilingues (português / inglês) de, entre outros:

– Maria Teresa Horta («Maria», poema inédito);

– Afonso Cruz («Nem todas são Marias», com impressionantes fotos de mui expressivas anciãs…);

– Maria do Rosário Pedreira («Maria – Três poemas e uma canção»);

– Inês Pedrosa («Nomes»);

– Maria João Martins («Falar às jovens raparigas em flor»);

– José Eduardo Agualusa  («Gramática do Instante e do Infinito», ilustrado com soberbas fotografias a preto e branco);

– Patrícia Cruz («Eu, Maria, me confesso»);

– Urbano Tavares Rodrigues («Conto de amor»);

– Sérgio Costa Araújo («Do solo árido nasce a aurora», com estampas antigas sobre a vida de Nossa Senhora, no seguimento da passagem 2: 6-7 do evangelho de S. Lucas, referente ao nascimento de Jesus);

– Yvette Centeno (o poema «Maria»);

– Richard Zimler («Paula Rego e a Virgem Maria: de carne e osso»);

– Rainer Maria Rilke («O nascimento de Maria»)…

 

Nota, ainda, para «Madonno», com desenhos de Tomás Castro Neves, texto de Xavier Pereira e fotografia de João Paulo: na sua aparente irreverência, um convite à reflexão, pequenos textos, salpicos de poesia.

Eloquentes, as fotografias de plantas e de flores, de Pedro Serpa.

Termino com a referência ao texto brincalhão de Maria Manuel Viana, «A importância de ser». Não Ernesto, como na peça de Óscar Wilde, mas Maria. E ela diz que quer ser Maria, simplesmente, e não «Dona Maria», como lhe chamam «os operadores dos call centers, o meu carteiro, os funcionários nos guichets,  a minha empregada. E eu odeio. Sou MM e não Maria. Ponto». Para perorar, no final lindo:

«(…) a dupla MM, nome que para mim alguém inventou e de que tanto gosto. MM, aime-aime. Eu, tu, para sempre até morrermos todos e a loucura se esgueirar por entre as palavras».

Em latim, Maria liga-se a mar. O oceano a perder de vista. A Mulher com letra maiúscula em toda a sua infindável extensão…


 
                                                                                      José d'Encarnação