sexta-feira, 29 de março de 2019

E o Brasil aqui tão perto!...

            Quando chamo um técnico para resolver um problema com a televisão ou a ligação à Internet, bate-me à porta, normalmente, um brasileiro; tive duas funcionárias vindas do Brasil. Para eles, a pergunta é sempre a mesma da minha parte:
            – Donde é?
            – Do Brasil.
            – Isso eu sei, pela pronúncia; mas donde?
            Lá me especificam se de Vitória do Espírito Santo, de Minas, de Curitiba… E acaba-se sempre por trocar impressões sobre o que visitei, o quanto me seduzem a paisagem e as gentes.
            A 17 de Fevereiro, no programa «Vozes da Lusofonia» da Antena 1, a cantora negra brasileira Bia Ferreira descreveu as suas impressões, ao desembarcar agora, pela primeira vez em Portugal:
            – Eu estou noutro país e percebo tudo o que leio!... Maravilha!
            Decerto, essa a impressão também do português que chega ao Brasil, nesta altura já mais familiarizado com as diferenças de terminologia, porque quotidianamente as ouve.
            Da primeira ida ao Brasil, em 1989, recorto dois aspectos:
            – Ao jantar, sobrou bastante comida; e logo o dono do restaurante se apressou a propor-nos que levássemos o resto numa «quentinha». Hoje, é prática corrente em muitos restaurantes, designadamente aqueles onde costumamos ir; nessa altura, era novidade.
            – Ficámos alojados num apartamento da Siqueira Campos, uma das perpendiculares à Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio. Depressa nos integrámos na vizinhança, de mútuo cumprimento diário. E era um gosto passear no calçadão, gente de todas as idades, no maior dos à-vontades, em exercício ou descontraidamente, parando aqui ou além para se refrescar com uma água de coco… Como se para tudo houvesse o maior tempo…
             Numa das outras idas, o destino final foi Pelotas, no Rio Grande do Sul, junto ao Uruguai. A terra do charque, carne seca ao sol, nas fazendas chamadas, por isso, charqueadas. De uma, a Charqueada São João, agora adaptada a receber visitas, verdadeiro museu na grande casa senhorial, trouxe fotografia, como a legenda mandava.
            Rio Grande do Sul é o território das colónias: a Alemã, a Francesa… vestígios da intensa imigração no decorrer da II Grande Guerra. Povo hospitaleiro ali, é mescla das mais diferentes nacionalidades, algo de que já me apercebera ao verificar a origem dos mais variados apelidos que os brasileiros mantêm. Pelotas, a capital, será a mais portuguesa das cidades brasileiras, pelas suas tradições lusas, nomeadamente a doçaria, que é a nossa! Afinal, também Portugal ali tão perto!
            Gente brava, habituada a tratar do gado, os gaúchos, mas de uma docilidade extrema no trato. A indispensável cuia do chá-mate ou do chimarrão passa de um para o outro, sem cerimónias...
            Uma multiculturalidade que não despreza, porém, as mais antigas raízes. Numa das noites do congresso sobre precisamente a Antiguidade Oriental e a Antiguidade Clássica, o jantar foi de acepipes à maneira do Médio Oriente, com o tradicional lava-mãos de água perfumada antes de ir para a mesa.

                                              
                                                           José d’Encarnação
Publicado em P&V – Órgão do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, Escola Calazans Duarte, Março de 2019, p. 26.

Uma padaria na 'villa' romana de Freiria!

            Uma das áreas de mais difícil interpretação da villa romana de Freiria (S. Domingos de Rana Cascais) foi o que denominámos «as grandes termas do Sul», por serem de ‘termas’ as estruturas mais visíveis e e mais bem reconhecíveis.
             Verificara-se, contudo, desde o primeiro momento dos trabalhos, que o local sofrera as mais diversas modificações ao longo dos tempos, mesmo durante a época romana.
            Havia, por outro lado, aquela lenda de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda, que dissera à pastorinha com fome: «Vai às terras de Freiria e lá encontrarás uma padeira. Pede-lhe pão!». Teriam sido, imagina-se, mais ou menos estes os termos usados pela Senhora. E a pastorinha foi e, como se adivinha, o milagre da multiplicação dos pães aconteceu: quanto mais pães lhe dava, mais pães surgiam na fornada!...
            Havia as modificações nas estruturas arqueológicas, havia a lenda… Será que se encontrariam vestígios de um forno de cozer pão?
            Encontraram-se.
       
