quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Uma placa, uma ideia!

             Estamos habituados a conviver diariamente com placas escritas: a identificação de um prédio, o nome duma rua, a designação duma localidade. Não podemos prescindir delas para nos orientarmos em viagem ou mesmo em mera deslocação pelo labirinto duma cidade. Até na mais singela aldeia, de poucas ruas e casas, a placa inscrita se tornou imprescindível.
            Somos capazes de ajuizar do bom ou mau governo de uma freguesia, dum município, duma instituição pela adequada distribuição dessas placas em sítios estratégicos, de maneira a facilitar a mobilidade dos cidadãos, pressionados sempre, como estamos, pela tirania do tempo.
            No caso das placas toponímicas, agrada-nos verificar, por exemplo, que o Executivo municipal optou, em determinado momento, por uniformizar o modelo adoptado, quer do ponto de vista tipológico quer textual. Assim como uma imagem da marca!
            No caso da toponímia cascalense, em boa hora se escolheram as placas azulejadas, de ressonância antiga na sua decoração e no tradicional predomínio do azul na pintura dos caracteres, habitualmente encomendadas a uma das fábricas concelhias especializadas nesse tipo de preparação, na senda do que foi outrora a célebre e nunca olvidada Fábrica da Viúva Lamego.
            É, sem dúvida, privilégio nosso percorrer o território do município cascalense e encontrar por toda a parte o mesmo modelo, com esse ar antigo, a recordar-nos que estamos numa zona onde se preza a memória, a identidade.
            Se, no entanto, o modelo se mantém e não oferece qualquer dúvida a sua confecção inclusive em termos de medidas, o mesmo não acontece com o texto, que tem de ser pensado. Ou seja, consciente ou inconscientemente, há uma mensagem a transmitir!
            Para já, na escolha do texto, na sua paginação. Depois, porque, por detrás desse texto, há algo que se quer dizer. Por exemplo, se se indica a profissão da pessoa que deu nome à rua, é porque se deseja acentuar ter sido no exercício dessa actividade que se notabilizou e é por isso que a julgamos digna de recordação.
A placa que ora foi removida
            Na porta de entrada do Palácio dos Condes da Guarda, em Cascais, sede da Câmara Municipal, havia uma placa dessas, que dizia «Município de Cascais». Cá está um dos casos em que se não pensou bem. É que o palácio não é… o Município de Cascais! Aliás, mesmo que o fosse, para que serviria escrever «Cascais» se era em Cascais que se estava?!... Na verdade, vinham, de seguida, por esta ordem, as expressões «Ayuntamiento», «Mairie», «Town Hall», «Rathaus», cuja tradução em português é «Paços do Concelho».


            Demorou anos a substituição, mau grado as críticas feitas e publicadas.
            Congratulo-me vivamente com o facto de, conjuntamente com a inauguração do esplêndido Museu da Vila, no passado sábado, 26 (uma visita imprescindível para todo o cascalense que se preze!), se ter feito a correcção. Por agora, enquanto a nova placa se faz, lá está um totem, com tudo como deve ser. E, embora neste momento, já não sejam os franceses os que mais nos visitam depois de «nuestros hermanos», manteve-se a ordem das línguas, com o Francês em 2º lugar, na esperança de que esse fluxo aumente!

                                                 José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 303, 2019-10-30, p. 6.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Os falares dos nossos antepassados

              Temos dito dos termos próprios da falar algarvio que muito gostaríamos de manter, por fazerem parte da nossa identidade.
            Há, porém, uma outra identidade, bem antiga, anterior ao tempo dos Romanos, patente, por exemplo, em inscrições sobre pedra, que mostram signos ainda por decifrar. Até ao momento, não se encontrou nenhuma dessas inscrições em território são-brasense; várias, porém, se identificaram no Barlavento e na metade ocidental do Alentejo, de tal modo que se convencionou chamar-lhe a “Escrita do Sudoeste Peninsular”. Guarda o Museu de Almodôvar parte significativa dessa memória.
Estela com escrita do Sudoeste
            Por isso se programou para os próximos dias 23 a 26 a realização, em Loulé, do XIII Colóquio Internacional sobre Línguas e Culturas Paleo-hispânicas. Especialistas vindos de Espanha e da Alemanha aí se juntarão aos investigadores portugueses para darem conta dos progressos feitos neste domínio, nomeadamente desde o anterior colóquio, realizado na Universidade de Giessen, perto de Frankfurt, na Alemanha, em Abril de 2017.
            Trata-se de uma área de investigação assaz cativante, por ainda se não ter encontrado uma inscrição em que, a par dos signos de significado ainda desconhecido, outros surgissem, designadamente alfabéticos, que viabilizassem a decifração, como aconteceu com a Pedra de Roseta em relação à escrita hieroglífica do Egipto Antigo. Assim, não se sabe se cada signo corresponde a um som (seria, nesse caso, uma escrita fonética) ou a uma imagem (e estaríamos perante uma escrita figurativa).
            Por outro lado – e esta é uma das outras vertentes da investigação – procura-se verificar como, nos nomes das pessoas (antropónimos) ou das divindades (teónimos), há possibilidade de rastrear vestígios da aculturação, ou seja, da ‘mistura’ entre o latim (falado pelos Romanos) e a língua indígena antecedente. A descoberta das etimologias antigas passíveis de estarem presentes nessas palavras tem dado aos investigadores pistas sobre quem eram e donde vieram os nossos antepassados, isto é, aqueles que, séculos antes de Cristo, viveram neste Sudoeste peninsular.
            Uma pesquisa aliciante, não posso deixar de confessar!

