quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sacar, sacar… ensacar!

Depois de, durante anos a fio, os prémios maiores dos concursos serem sempre automóveis e ter automóvel ser, por isso, a ambição maior de cada cidadão desde a juventude, hoje esse bicho é dos que mais rendimento dão ao Estado e seus parceiros na lide do sacar, sacar e… ensacar! E até com a desgraça se saca.
O facto de o novo hospital de Cascais ter estacionamento automóvel pago foi alvo de contestação por parte da CDU no próprio dia da inauguração e o assunto debatera-se na reunião camarária de 22 de Fevereiro (sigo a minuta da respectiva acta), tendo a senhora vereadora do partido do Governo afirmado que «de facto parece ser indispensável haver uma bolsa de tempo de estacionamento não pago, para aqueles que vão levar doentes de urgência por exemplo […]. Daí lhe parecer ser necessário – e já falou, aliás, com a administração do Hospital – que seja negociado com a empresa detentora do parque de estacionamento para que haja, pelo menos, meia hora de estacionamento não pago, no início, para garantir a fluidez do trânsito».
Respondendo, o Sr. Presidente da autarquia fez questão de frisar que «nenhum estabelecimento de saúde público na Área Metropolitana de Lisboa tem estacionamento gratuito; ou seja, ou não tem estacionamento ou tem estacionamento pago, à excepção do Hospital Amadora-Sintra, que também é um contrato de concessão, mas aí o Estado previu o estacionamento gratuito, mas em Cascais previu o estacionamento pago. Portanto, quando os privados subscrevem com o Estado um contrato que prevê um estacionamento pago, não se pense agora que, sem qualquer contrapartida, os HPP vão autorizar meia hora de estacionamento gratuito, a não ser que o Estado os compense desse ónus. Pessoalmente, até está de acordo com a ideia da existência de meia hora ou mesmo uma hora gratuita, ou pelo menos a uma taxa reduzida e está pronto a aceitar essa situação, se for essa a vontade dos HPP e do Governo. Mas para isso é preciso que quem negoceia estas coisas tenha isso em consideração, porque depois é mais complexo resolver essas situações».
Está certo. Negociou-se. Negociaram. Alguém negociou. Foi… um negócio!

Publicado no Jornal de Cascais [Cascais], nº 226, 29-06-2010, p. 6.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Monstro… e companhia


Solicitou-me Luís Ribeiro, jornalista da revista Visão, que lhe desse a minha opinião acerca de Estoril Sol Residence, para incluir no texto que viria a ser publicado no nº 901, de 10-06-2010, dessa revista, sob o título «Monstro e… companhia».
Do meu testemunho, transcreveu a seguinte passagem, inserida na p. 111, ao lado da de Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Graça Moura e Eugénio Sequeira:

«Tal como sempre achei desenquadrado da paisagem o Hotel Estoril- Sol, assim considero que esta obra é um excelente exercício arquitectónico para ser feito… na savana, para repouso no intervalo de um safari!... Diz-se que os espaços deixados entre os paralelepípedos e que vão ser preenchidos por árvores emprestarão leveza ao conjunto; mas, havendo ao lado um hotel, cujo arquitecto soube adaptar a traça ao declive do terreno, estranha-se que a mesma concepção arquitectónica não tenha sido seguida ali. O caso, porém, é que, assim, o Senhor Arquitecto não seria... original!
Esta discussão, aliás, de nada serve agora, porque a obra está feita. E vai ser nova atracção turística cascalense – infelizmente, pela imagem negativa que oferece. Sentimo-lo todos os dias, quando nos passeamos no paredão e vemos os turistas a fotografar e... a abanar a cabeça!»