          E, juntamente com uma nossa colega, a Doutora Macarena Bustamante-Álvarez, da Universidade de Granada, o Doutor Guilherme Cardoso deu agora a conhecer os pormenores, que poderão ler-se – certamente com agrado – acedendo ao artigo «Un pistrinum en el ager de Olissipo. El complejo artesanal del asentamiento rural de Freiria (Cascais, Portugal)», publicado no nº 28.1, de 2019, p. 157-172, de SPALRevista de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de Sevilla, mediante o atalho que lhe dá acesso: http://dx.doi.org/10.12795/spal.2019.i28.07 .

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 25-03-2019:
http://www.cyberjornal.net/cultura/cultura/historia-e-patrimonio/uma-padaria-na-villa-romana-de-freiria

sábado, 23 de março de 2019

Escola Primária dos Vilarinhos

              Maria Helena Rodrigues teve a gentileza de me enviar mais um documento daqueles que, perdidos numa gaveta, se revestem, afinal, caso se não deitem fora, de grande significado, mormente para a história local.
            Desta feita, a cópia a papel químico, como então era de uso, do programa previsto para o domingo 11 de Agosto de 2002. Uma comissão, constituída pela Zéa, pela Sanchinha, pelo Armando Romão, pelo Joaquim Gomes e pelo Luís Gonçalves de Brito, decidiu promover um almoço de confraternização entre os alunos da década de 40 da antiga Escola Primária dos Vilarinhos.
            Para além da reprodução da fotografia do edifício da escola, houveram por bem pôr os retratos das professoras: Juliana Rosa Soares, nascida a 10-07-1899 e falecida a 29-06-1984, e Adelina da Conceição Carvalho Lourenço (1902 – 1949).
            Houve missa de acção de graças na igreja de S. Romão e depositaram-se flores nas campas das professoras e dos alunos.
            Não transcrevo a ementa do Restaurante Zé Dias, para não aguçar o apetite (pois essas iguarias ainda hoje lá se servem, está bem de ver!...), mas gostaria de sublinhar uma frase que é bem nossa e que, no meio das palavras e das frases correntes emprestam um toque de intimidade que certamente não terá faltado nesse reencontro de seniores: o bacalhau com natas foi acompanhado com… saladinha de alface! Um mimo esse diminutivo!
            E outro pormenor me chamou a atenção: o preço vinha em euros e em escudos! Porventura essa conversão poderá ter assustado alguns: 3 contos!!! Eu vou dar 3 contos por um almoço!? Não, amigo, foram só… 15 euros!
            Não esgoto hoje o assunto, não! É que, no verso da folha, estão surpresas de que na próxima crónica é obrigatório fazer-me eco!
                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 268, 20-03-2019, p. 13.



sexta-feira, 22 de março de 2019

Catarina Ribeiro Pires - Uma cascalense pelo mundo!

Uma conversa telefónica
            De vez em quando, há uma surpresa! Não que seja o acaso a no-la proporcionar, mas porque a oportunidade surge e nós nos decidimos a agarrá-la!
            Vidas há por toda a parte que merecem ser contadas, nomeadamente aquelas em que o espírito positivo e a vontade de ultrapassar barreiras à primeira vista intransponíveis podem constituir exemplo, numa altura em que – demasiadas vezes! – nos contam também histórias de quem espera pachorrentamente que o maná lhe caia do céu, que os currículos enviados em série sem sequer se ter uma ideia exacta do sítio para onde se mandam, porque o que interessa mesmo é mandar!... «Estou farto de mandar currículos para todo o lado e… nada!».
            A surpresa para mim veio da conversa com uma amiga cascalense, que, também ela, muito tem logrado ultrapassar. Perguntei-lhe pela descendência, como é conversa habitual para os que já se encontram na curva descendente. E disse-me da Catarina, sua filha, nascida em Lisboa, mas cascalense desde sempre, uma… aventureira!
            – Aventureira?
            – Sim, imagina!
            Em traços largos me contou. E eu decidi não deixar escapar a oportunidade e meti conversa com a Catarina, que dá agora pelo nome de Cata ou Cat e, para os colegas de trabalho, «Cat on set»!
            Vamos lá, Cat. Conta-me então como foi.