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 275, 20-10-2019, p. 13.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Um Fernando Pessoa traído!

               Um dia, deu-me na veneta mostrar aos alunos a folha de rascunho dum texto. Escrito a lápis, pejado de siglas e de abreviaturas, com intervalo grande entre cada uma das linhas para aí poder intercalar frase ou palavra surgida à última hora, e largas margens, tudo gatafunhado nas costas duma folha A4 já escrita dum lado, para poupar papel. Tenho resmas dessas folhas, que vou recebendo só impressas dum lado. Um hábito que me ficou do Jornal da Costa do Sol, cujos redactores as tinham ao seu dispor, da publicidade e das informações à imprensa.
            Longe de mim comparar-me a Fernando Pessoa ou a qualquer outro escritor; contudo, lembrei-me desse hábito quando, a 25 de Julho, ouvi a indignada Professora Teresa Rita Lopes, conhecida investigadora da obra de Fernando Pessoa, bramar contra a chamada Equipa Pessoa, que se aplicou a «reescrever o texto pessoano, alterando-o sistematicamente com a inclusão das “variantes”, alternativa à palavra, ao verso ou à frase que Pessoa tinha o hábito de acrescentar, às vezes seguidamente, no momento da escrita, outras quando o relia, em cima, em baixo, na margem».
            Foi por isso que me lembrei da folha de rascunho. Também aí se cortavam palavras e se substituíam por outras ou se escrevia uma diferente ao lado a ver se dava melhor…
            O que Teresa Rita Lopes critica é o facto de a tal Equipa Pessoa ter dado mais atenção às variantes do que ao texto, sem fazer caso de que algo poderia não estar bem, nessa hesitação pessoana, porque de hesitação se tratava, de hipótese a considerar, como num rascunho. Textos fixados a partir dos manuscritos que o Poeta deixou. E a Professora deu como exemplo os dois últimos versos do poema XV de Alberto Caeiro: «E são a paisagem da minha alma de noite, / A mesma ao contrário». Na versão da Equipa vem assim: «E são o campo da minha maneira de noite, / O mesmo e mais a noite». Algo há aqui a não soar bem, de facto. E o problema está em que, depois, não só se fazem análises de versos assim estropiados como essas versões erradas se vão disseminando…
            Tenho a edição dos «Poemas de Alberto Caeiro» organizada por António Quadros – que datou a introdução «Cascais, Junho de 1985» – para a colecção de Livros de Bolso de Publicações Europa-América (nº 439) e já então António Quadros escrevia:
            «Surgem por vezes variantes, em muitas poesias, quer por haver mais do que uma leitura possível da mesma palavra, quer por haver discrepâncias entre várias edições.
            «Por nossa parte, utilizámos simplesmente as versões mais plausíveis, sem a preocupação de dar, em rodapé ou em apêndice, todas as variantes possíveis». (p,. 92).
            Há, pois, que ter todo o cuidado ao estudar Pessoa, desconfiando sempre que algo nos pareça não soar inteiramente bem. Essa, a primeira conclusão. A segunda: cá está mais um exemplo palpável de como a escrita não flui, inclusive nos autores consagrados, qual límpida corrente, sem obstáculos, serena e descuidada. Não. Requer suor. Dantes, dactilografava-se uma página e éramos capazes de a rasgar depois; agora, o computador facilita-nos a vida, mas muito avanço e recuo há sempre a fazer!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 301, 2019-10-16, p. 6. 