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Dois vultos, duas memórias

Na assembleia geral da Misericórdia de Cascais, foi votado, no dia 27 de Maio, um voto de pesar pelo falecimento de Inácia França Félix, irmã da Santa Casa. Foi só aí que soube do infausto desaparecimento e elevei uma prece pelo seu eterno descanso. Soube depois que o Senhor Presidente da Câmara mandara distribuir pela Comunicação Social, a 30 de Abril, data do funeral da munícipe, uma mensagem – que, ao que parece, não terá sido publicada – onde, nomeadamente, referiu que Inácia França Félix «deixa na Vila de Cascais uma imensa saudade, sobretudo pela sua presença afável e simpatia irradiante», acrescentando:
«Há muito que nos havíamos habituado às suas oportunas intervenções em praticamente todas as reuniões públicas da Câmara Municipal, pugnando invariavelmente pela melhoria das condições de vida dos munícipes e da qualidade do espaço público. Foi uma verdadeira porta-voz do Povo da Vila de Cascais. A sua acção foi, aliás, reconhecida em 1997 pela Câmara Municipal de Cascais com a atribuição da Medalha Municipal de Mérito e Dedicação. A sua memória será também recordada no futuro com a atribuição do seu nome a uma rua da Vila.»
Aliás, idêntica atitude teve na sessão camarária de 3 de Maio, em que foi por unanimidade formulado um voto de pesar, com intervenções concordes de seis vereadores.
No dia 7, após a sessão de entrega de medalhas de mérito, perguntei a Toni Muchaxo pelo comum Amigo João Soares, do Hotel Baía (nestas ocasiões, sentimo-nos ‘mais Cascais’ e damos mais pela falta deste ou daquele, membros activos da nossa comunidade…). «Já partiu!», respondeu-me. Também de nada soubera. Vi agora na Internet a comunicação da ADHP – Associação dos Directores de Hotéis de Portugal, datada de 10 de Fevereiro, dia do seu passamento.
Nada vi escrito nos jornais locais (aqueles a que vou tendo acesso, mormente quando me desloco a sítios públicos da vila…). Certamente o funeral foi sentida manifestação da tristeza que todos sentimos pela perda de mais um homem bom da vila. Que também ele descanse em paz!
Mas estes dois casos fazem-me perguntar: será que as entidades que nos regem ainda não repararam no vazio que se está a criar com a falta de informação que rapidamente circule e ajude a cimentar a indispensável comunidade?

Post-scriptum: Já foi substituída a placa informativa do Parque Natural Sintra-Cascais, que se encontrava partida junto à Boca do Inferno e a que nos referimos a 23 de Março e 25 de Maio.

Publicado no "Jornal de Cascais" nº 224, 15-06-2010, p. 6.

«O Estado não é pessoa de bem!»

A frase foi repetida, mais uma vez – ela é tão conhecida que corre, infelizmente, o risco de não se lhe ligar a importância que tem – na última assembleia-geral da Misericórdia de Cascais, por um dos irmãos, em jeito de comentário ao facto de a Mesa Administrativa ter decidido denunciar o acordo que celebrara com o Estado no que concerne a prestação de Cuidados Continuados na Residência Sénior, em Alcoitão.
Celebração com pompa e circunstância e presenças amáveis de responsáveis de Lisboa, justamente por ser essa uma das valências mais carenciadas no País e, sempre que uma se inaugura, soam trombetas e proclama-se generosidade governamental, a sua atenção solícita aos idosos e doentes mais necessitados. A Santa Casa acreditou e… viu-se a braços com o avolumar de dívidas, porque o apoio contratado vinha tarde e a más horas ou… ainda estava para vir! Só em fraldas já eram uns milhares!...
O assunto fora, aliás, tema de debate na reunião camarária do dia 22 de Fevereiro, curiosamente por iniciativa da vereadora do partido do Governo: importaria dar a oportunidade, disse, «de se completar este Hospital [o novo, a inaugurar no dia seguinte] com hospitais de retaguarda ou hospitais de cuidados continuados», «em particular as instalações do ex-Hospital Ortopédico José d'Almeida, que vão ficar disponíveis» assim como as do ‘velho’ hospital.
Em resposta, o Sr. Presidente retorquiu «que a opção do Governo foi o de não aproveitar as instalações sobrantes do Centro Hospitalar de Cascais para esse efeito e sim estabelecer contratos com instituições particulares de solidariedade social, no sentido de, em pequenas unidades, alojar as pessoas para estes cuidados continuados». «Por outro lado», continuou, «o acordo feito com a Santa Casa da Misericórdia de Cascais está em perigo, pelo simples facto de que a Câmara de Cascais subsidia fortemente o funcionamento do Lar de Alcoitão, evidentemente para facilitar que munícipes do Concelho possam utilizar aquelas instalações. Mas entretanto a Misericórdia, com a concordância da Câmara, celebrou um acordo com o Estado para um conjunto não despiciendo de camas para cuidados continuados e o que se constata agora é que […] muito provavelmente nos próximos dias a Santa Casa da Misericórdia vai acabar com o acordo porque, em primeiro lugar, o Estado não lhe paga desde que aquilo abriu e, em segundo lugar, constata-se que doentes oriundos de Cascais é raro irem para lá e isto sucede porque a gestão não está entregue às autoridades de saúde do Concelho de Cascais».