«Eu queria ser médica!»
            – Pois eu o que queria era ser médica, porque ajudar os outros sempre me fascinou. Quando tinha 10 anos, comecei a jogar ténis. Começou como um hobby, mas rapidamente se tornou na minha vida. Durante 6 anos, joguei ténis de alta competição. Sempre fui boa aluna, mas o ténis era o que eu gostava de fazer. Passava todo o meu tempo nos courts; mesmo assim, consegui uma média altíssima, o que me permitiria entrar em Medicina; mas, na verdade, esse meu sonho de pequena estava a perder forma… Aos 16 anos, quando somos “obrigados” a escolher uma área, eu sabia que seria Saúde; mas, se não era Medicina, o que poderia ser? Fisioterapia foi a escolhida. Durante o meu percurso como atleta, passara muitas horas nos gabinetes de Fisioterapia por motivo de lesão; era um ambiente a que estava habituada e, assim, poderia ligar a Saúde ao Desporto. Formei-me, pois, em Fisioterapia, no ano de 2004, na Universidade Atlântica.

O salto para… um mundo estonteante!
            Sentiste-te bem nessa área, satisfazias os teus dois objectivos: o ténis e a ajuda aos outros, onde, imagino eu, não apenas tratavas da parte física, mas também ensinavas que, para amparar o físico, o espírito, o dinamismo, o não esmorecer constituem uma terapêutica imprescindível. Estavas nas tuas sete quintas, como se costuma dizer…
            – Sim, poderia estar, se eu não estivesse sempre a magicar novidades. E, de facto, passados alguns anos a trabalhar na área da Fisioterapia, decidi experimentar uma coisa completamente diferente: a Publicidade!
            Publicidade?
            – Sim, tem tudo a ver com a vontade de ir mais além, de promover…
            E a oportunidade caiu do céu ou foste tu à procura dela?
            – Ora aí é que começa a correria! Houve, outro dia, a maratona de Lisboa, não foi? Pois eu creio que, a partir do momento em que peguei no telefone, a corrida teve início, assim com um tiro de pistola, sabe como é!... Encantava-me o trabalho de produção. Imaginava a adrenalina de estar num set, o ‘fazer acontecer’, o stress sadio de noites sem dormir, a gravar…
            Espera aí: essa ideia surgiu-te assim do nada?
            – Propriamente não: eu já ensaiara algumas experiências a brincar, conhecia algumas pessoas dentro dessa área da publicidade, isso bailava-me na mente e apetecia-me tentar uma reviravolta de 360 graus.
            Pegaste então no telefone e…
            – Larguei tudo, fiquei mesmo sem trabalho e liguei para a Elisa de Paula: «Elisa, preciso que me dês uma oportunidade! Põe-me dentro de uma produção, arranja-me qualquer coisa. Não preciso que me pagues, não quero cachet, quero é aprender, quero dar tudo o que tenho cá dentro. Se gostarem, de mim, perfeito! Se não gostarem, agradeço-te o voto de confiança!».
            E a Elisa proporcionou-te a oportunidade…
            – Proporcionou. Estive dois dias integrada numa equipa, com pessoas que não conhecia, num ambiente de loucos, sempre com o nervosismo à flor da pele, mas com a certeza de que era mesmo aquilo que eu queria fazer nos próximos anos de vida.
            Uma primeira experiência bem positiva, portanto!
            – Sim, correu tudo bem e, desde esse dia, nunca mais parou! Já trabalhei durante muito tempo como assistente de produção (freelancer) nas melhores produtoras nacionais e com os melhores profissionais dentro da área, sempre (é curioso!) com o sentimento que saltava de produção em produção: o de «estar em casa!».
            Corrias, porém, o risco de essa situação se manter, sem possibilidade de ires mais além!
            – Um risco calculado, claro. O certo é que ganhei a confiança de alguns chefes de produção, que me começaram a dar ainda mais responsabilidades e a chamar-me para desempenhar cargos com maior visibilidade.
            E o bichinho continuou a morder…
Em Venice (Los Angeles),
com um dos murais de Vhils como fundo
            – Pudera! O bichinho pela área começava a crescer cada vez mais! Um dia, ao voltar de uma viagem aos Açores, estava eu ainda no aeroporto, toca o telemóvel: era o convite de uma produtora com quem eu nunca tinha trabalhado! Uma pergunta simples: ¿estás disponível para começar amanhã uma produção para uns americanos que vão estar em Portugal a filmar durante uns dias? Pensei em dizer que não, uma vez que estava a retornar do que me parecera o paraíso e já havia outra produção em vista…
            Mas, aventureira como és, claro que aceitaste!
            – No dia seguinte, pelas 8 horas da manhã, lá estava Cat on set! A equipa era muito grande, portugueses e americanos, numa produção um pouco diferente das que eu já houvera visto e trabalhado. Situação diferente e um «Ainda bem que aceitei!» sempre presente!

