José d'Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 328, 2020-11-25, p. 6.
José d'Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 328, 2020-11-25, p. 6.
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], 20-11-2020, p. 13.
Inesperadamente, olhei para o chão, movido apenas pelo instinto de saber onde é que iria pôr os pés. E ele lá estava, todo ufano, no seu elegante chapéu. Fiquei parvo: ali, entre as pedras da calçada! Nenhum humano o pisara, nenhum cão lhe pusera o focinho em cima, nenhum rodado de carro o esmagara! Resplendor selvagem na praça dum bairro suburbano! Fotografei-o, claro, que essa inusitada presença não podia deixar de se registar! E lembrei-me que, ainda há pouco, na 1ª semana de Novembro, no noticiário da RTP 1, uma senhora mostrara um exemplar magnífico!
Em contrapartida, os deliciosos aperitivos em Oviedo, nas Astúrias, acompanhados por uma sidra escorropichada a preceito naquele ritual de que os empregados sempre gostam de fazer gala. Aperitivos e refeições! Que, nas Astúrias, pode fazer-se uma refeição inteirinha só de cogumelos, cozinhados das mais diversas maneiras e das mais variadas qualidades! «Setas» lhes chamam – e que delícia!
Entre nós, só muito recentemente os cogumelos começaram a ser apreciados na culinária, embora, na maior parte dos casos, no-los sirvam de conserva, laminados, sem aquele sabor forte do cogumelo selvagem.
Por isso, onde eles abundam e era tradicional a sua apanha pelos particulares – e o pessoal sabia distingui-los bem – os municípios descobriram que seria bom favorecer o seu aproveitamento, até numa lógica de património gastronómico. Organizou-se em Foios (Sabugal), a 24 de Outubro de 2009, a Jornada Micológica, com o objectivo de «aprender a conhecer mais e melhor os cogumelos», sob orientação do Engº Gravito, «técnico do Ministério da Agricultura e especialista nesta matéria», que procedeu à «verificação e classificação» do que se colhera. Os participantes haviam sido convidados a vir munidos de «uma cesta, uma navalha e um pau»! Também a Câmara de Portel organiza passeios temáticos «Pela serra, à descoberta das silarcas»; o de 4 de Abril de 2009 foi acompanhado pela bióloga Celeste Silva.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 787, 15-11-2020, p. 11.
Confesso-me fascinado com a iniciativa de as aberturas de um programa televisivo serem preenchidas, ainda que por escassos minutos, por uma coreografia. Também atuações de cantores são mui frequentemente sublinhadas por um corpo de baile. Encantam-me as interpretações coreográficas de uma Companhia Portuguesa de Bailado, por exemplo – e cito estas por serem as que melhor conheço. O coreógrafo a dar forma física a uma melodia, a imaginar os mundos, os gestos, as ideias quiçá sonhadas pelo compositor…
Diariamente se salienta, neste período pandémico, o papel imprescindível que a Arte nas suas mais diversas modalidades tem desempenhado e continuará a desempenhar. Aqueles músicos vizinhos que decidem ir para a varanda e tocam durante largos minutos para delícia da vizinhança, a distraí-la dos males quotidianos…
Encanta-me, por isso, que no concurso televisivo Got Talent (só não gosto é do anglicismo, mas isso é outra ‘música’!...) apareçam artistas circenses, bailarinos (aquele ‘menino’ português que tem dado cartas a nível mundial, António Casalinho), grupos de dança…
O filho de uma colega minha estudou violoncelo no Conservatório de Lisboa. Ao fim-de-semana lá ia ele, de comboio, a caminho de Coimbra, sempre de pé, porque no comboio não havia espaço para o contrabaixo. Admiro-o e é bom ver como este instrumento está a ser cada vez adotado para acompanhar inclusive fadistas. A sua sonoridade cava empresta ao conjunto dos instrumentos melancólica profundidade quentinha…
Sónia é uma dinâmica amiga minha. Uma fura-vidas. Por isso – ou talvez não por isso, que a vida está repleta de surpresas e ainda bem, para quebrar eventuais monotonias… – dei com ela, outro dia, a mudar de casa.
– Mudaste de casa outra vez? Arrumações de novo, claro, caixotes, malas, onde é que eu vou pôr isto…
– É verdade, mas tem que ser. Digo-te, porém, uma coisa: os quadros já estão nas paredes!
Congratulei-me. No meio das confusões, queda o olhar na paisagem preferida, naquela simbiose de cores que fomentam serenidade… Bravo, Sónia!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 786, 01-11-2020, p. 11.