terça-feira, 22 de outubro de 2019

Os falares dos nossos antepassados

              Temos dito dos termos próprios da falar algarvio que muito gostaríamos de manter, por fazerem parte da nossa identidade.
            Há, porém, uma outra identidade, bem antiga, anterior ao tempo dos Romanos, patente, por exemplo, em inscrições sobre pedra, que mostram signos ainda por decifrar. Até ao momento, não se encontrou nenhuma dessas inscrições em território são-brasense; várias, porém, se identificaram no Barlavento e na metade ocidental do Alentejo, de tal modo que se convencionou chamar-lhe a “Escrita do Sudoeste Peninsular”. Guarda o Museu de Almodôvar parte significativa dessa memória.
Estela com escrita do Sudoeste
            Por isso se programou para os próximos dias 23 a 26 a realização, em Loulé, do XIII Colóquio Internacional sobre Línguas e Culturas Paleo-hispânicas. Especialistas vindos de Espanha e da Alemanha aí se juntarão aos investigadores portugueses para darem conta dos progressos feitos neste domínio, nomeadamente desde o anterior colóquio, realizado na Universidade de Giessen, perto de Frankfurt, na Alemanha, em Abril de 2017.
            Trata-se de uma área de investigação assaz cativante, por ainda se não ter encontrado uma inscrição em que, a par dos signos de significado ainda desconhecido, outros surgissem, designadamente alfabéticos, que viabilizassem a decifração, como aconteceu com a Pedra de Roseta em relação à escrita hieroglífica do Egipto Antigo. Assim, não se sabe se cada signo corresponde a um som (seria, nesse caso, uma escrita fonética) ou a uma imagem (e estaríamos perante uma escrita figurativa).
            Por outro lado – e esta é uma das outras vertentes da investigação – procura-se verificar como, nos nomes das pessoas (antropónimos) ou das divindades (teónimos), há possibilidade de rastrear vestígios da aculturação, ou seja, da ‘mistura’ entre o latim (falado pelos Romanos) e a língua indígena antecedente. A descoberta das etimologias antigas passíveis de estarem presentes nessas palavras tem dado aos investigadores pistas sobre quem eram e donde vieram os nossos antepassados, isto é, aqueles que, séculos antes de Cristo, viveram neste Sudoeste peninsular.
            Uma pesquisa aliciante, não posso deixar de confessar!

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 275, 20-10-2019, p. 13.

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