80 águas de coco frescas… já!
            Uma vida também sempre diferente, Catarina, e, decerto, com muitas peripécias e casos a resolver urgentemente e à última hora.
            – Eu conto. Um dia, ao filmarem no Elevador da Bica, em Lisboa, a produtora americana, que começara a fazer os pedidos mais estranhos, quis 80 águas de coco frescas! Dizer que, em pleno mês de Julho, com um calor intenso em Lisboa, à volta de 40 graus naquele Verão, é difícil satisfazer um pedido tão específico… é pouco! Não tinha tempo para pensar muito e, portanto, desatei a correr, só com um «como?» e um «onde?» na cabeça. Nisto – a sorte protege os audazes! – dou com uma loja que tinha expositor de sapatos orgânicos e outras tantas coisas vegan, biológicas. «Por acaso, não tem águas de coco?... 80?... Frescas?...». «Por acaso, tenho e estão frescas!». Assim contado, até parece simples estar no sítio certo à hora certa, parece fácil, mas deixa um rastilho de trabalho para trás! 80 águas frescas em dois sacos que achava que iam rebentar a qualquer segundo, e a uma velocidade-torpedo para voltar ao local de filmagens e entregar as ditas à produtora, Emilie Muller, a americana a quem chamavam de boss. Ela, muito curiosa, a olhar atentamente para os sacos, abre de seguida uma lata e solta um «Like it!».
            Um alívio, claro!
            – Pudera! Não imaginava que alguma vez pudesse vir a ser testada pela qualidade da água! Mas este «like it!» soube-me mesmo bem! Acontece, porém, que nem tempo tive para conseguir recuperar o fôlego da ‘maratona-águas-de-coco’! É que novo pedido exótico surgiu, debaixo de uma Lisboa merecedora de uma sombra: 50 barras de chocolate, com 90% de cacau, de sabores vários, à excepção de morango e baunilha!
            Mais uma prova de força e nova ida à loja milagrosa, não?
            – Exacto, porque eu já sabia que também tinha barras de chocolate. Dei comigo a pedir a todos os santinhos para que fossem de 90% cacau e... «jackpot!»: o senhor tinha tudo! Para mim, foi o herói do dia!!!!

E tem sido um correr mundo!…
            Tudo se facilitou depois, como é natural.
            – A partir desse dia, a produtora americana, a «boss» Emilie Muller, fez questão em que a presença de ‘Kate’ fosse mais assídua on set e o resultado dos dez dias de filmagens não me poderia ter surpreendido mais. Assim, comemorava-se num hotel o final das filmagens, quando, a dado momento, me chamaram para uma reunião, numa sala ao lado. As duas produtoras executivas americanas. «Tens o teu passaporte em dia? Gostávamos que continuasses a trabalhar connosco, mas terias que ir para Marrocos amanhã!
            – E foste.
            – Fui. Sem pensar muito e sem palavras que possam descrever o momento em que sentes a tua vida a mudar, com todas as células do corpo. No dia a seguir e no avião rumo a Marraqueche, era como se eu tivesse tirado o passaporte para o resto da aventura. Seguiram-se Los Angeles, Nova Iorque, Nova Orleães, Carolina do Norte, Madrid, Barcelona, Macau, Singapura, Tailândia, Hong Kong…
            – E agora, que é feito de Catarina Ribeiro Pires, nascida oficialmente em Lisboa, mas nada e criada em Cascais?
            – Cat ou, como lhe chamam quando está lá fora, Cat on set, prepara uma produção que passará novamente pela Ásia, mas, desta vez, Bali e Tóquio são as cidades escolhidas, e prevê que a sua estada em Nova Iorque se prolongue por mais algum tempo. Neste momento, faz direcção de produção na cidade «que nunca dorme» e o seu sonho…
            – Sim, continuas a sonhar?
            – O meu sonho é voltar a Portugal, estar à frente de uma produtora internacional e conseguir aplicar as minhas convicções ambientais e sociais em todos os meus trabalhos. Acredito que podemos mudar o mundo e devemos fazê-lo em todas as valências da nossa vida.