 

As agendas culturais dos municípios

            Este um tema que me é muito querido, o das agendas culturais municipais.
           Creio que, na actualidade, todos os municípios fazem questão em anunciar os eventos culturais que programaram para o mês. Raros são, porém, os que se mantêm fiéis à agenda cultural em papel, destinada a entrega porta a porta ou à colocação em sítios estratégicos aonde a população saiba que pode acorrer para se inteirar do que, no domínio dos concertos musicais, das exposições de arte, das conferências, lhe é proposto.
            Isto porque, na maioria dos nossos concelhos (felizmente!), as necessidades fundamentais dos habitantes – o abastecimento de água e de electricidade, o saneamento básico… – estão satisfeitas, ainda que, por exemplo, a questão da água continue a ser sempre um dos problemas maiores.
         Por conseguinte, a Cultura começou paulatinamente a ocupar o lugar proeminente que lhe compete nas preocupações dos eleitos locais. Boa parte, no entanto, está a optar pela agenda virtual, na presunção de que toda a gente tem acesso à Internet e dispõe de computador e sabe mexer nele, o que, em relação à população rural nomeadamente, não corresponde à realidade
        Saúde-se, além disso, o facto de a agenda não servir apenas para dar conta do que se programou, mas ser também veículo para consolidar comunidade, por dar a conhecer o que é tradicional, típico e digno de apreço.

        Tenho presente o nº 26 de «Adufe», a revista cultural de Idanha-a-Nova, referente ao ano de 2018, redigida em português e em inglês.
         Aí se fala de Idanha-a-Velha, e vetusta cidade que os Romanos nos legaram, mas o texto «são raízes do mesmo chão, entre o céu e a terra que os viu nascer» –faz-nos penetrar, inclusive com elucidativas fotografias, num mundo cada vez mais afastado do nosso dia-a-dia, as plantas com que a Natureza nos brinda: a acelga, a fava, a mostarda, a alabaça, a urtiga… E houve «mãos de lã» que vestiram troncos de árvore. E personalidades – como Filipe Faria e João Paulo Janeiro – que se deixaram enamorar pelo interior e largaram o bulício urbano. E conta-se, não sem mágoa, como a abetarda, o cortiçol, o sisão, o grou, o peneireiro das torres, o falcão abelheiro, o rolieiro e o falcão peregrino, todas elas «aves muito vistosas» ligadas às culturas cerealíferas, «bateram asas… e voaram», porque essas culturas deixaram de existir!...
         Fica-nos um nó na garganta, quiçá, ao sabê-lo; agrada-nos, porém, pensar que, um dia, talvez regressem; e, sobretudo, agrada-nos que um Municipio nos sirva essa consciencialização, numa agenda cultural em papel!

                                               José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 763, 2019-10-15, p. 11.

domingo, 13 de outubro de 2019

Desleixo, distracção ou não-te-rales...


… que quem vier atrás… que feche a porta?!

            Está em curso na televisão uma campanha «É só esta vez!», no âmbito da consciencialização de que são os pequenos gestos do dia-a-dia que fazem a diferença entre um cidadão consciente das dificuldades por que a Terra está a passar e aquele que considere nada ter a ver com isso, porque aos outros é que compete zelar pelo bem comum.
            Na sequência de uma chamada de atenção para o facto de, numa secção de voto, não ter havido possibilidade – falemos assim… – de selar as urnas em tempo oportuno e de as conservar fechadas, como é de bom-tom (falemos assim…), uma das senhoras que faz o favor de habitualmente me ler e, até, comentar alguns dos escritos, não teve mãos a medir e referiu-me uma série de situações, em que esse «deixa andar e não te rales!» se verifica – e vou transcrever. E reza assim, quase em eco do que na televisão se observa:

  • "Estaciono onde me convém" – sem se preocupar com a dificuldade que crio aos outros;
  • "Deixo o portão do condomínio aberto porque só vou até à esquina deitar o lixo fora", sem se preocupar com a segurança dos demais no edifício;
  • "Ponho a música muito alta no meu carro, janelas abertas, às 7 horas da manhã", sem se importar que está numa zona residencial e onde há muitos idosos, alguns seriamente doentes;
  • "Paro numa rotunda para atender o telemóvel", sem dar importância ao pequeno caos que segue;
  • "Encosto-me à barra vertical no metro", mesmo se esmago a mão de outro passageiro que se mantém de pé graças à barra;
  • "Obrigo a pessoa idosa a separar-se do corrimão" numa escadaria, para não se desviar ele próprio do seu caminho;
  • "Dirijo-me em voz altíssima aos meus filhos/netos em qualquer lugar público", sem pensar que estou a ensiná-los a comunicar num tom de voz agressivo.

            Ora bem, aí está uma boa amostra! Para… meditar! – digo eu.

