quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Portugal dendrodescoberto

            Esse, o título deste ano do habitual cartão de boas festas do Doutor Jorge Paiva, botânico, da Universidade de Coimbra. Mais um alerta para os erros cometidos ao longo de séculos.

A mostrar como a desflorestação contribui – eficazmente! – para a progressiva aridez do solo. Não se favorecendo a plantação de árvores capazes de proporcionarem a fixação de mais e variadas espécies vegetais, o desastre ecológico está à vista – e mostra Jorge Paiva a fotografia do Pico da Nevosa, Serra do Gerês: «deserto rochoso, sem árvores nem arbustos». Incêndios, cheias, intenso desequilíbrio climático…
Há que limitar drasticamente a opção por pinheiros e por eucaliptos («facilmente inflamáveis pela elevada concentração de produtos aromáticos voláteis dos eucaliptos e resina dos pinheiros») e privilegiar espécies como o castanheiro, a azinheira, o sobreiro… Aliás, o caminho a seguir está devidamente sinalizado, toda a gente o conhece, falta é vo
ntade política para por ele decisivamente se encarreirar.
            E o Doutor Jorge Paiva bem o verbera:
            – «o abandono a que foram votadas as serras pela diminuição de técnicos florestais»;
            – «como já não há Serviços Florestais»…
            Por isso, «um país florestal que éramos está a transformar-se num Portugal dendrodescoberto (do grego dendron = árvore), sem água e com enorme perda de biodiversidade».
            Daí o seu voto: «Que a época festiva do final do ano ilumine a consciência de todos para que não se continuem a destruir e poluir os ecossistemas naturais».
E não são apenas as montanhas do Norte e Centro do país. É um dó d’alma ver olivais e mais olivais, a perder de vista, nas terras alentejanas!... Rega gota a gota, oliveirinha ao pé de oliveirinha, para se carregar de azeitona. Nada mais no chão. Nem erva nem bicheza – que nem para os bichos comida há! Uma dúzia de anos, uma fartazana! Depois, amigos, já não rende, a teta secou, ala que se faz tarde!...

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº, 01-01-2023, p. 11.

1 comentário:

  1. Mais um tema do maior interesse e actualidade, neste texto. E tudo a propósito de um cartão de boas festas recebido pelo autor.
    A floresta protege a camada superior da Terra e além de caracterizar um ambiente e determinar a sua vida socioeconómica, é um recurso que tem um prazo, não sendo facilmente renovável.
    O que pode ser salvo, enquanto é possível reflorestar, é através de escolhas inteligentes das espécies vegetais, aqui das árvores adequadas ao meio.
    Grécia, o Peloponeso, é bem um exemplo de como guerras antigas constantes, incêndios premeditados e devastação, deixaram zonas sem floresta,
    Uma vez mais o próprio homem, por ignorância ou má intenção, acaba por ser a maior ameaça ao equilíbrio da biodiversidade.

    ResponderEliminar