                       Entrevista conduzida por José d’Encarnação

Publicada em Cyberjornal, edição de 22 de Março de 2019:
Entrevista para o documentário de uma amiga
Um instantâneo de Brooklyn (Williamsburg), onde tem residência

quarta-feira, 20 de março de 2019

Nem sempre a ganância é rainha!

             Claro, o pobre desconfia sempre quando a esmola é grande. Mas regozija-se enquanto a esmola existir!
            Assim, os utentes do Centro de Distribuição Postal de Cascais (Pampilheira) e da respectiva loja dos CTT, do Hospital CUF Cascais, do Centro de Inspecções Automóveis, das várias oficinas mecânicas e de um centro de artes marciais por a Mobi Cascais ter transformado um terreno abandonado, na Rua Fernão Lopes, em mui agradável parque de estacionamento de acesso livre. Congratulamo-nos! E nunca será de mais congratularmo-nos!
O novo parque de estacionamento, na Rua Fernão Lopes (Pampilheira - Cascais)
            Há na mesma rua – mas sem acesso por ela – um outro parque, dito «informal», poeirento, que incomoda grandemente os vizinhos, e tem-se a secreta esperança, primeiro, que venha a fazer-se o acesso pela Rua Fernão Lopes e, segundo, que o piso se torne menos… poeirento.
            E… a ganância, amigo, não queria falar de ganância?
            É verdade, ia-me esquecendo! Queria só ficar com as coisas boas…
            Essa diz respeito a uma atitude completamente oposta: na Estrada do Guincho (a Nacional 247, que, ao que parece, terá passado para a dependência da Câmara), junto a uma assaz apreciada zona de lazer, aonde os munícipes vão para tomar um café, para almoçar ou, simplesmente, para, numa leitura, sorverem a longos haustos os bons ares do mar ou, até, para fazerem umas compritas nas agradáveis lojas que lá há – estou a falar, entende-se, da Costa da Guia, sobre a falésia… – decidiu a empresa municipal Mobi Cascais, decerto com a complacência de todas as forças políticas (não dei conta, mas posso estar distraído, de que alguma tenha protestado…), decidiu pôr… parquímetros!
            Não lembrava ao Diabo, que tem ali bem perto a sua Boca do Inferno e o restaurante que antigamente dava pelo nome de Casa do Diabo, nem aos mortos que repousam um pouco mais acima no cemitério, não lhes lembraria plantar ali parquímetros. Pois à empresa municipal, pobrezinha como está, alembrou angariar ali umas moedinhas…
            Claro: a intenção é óptima! Está ao lado a tenda de aluguer das bicas. É de aproveitar! Mais saudável em todos os aspectos, pois então! Vai uma pedalada?