                                                                                    José d’Encarnação

sábado, 12 de outubro de 2019

S. Brás Acontece – em Outubro!

             Mantém-se fiel o município de S. Brás de Alportel, no Algarve, à elaboração mensal de uma revista cultural em papel, que dá pelo nome de São Brás Acontece.
            No ofício que apresenta a edição de Outubro, escreve o presidente da autarquia:
            «Neste mês dourado e de aromas outonais, é tempo de celebrar a vida e o Dia Internacional do Idoso, uma data que visa sensibilizar para as questões do envelhecimento activo e de qualidade».
      Não admira, pois, que se haja escolhido para capa a imagem de um ancião, de ainda brilhante olho azul (como é que em S. Brás há tantos olhos azuis e tão expressivos?!...), barba feita, chapéu de feltro à moda antiga, um sorriso envolto em serenidade, a mostrar a miniatura de uma espingarda de madeira, fruto, sem dúvida, de alguma oficina em que ocupou – ou ainda ocupa – os seus muitos tempos livres. É o envelhecimento activo de que fala o autarca e, ao ver este ancião, até nos apetece exclamar: «Quem dera que, em velhinho, eu pudesse estar assim!».
            No miolo, o mais amplo noticiário sobre as actividades culturais previstas para este mês, de que destaco a exposição itinerante, este mês na Galeria Municipal, sobre a Assembleia da República. A propósito de o dia 1 ser o Dia Internacional da Água, há informações precisas e simples sobre como, no dia-a-dia, podemos poupar esse precioso líquido. Anote-se, ainda, que, todos os meses, na rubrica «Património – Lojas com História» se dá conta da história de uma loja; no rodapé, o apelo: «Não peca esta rota e descubra estes espaços tradicionais que fazem parte da nossa História!».
            Valeu! 
          E que ao município são-brasense nunca doam as mãos por esta fidelidade mensal!
                                                           José d’Encarnação

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Mais um livro de memórias!

               Manuel Eugénio Fernandes Silva e José Ricardo G. Fialho brindaram-nos com mais uma oportuna monografia, desta feita em edição camarária, a propósito da passagem dos 65 anos do Centro de Cultura e Desporto do Pessoal do Município de Cascais.
     A cerimónia de apresentação do denso e pesado volume, profusamente ilustrado a cores nas suas 300 páginas, decorreu no espaço das Conversas na Gandarinha (Centro Cultural de Cascais), presidida por Carlos Carreiras, perante mais de uma centena de pessoas, na sua quase totalidade actuais e antigos trabalhadores municipais.
   Falou o presidente do CCD; falaram os autores, agradecendo a colaboração de quantos se disponibilizaram a fornecer elementos, sobretudo fotográficos, para inserir no volume – que vale também pelo grande acervo de ilustrações que apresenta.
    O presidente do Município sublinhou o importante papel que o CCD teve – e tem – não apenas pelas iniciativas desportivas que leva a cabo mas, de modo especial, por lhe ser possível funcionar em termos de correia de transmissão do Município no âmbito, por exemplo, da benemerência e do apoio social, dadas as constrições a que as entidades públicas estão sujeitas quando querem actuar nesse sentido e há sempre enleante conjunto de peias a impedir uma acção eficaz em tempo oportuno.
            Dir-se-á que, nascido em 1954, sob a designação de C. A. T. – Centro de Alegria no Trabalho, o actual CCD se enquadrava no espírito da FNAT, entidade criada no Estado Novo, precisamente para «promover a formação social e moral dos seus associados e o desenvolvimento físico e intelectual, criando-lhes condições de bem-estar e recreação». Era a óptica da altura, que, no entanto, os promotores souberam, à sua maneira, conservar afastada de ideologias políticas, porque – já então – o que mais interessava eram as pessoas e, não havendo (como se salienta no livro) assistência organizada por parte do Estado nem, muito menos, o que viria a ser a ADSE, a estes organismos criados por iniciativa dos trabalhadores cumpria zelar para que o bem-estar de todos fosse uma realidade, na consciência de serem todos membros de um corpo a manter.
            O livro está organizado cronologicamente, indicando-se, em cada ano, as actividades desenvolvidas. Como se calcula, uma das primeiras curiosidades foi a de saber o que se passou em 1974, nomeadamente porque em muitas colectividades, mormente aquelas que poderiam considerar-se mais afectas ao regime que a revolução derrubara, ocorreram cenas de destruição de boa parte da documentação e vontade de novos elementos, «revolucionários», assumirem as rédeas do poder.
            A esse ano são, no livro, dedicadas praticamente três páginas, mas nada transparece de qualquer incidente. Houve eleições a 14 de Agosto, o arquitecto Vieira Santos assumiu a presidência, o plano de actividades foi «bem aceite» pelos associados e pela Comissão Administrativa camarária, que disponibilizou verbas para o Centro. E do programa constava a vontade de fazer com que não existam mais em Portugal “homens que nunca foram meninos” (p. 74)!
            E, voltando à escola, esses homens voltaram a ser meninos!