Publicado no Jornal de Cascais, nº 225, 22-06-2010, p. 6.

domingo, 13 de junho de 2010

«Deserto, deserto»


Terminou no domingo, 30, com a presença do autor do texto, o francês Jean-Pierre Renault, a apresentação, pelo Teatro Experimental de Cascais, da peça «Deserto, Deserto». Gostaria, naturalmente, de a ela ter aludido durante o tempo em que esteve em cena, pois, assim, poderia animar o leitor a não perder mais esta oportunidade de ver como Carlos Avilez, depois de longa maturação – «Durante anos esperei para concretizar este projecto considerado irrepresentável pelo autor» –, mais uma vez nos surpreende: na concepção das personagens e, sobretudo, no ambiente, um verdadeiro areal (é deserto!...), em que as faz movimentar.
Miguel Graça, no programa, interroga-se sobre se estaremos em presença de uma comédia ou, de preferência, de uma «tragédia cómica». Na verdade, o que ali se revive, em magistrais interpretações, pela boca de seis actores cómicos redivivos – Totó (António Marques), Pamplinas (Sérgio Silva), Harpo Marx (Paulo B.), Jacques Tati (Luiz Rizo), Karl Valentin (Santos Manuel), Lies Karstadt [«Liza»] (Anna Paula) –, são as suas angústias, os momentos de glória, recordações… Como se, mortos há muito, lhes apetecesse continuar entre os vivos…
E o deserto presta-se para isso, porque, como se sabe, quando a noite cai, há animais que saem das tocas e dão acordo de si, mostrando que, afinal, deserto não é morte eterna, não! Há, ali, uma vida subjacente – e os actores metem-se em tocas e de lá nos falam, como se em sepulturas estivessem. E até, depois, aparece um menino (Diogo Carmona), que os ouve, numa admiração, sem saber exactamente quem são as personagens estranhas, que nem falam com lógica – porque, se calhar, acabaram por verificar que não há lógica possível numa existência como foi a deles, como o é a nossa…
E aos dias sucedem-se as noites. Sete, ao todo – como os dias da criação do mundo (diz-se!...). Quando a cortina corre, vêm as desejadas palmas, sim, mas cada um de nós leva para casa essa imagem de alguéns que foram e já não são. Ou será que continuam a ser? E essa é uma representação fictícia ou um retrato verdadeiro dos actores que todos somos no palco da vida?
Gostaríamos de conhecer mais, de poder pensar melhor. No programa vem a vida atribulada de cada um dos seis actores. Todos da 1ª metade do século XX. E ficamos a saber que Jean-Pierre Renault escreveu a peça «em 1988 na primeira noite de uma residência artística de quatro meses na Cartuxa de Villeneuve lez Avignon». Começara o seu retiro e arrastava consigo, sem dúvida, todas as angústias existenciais de que esperava ali libertar-se. «Deserto, Deserto» foi o primeiro impulso dessa libertação!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 223, 08-06-2010, p. 6.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Museus em Portugal: um crescendo exponencial