                                                                                  José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, edição de 20-03-2019:

A Penélope dos nossos dias

              É por de mais conhecida a história de Penélope. Demorava seu marido, Ulisses, ido para a guerra de Tróia, e antojou-se à família que o melhor era Penélope voltar a casar. Fiel ao marido que amava, Penélope, assediada por muitos pretendentes, acabou por aceitar a insistente proposta, mas impôs uma condição: precisava de acabar primeiro o manto com que seu pai se haveria de amortalhar. Acedeu o pai e Penélope desmanchava de noite o que de dia ia tecendo, de forma que dificilmente se encarava o dia em que ela estaria disponível para novos esponsais…
            Sabe-se quanto essas histórias antigas – esta narrada na Odisseia, um dos poemas maiores da Humanidade, atribuído a Homero – acabam por ter sempre um conteúdo eterno e uma actualidade flagrante. E, assim, atendendo ao testemunho dado por esta insigne personagem, que fazia de dia e desfazia de noite, também não há motivo para as interrogações que, em termos de obras públicas, amiúde o vulgar cidadão que nada percebe desses tratos se põe:
            – Então, inda há pouco alcatroaram a estrada e só agora é que se lembram que ali tinham de fazer também passar a rede eléctrica subterrânea?
            Rede eléctrica posta, alcatrão reposto, é bem possível que, de novo, a estrada se esventre, porque faltava a tubagem para o gás canalizado!... E sorte haverá se, por não darem atenção a eventuais plantas de localização, uma picaretada não rebente com o cano da água e venha daí farto repuxo!... «Vossemecê bem me disse que por i passava um cano, mas não falou das horas a que ele passava!...».
            Também eu me interrogava, até que me explicaram que era assim mesmo: no orçamento da empreitada estava sempre incluída a destruição do feito e a reposição subsequente. Não havia nada a fazer! A partir daí, não mais me ralei com esses casos e meti a viola no saco.
            Hoje, porém, que o leitor me desculpe, tirei-a. ¿Então não é que andaram uns operários, ao vento e até à chuva, durante semanas, a pôr todo direitinho o lancil no novo troço da 2ª circular entre a Adelino Amaro da Costa, em Cascais, e a Rua de Santana, e, agora, um senhor, sempre cheio de dores nas costas (pudera!), de disco eléctrico nas mãos, deu em separar o lancil em toda a sua extensão, pedra a pedra, decerto porque os pobrezinhos dos seus predecessores não acertaram no nível e fizeram asneira?
Lancis em baixo, lancis em cima...
            Ai, Penélope, Penélope, se hoje viveras, verias como a tua malha nada era em comparação com as malhas que ora este mui ilustre Império tece!...
                       
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 273, 2019-03-20, p. 6.

sábado, 16 de março de 2019

Patrimoniices cascalenses 28


                                                       A padaria da Barraca de Pau
 
 
          Sim, acertaram a Fernandinha Borges e a Vera Araújo Soares, não fosse a Vera nada e criada nesse Bairro da Pampilheira, cujo núcleo inicial deu precisamente pelo nome de Barraca de Pau, em torno do estabelecimento do pai do «Manel da Barraca» (taberna e mercearia), aonde se ajuntaram, de modo especial, os que, vindos do Algarve, foram trabalhar para as pedreiras próximas. A chaminé que se mostrava era a da antiga padaria desse lugar, que felizmente ainda se mantém, embora tenham acabado por completo as suas funções. E ainda bem que essa memória se conserva!
          Justificou-se assim, com essa imigração, o aparecimento da padaria e ali se abasteciam as populações dos lugares circunvizinhos, no segundo quartel do século XX, quando havia uma padaria aqui, outra acolá (no centro de Cascais, era célebre a padaria do Paulino, por exemplo, ao cimo da actual Afonso Sanches). Havia pão na Malveira e, por estas bandas saloias – Cobre, Birre, Torre, Areia… –, era à Barraca de Pau que se ia ou lá se abasteciam os padeiros que nos vinham trazer o pão à porta!
          Recordar-se-á que a esse variado número de padarias sucedeu a actual União Panificadora de Cascais (Panisol), formada para evitar a concorrência e mais eficientemente se programar uma actividade comum.
                                                                                José d’Encarnação

sexta-feira, 15 de março de 2019

Salvar isto, salvar aquilo!...