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 297, 2019-10-02, p. 6.

Um olhar sobre a Democracia, antes das eleições

A capa, qual urna de voto...
            Recebi hoje o nº 69 (Setembro 2019) da Egoísta, a revista da Sociedade Estoril-Sol, dirigida por Mário Assis Ferreira, com edição de Patrícia Reis.
           É meu hábito dedicar, de vez em quando, umas linhas ao conteúdo de cada número desta mui premiada revista, que em cada um deles nos surpreende. Desta vez, porém, não resisti a, sem rede nem grandes reflexões, partilhar o que senti, no mero folhear, parando aqui e além, destas bem densas páginas.
            É que o tema é a Democracia e, quase a medo, no rodapé da capa, vem uma frase conhecida: «Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar».
             Estremecem-nos, abanam-nos todos e cada um dos textos, quer seja a evocação de Francisco Sá Carneiro, quer a imprescindibilidade da liberdade de imprensa, quer a necessidade imperiosa de se votar…
Eloquente caricatura, da autoria de André Carrilho
            Estremecemos.
          Daqui a dias vamos a votos. Beneficiaremos da enorme riqueza que é viver em democracia, nessa que foi «inventada» na Atenas de Péricles, no século V antes de Cristo. E precisamos de estar conscientes do que vale um voto.
            Não, não vou desvendar o denso conteúdo destas 160 páginas, ilustradas a rigor. Limitar-me-ei, porque é dele boa síntese, o que o seu director me escreveu:
            «Democracia: nas genuínas, Democracia reduziu-se a sinónimo de Liberdade; nas falsas, Democracia exauriu-se em mero epíteto constitucional!
            E os extremos vingam, a minar a vulnerabilidade que a Liberdade oferece…
          Como diria Clarice Lispector, «Liberdade é pouco. O que  eu desejo ainda não tem nome».
            Talvez o tenha e a nós cumpra baptizá-lo…».
            Vamos a isso!

                                                José d’Encarnação
As fases preparatórias do voto, na capa da Egoísta!....

                                   

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Castanhas e doçarias

               Entre outras funções, desempenhou o Dr. Alberto Correia a de Director do Museu Grão-Vasco e a de responsável pela revista Beira Alta, de tão longa tradição e hoje a viver período de aparente letargia.
            Dotado de mui notável capacidade criativa a nível da escrita, Alberto Correia não se tem poupado a dar a conhecer, em elucidativas e assaz agradáveis publicações, o património cultural do distrito de Viseu, mormente a nível das tradições populares, do artesanato e do que hoje se designa (e com inteira razão!) o nosso «património gastronómico».
            Assim, foram recentemente publicados os seguintes livrinhos, preciosos:
            Em edição do Município de Viseu:
            A Broa de Vildemoinhos (Da Terra à Nossa Mesa);
            Pão de S. Bento (Tradição de Viseu);
            Pastéis de Feijão (Doce Sabor de Viseu).
            Em edição da Confraria da Castanha, Sernancelhe (apoio de Cafés Delta):
            A Maravilhosa História da Castanha Martainha;
            Queijadas de Castanha (Um doce manjar);
            Fálgaros (Manjar Conventual) [Tabosa – Carregal – Sernancelhe];
            Cavacas de Freixinho.
            Direi que me disponibilizei a redigir uma nota, um pouco mais circunstanciada, sobre a importância da iniciativa para uma revista do distrito da Guarda. A proposta foi liminarmente rejeitada, porque, sendo da Guarda, a publicação só admitia textos referentes ao distrito. Não me preocupei com a recusa, porque, assim, poderia referir-me aos livrinhos aqui, pois Mangualde é do distrito de Viseu e não se privilegia uma visão tacanhamente regionalista das notícias e dos comentários.
            O Município de Viseu e a Confraria tiveram tal iniciativa em prol das castanhas e dos doces? Abençoados! Castanhas haverá também no distrito da Guarda, como em Bragança! E o que está em causa não é o local mas o testemunho, a iniciativa. Exemplar como é, poderá ser imitada noutros municípios em relação ao que lhes é peculiar – e isso se acentuaria!
            Mui graciosamente ilustrados com surpreendentes fotografias, os livrinhos são… um mimo! E têm as receitas no final!
                                                                      José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 762, 2019-10-01, p. 12-13.