quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Mais um livro de memórias!

               Manuel Eugénio Fernandes Silva e José Ricardo G. Fialho brindaram-nos com mais uma oportuna monografia, desta feita em edição camarária, a propósito da passagem dos 65 anos do Centro de Cultura e Desporto do Pessoal do Município de Cascais.
     A cerimónia de apresentação do denso e pesado volume, profusamente ilustrado a cores nas suas 300 páginas, decorreu no espaço das Conversas na Gandarinha (Centro Cultural de Cascais), presidida por Carlos Carreiras, perante mais de uma centena de pessoas, na sua quase totalidade actuais e antigos trabalhadores municipais.
   Falou o presidente do CCD; falaram os autores, agradecendo a colaboração de quantos se disponibilizaram a fornecer elementos, sobretudo fotográficos, para inserir no volume – que vale também pelo grande acervo de ilustrações que apresenta.
    O presidente do Município sublinhou o importante papel que o CCD teve – e tem – não apenas pelas iniciativas desportivas que leva a cabo mas, de modo especial, por lhe ser possível funcionar em termos de correia de transmissão do Município no âmbito, por exemplo, da benemerência e do apoio social, dadas as constrições a que as entidades públicas estão sujeitas quando querem actuar nesse sentido e há sempre enleante conjunto de peias a impedir uma acção eficaz em tempo oportuno.
            Dir-se-á que, nascido em 1954, sob a designação de C. A. T. – Centro de Alegria no Trabalho, o actual CCD se enquadrava no espírito da FNAT, entidade criada no Estado Novo, precisamente para «promover a formação social e moral dos seus associados e o desenvolvimento físico e intelectual, criando-lhes condições de bem-estar e recreação». Era a óptica da altura, que, no entanto, os promotores souberam, à sua maneira, conservar afastada de ideologias políticas, porque – já então – o que mais interessava eram as pessoas e, não havendo (como se salienta no livro) assistência organizada por parte do Estado nem, muito menos, o que viria a ser a ADSE, a estes organismos criados por iniciativa dos trabalhadores cumpria zelar para que o bem-estar de todos fosse uma realidade, na consciência de serem todos membros de um corpo a manter.
            O livro está organizado cronologicamente, indicando-se, em cada ano, as actividades desenvolvidas. Como se calcula, uma das primeiras curiosidades foi a de saber o que se passou em 1974, nomeadamente porque em muitas colectividades, mormente aquelas que poderiam considerar-se mais afectas ao regime que a revolução derrubara, ocorreram cenas de destruição de boa parte da documentação e vontade de novos elementos, «revolucionários», assumirem as rédeas do poder.
            A esse ano são, no livro, dedicadas praticamente três páginas, mas nada transparece de qualquer incidente. Houve eleições a 14 de Agosto, o arquitecto Vieira Santos assumiu a presidência, o plano de actividades foi «bem aceite» pelos associados e pela Comissão Administrativa camarária, que disponibilizou verbas para o Centro. E do programa constava a vontade de fazer com que não existam mais em Portugal “homens que nunca foram meninos” (p. 74)!
            E, voltando à escola, esses homens voltaram a ser meninos!

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 297, 2019-10-02, p. 6.

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