           Voltei hoje a consciencializar melhor o nome que dera a estas crónicas que a Direcção do Renascimento faz o favor de acolher: Sanfoninas! Assim como que o som arrastado, repetido, quase sem graça de uma sanfona. Voltei mesmo ao dicionário a ver o que era mesmo uma sanfona: «instrumento músico, de cordas de tripa, friccionadas por uma roda».
           E chamaram-me a atenção dois pormenores: a etimologia da palavra radica no vocábulo grego «symphonía» (bonito!...) e, na linguagem familiar, há dois significados para sanfona: bisbórria e pandilha. «Bisbórria» é o troca-tintas, o trapalhão; «pandilha», o conluio de várias pessoas para enganar alguém! Nada mais apropriado, pois, para o tema de hoje, porque, se estamos como estamos, é porque superabundam os bisbórrias e são mais que muitas as pandilhas!
          Aqui d’el-rei, grita-se, é preciso salvar o interior, que no interior do País é que há riqueza a potenciar, não apenas a cultural e turística, mas também uma economia a desenvolver e que as pandilhas e os bisbórrias optaram por abandonar.
          «Salve-se o interior!». Já o uso desse verbo implica desastre, alguém em risco de afogamento eminente. Salve-se! Mas… fechem-se as estações de correio, encerrem-se as repartições de finanças, acabem-se com os tribunais, destruam-se as agências da Caixa Geral de Depósitos!...
         «Está com algum problema, amigo? Hoje, tudo pode fazer-se através da Internet, essas velharias passaram de moda!...».
          O raio que os parta! (Deus me perdoe!...).
            Recebi, há semanas, como muitos outros, no saquinho de papel dos medicamentos que comprara, os quatro folhetos a apelar para outro salvamento, o das farmácias. Sim, sabemos que os remédios também são um negócio; mas apetece parafrasear Augusto Gil: «Mas as farmácias, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?!». Só esses tais de que atrás se falava e que parecem não ser gente é que não percebem. Cuca Roseta percebe: «A farmácia é um porto seguro, onde nos recebem e ajudam quando mais precisamos». Rui Massena também: «As farmácias são a nossa primeira rede». E o querido octogenário Ruy de Carvalho: «As farmácias são essenciais. É lá que as pessoas vão quando estão aflitas». Ou a nossa estrela maior Eunice Muñoz: «O que seria de nós sem as farmácias?».
            Conclusão: mais um salvamento a fazer das garras das pandilhas e dos troca-tintas – que é como diz, das sanfonas!
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 750, 2019-03-15, p. 11.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Os frutos da música nas escolas salesianas!

            Qualquer antigo aluno salesiano se recorda de como, no chamado sistema educativo de D. Bosco (o fundador dos Salesianos), a música sempre ocupou papel primordial na formação. Compreende-se porquê: cantar em grupo implica disciplina, atenção, autodomínio; por outro lado, assim mais facilmente se promove a alegria, uma das componentes fundamentais para se crescer sadiamente.
            O que decerto não se sabe é que, na 6ª edição (2018) do «The Voice Portugal», da RTP 1, em que ganhou uma tímida menina timorense, a Marvi é aluna finalista do Ensino Secundário da Escola Paroquial S. Pedro de Comoro, em Díli, onde integra a Orquestra da Academia de Música criada por Adérito Costa, sacerdote salesiano timorense.
            Na foto, que, com a devida vénia, se reproduz a partir do Boletim Salesiano de Março/Abril (p. 27), que dá a notícia, retrata-se o extraordinário acolhimento que a jovem Maria Vitória Borges teve à sua chegada à capital timorense.
            Mas há mais! É que na foto de baixo, com as duas primeiras classificadas de mão dada, quem obteve o segundo lugar, Diana Castro, é antiga aluna da Escola Salesiana do Estoril!
            Eloquente testemunho, apetece dizer, de uma frase corrente: «Pelos frutos os conhecereis!».

                                                                       José d'Encarnação

Empolgante!