Quando, em 1972-1973, concluí, no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), o Curso de Conservador de Museus, dava a Museologia em Portugal os seus primeiros passos no sentido de uma reformulação das técnicas expositivas, dos conteúdos, da abertura do Museu à comunidade, designadamente à comunidade escolar através dos Serviços Educativos, que estavam então a iniciar-se.
Criara-se, a nível internacional, o ICOM (International Council of Museums) e, entre nós, a APOM (Associação Portuguesa de Museologia), de que me orgulho de ser o sócio nº 17, congregava as pessoas directa ou indirectamente ligadas à problemática museológica, na linha do que o grande mestre João Couto, director do atrás referido Museu Nacional de Arte Antiga, preconizava.
O fermento lançado nesse dealbar da década de 70, a que os ideais de Abril de 74 deram força, acabou por obter excelentes resultados, mormente porque o Museu Gulbenkian, inaugurado em 1969, criado de raiz segundo uma concepção totalmente inovadora e a sua equipa depressa foram considerados pioneiros na solução de muitos dos problemas que afectavam os museus, nos seus mais variados aspectos.
O Museu Monográfico de Conimbriga (criado em 1962) foi então renovado já dentro das novas concepções museológicas. As teorias dos ecomuseus começaram a ser postas em prática no Ecomuseu do Seixal, na margem esquerda do Tejo. As equipas dos próprios museus nacionais repensaram a reestruturação urgente a fazer.
Surgira, entretanto, no seio da Secretaria de Estado da Cultura, o Instituto Português do Património Cultural, com uma secção especialmente dedicada à Museologia, hoje Instituto dos Museus e Conservação, organismo que – com a criação da Rede Portuguesa de Museus e as publicações e iniciativas a que prontamente os seus dirigentes lançaram mão – imprimiu um dinamismo imparável quer aos museus dependentes do Estado quer, concomitantemente, aos museus regionais e aos museus dependentes das autarquias e, até, das empresas.
Cinco aspectos há, pois, a referir:
1º) Nos últimos anos, diversas universidades portuguesas (Coimbra, Évora, Universidade Lusíada e Universidade Nova de Lisboa, por exemplo) criaram cursos especificamente destinados a formar pessoal técnico especializado em Museologia, sendo já muitas as dissertações de mestrado e, até, de doutoramento, defendidas e inclusive publicadas. E revistas especialmente dedicadas a temas museológicos.
2º) Estar integrado na aludida Rede Portuguesa de Museus oferece a um museu, para além do prestígio, uma série de prerrogativas, pois essa integração obedece a uma série de prévios requisitos, fundamentais numa instituição museológica. Por isso, o movimento de renovação tem sido muito grande e eficaz.
3º) A crescente globalização, com o seu carácter uniformizador, também aqui tem exercido benéfica influência, pois cada vez mais se privilegia a identidade local, o que traz como consequência a criação de inúmeros museus locais, a maior parte das vezes ligados em rede como pólos museológicos, tendo em vista uma melhor gestão e dinamização.
4º) Deixaram de ser os museus locais passivos, aonde se vai uma vez e… fica visto! As iniciativas – quer no âmbito dos Serviços Educativos quer no que concerne às exposições temporárias (cada vez mais cuidadosamente preparadas) – multiplicam-se.
5º) Existe, entre outros, como privilegiado veículo de comunicação e informação entre museus e o público, a lista museum, com o endereço museum@ci.uc.pt. Criada em final de Dezembro de 2006, tem, neste momento, 776 membros e através dela já foram difundidas, até às 17 h de 10 de Janeiro de 2010, 3356 mensagens, cujo arquivo pode ser consultado em: http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/museum/
Enfim, constituem os museus em Portugal uma realidade com as dificuldades próprias de todas as instituições culturais da Europa comunitária, mas cujos responsáveis teimam em não cruzar os braços perante as adversidades!


Publicado em Portugal-Post [Hamburgo], nº 47, Maio de 2010, p. 11 e 12.
[versão portuguesa com tradução em Alemão].

Imagem, eficiência e... desmazelo!


A 23 de Março, publicou Jornal de Cascais a fotografia do painel que, na Boca do Inferno, explica a fauna e a flora do local, paisagem protegida. Mostrava-se que estava partido. Hoje, 23 de Maio, partido lá continua. Entretanto, milhares de turistas desembocaram ali, trazidos por centenas de autocarros. E ficaram, certamente, com uma imagem de desmazelo das nossas autoridades.
Não conseguiam arranjar substituto em curto espaço de tempo, tanta é a burocracia deste País para acções desse jaez? Retiravam-no! Ah! Mas aí é que a porca torce o rabo! Retirava quem? A Capitania do Porto de Cascais? A Câmara? Os senhores da Paisagem Protegida?... Pois. Colocar, alguém colocou, com uma ordem expressa; agora, sabe-se já lá quem foi? E o espantalho vai lá estar o Verão inteiro, numa terra que vive do turismo, numa zona de visita obrigatória – para tristeza de todos nós… São demasiado complicadas as coisas simples!
Outro dia, a Fernanda deu uma saltada ao Norte do País e entrou numa sapataria. Acabou por fazer compras, porque os modelos eram do seu agrado e o preço assaz convidativo. Em conversa com o proprietário, que foi quem a atendeu, este, ao saber que viera de Cascais, disse que pensara em montar estabelecimento na zona. Entrara numa loja, onde as duas empregadas continuaram sentadas enquanto ele via os modelos e, a dado momento, inclusive uma delas saiu para ir fumar um cigarro.
Perante atitudes destas, a que teve ensejo de assistir noutras lojas, disse de si para consigo: «Livra! Deixa-te estar onde estás!».
Brio profissional precisa-se! E quando paira no ar a ameaça de despedimento, aqui d’el-rei, são todos uns…!
Era outro o ambiente, porque o regime totalitário tudo garantia e tudo orientava e, por isso, a motivação era nula; contudo, tudo isso me faz lembrar a cena, em Setembro de 1987, numa loja em Sófia (Bulgária): a menina que nos estava a atender, a determinado momento, sem mais nem menos, voltou-nos costas e foi calmamente conversar com a colega – e nós ficámos a olhar uns para os outros!... O partido pagava-lhe o ordenado, ainda que parco, ela não ganhava nada com estar a aturar estrangeiros e… pronto!
Repito: brio profissional precisa-se!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 221, 25-05-2010, p. 6.

Olhar para a Páscoa, saudar o presente, salvaguardar o passado

Usei, desta feita, título inusitadamente grande, porque quero dar logo nele a ideia a transmitir.
Não vou fazer a recensão crítica do livro «Páscoa no Algarve – Procissão das Tochas Floridas», da autoria dos irmãos José e Afonso da Cunha Duarte, sacerdotes espiritanos em serviço na nossa terra, porque outra é, de facto, a intenção, tanto mais que, magnificamente ilustrado e documentando as tradições das terras algarvias, merece demorada análise.
Salientarei, pois, esses três aspectos somente:
– Nas suas 368 páginas, a obra ajuda-nos a olhar para as festividades pascais sob outra luz, que não apenas a da festa e do variegado colorido das flores: há o multissecular ritual da Primavera, a simbolizar uma renovação que, momento a momento, se impõe...
– E saudamos o presente, porque os autores souberam «pôr gente dentro» das palavras: rostos daqui e dali, mãos que labutam, olhares que confiam, esperanças que se acalentam, nomes que se conhecem.
– Passando a tradição a escrito, de uma forma palpável, salvaguarda-se a tradição, sentimo-nos irmãos dos que já partiram e que comungaram, também eles, desse alvorecer radioso.
Perpassa por ali, afinal, a alma de todo um Povo!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 137 (Junho 2010) p. 10.