           
Teve lotação esgotada o Auditório Senhora da Boa Nova, sábado, dia 9, por ocasião do Concerto de Primavera levado a efeito pela Orquestra Sinfónica de Cascais.
            E havia razão para isso! O programa previsto era de molde a interessar mesmo os que não são visceralmente melómanos. Explicou o maestro, Nikolay Lalov, que, comemorando-se, no próximo ano, os 250 anos sobre o nascimento de Ludwig van Beethoven e esperando-se que, nesse ano, muitos concertos se executarão com obras do compositor, a Sinfónica de Cascais decidiu antecipar a comemoração, integrando neste concerto duas das suas peças mais significativas: a Sinfonia nº 5 em Dó Menor (op. 67) e a Fantasia Coral também em Dó Menor (op. 80), em que intervieram o Coro Sinfónico «Lisboa Cantat» e o renomado pianista Pedro Burmester.
            Utilizei para título desta nota o adjectivo «empolgante!» e tenho a certeza de que não exagerei, porque foi essa – não tenho dúvida! – a sensação dominante de quantos tivemos o privilégio de assistir: empolgados!
            Excelente, a interpretação de todos, tanto na 1ª parte, como, de modo especial, na 2ª, em que foi, na verdade, empolgante o diálogo entre piano e orquestra. Só visto e ouvido! Parabéns, parabéns, parabéns!
            E dei comigo a pensar, voltando à 1ª parte: quando se escuta uma sinfonia como esta, poderá acontecer que apenas nos deixemos enlevar pelo diálogo entre os vários instrumentos; contudo, a diversidade dos movimentos, a intervenção ora de um ora de outro dos naipes levam-nos seguramente mais além: projectam-nos não para os ruídos urbanos mas para uma existência no campo, no contacto com a Natureza e os seus elementos… Sussurra o vento nas árvores, murmuram as águas no pequeno regato ali ao pé, há de longe em longe o pipilar das aves e até aquela nuvem negra que corre no ar deve ter impressionado grandemente o compositor, que tudo transpôs, imagino eu, para as pautas.
            Invenção minha, quiçá, mas será porventura difícil saborear, ou simplesmente ouvir, música sinfónica, sem nos deixarmos transportar para essoutro mundo… Não o das pressas urbanas, onde até um relâmpago se despe, o trovão estala aterrador e nem se compreende o atrevido namoro do mar acariciando falésias…
            E tudo programado ao segundo, numa perícia sem par!
            Empolgante, sim, é o adjectivo certo. Saímos de alma cheia (passe o lugar-comum). E damos graças por Cascais ter tido a inteligência de apoiar uma orquestra sinfónica. Parabéns!


                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal. edição de 11-03-2019:

domingo, 10 de março de 2019

A fazer inveja!...

       Ainda se encontram recantos aprazíveis por esta Cascais!...
Trecho do leito do Ribeiro do Cobre

       Não, não vou incluir este – que as fotos documentam – na série das Patrimoniices Cascalenses, porque é capaz de não ser fácil descobri-lo e, por outro lado, não tem características que o evidenciem. Quero, porém, referi-lo. Primeiro, porque a Cascais Ambiente promoveu recentemente a limpeza do leito deste modestíssimo ribeiro, afluente da Ribeira das Vinhas; depois, porque tem a sua graça, de facto.
        É o Ribeiro do Cobre, que delimita desta povoação e do Bairro de Santana o Bairro da Pampilheira. Corre o leito a jusante da Praceta Padre Marçal da Silveira e passa a nascente do Hospital CUF Cascais. As obras da rotunda final da 2ª circular determinaram que, aí, ficasse subterraneamente canalizado.
      Por aí não é raro pascerem por ali os rebanhos de cabras e ovelhas do vizinho que há décadas aí vive e cujos galos, pela manhã, dão mui alegre sinal de si aos moradores.
           É bem estreita vala natural por onde as águas escorrem quando a chuva cai; mas, na vertente oriental, é possível admirar agora este bem azulado manto que as bonitas corolas de cinco pétalas da erva-da-inveja mui graciosamente formam.
O manto das corolas heptipétalas azuis da erva-da-inveja...
        De seu nome científico Vinca Difformes, como teve a gentileza de me informar João Monjardino, da Associação Cultural de Cascais, mal sabe a plantinha que, mui provavelmente, a beleza do seu poiso e do ambiente que a envolve certamente já inveja causou a muita gente!...
          Oxalá, portanto, a Vinca Difformes consiga vincar bem que, por ali, os terrenos são mesmo reserva ecológica e muita passarada os escolhe para nidificar: melros, rolas e, inclusive, uma alegre família de gaios verdes!... Portanto, tudo é para manter como está! E até, por uma nesga entre as árvores, se vê o mar ao fundo!
                                                           
                                                                        José d’Encarnação

sexta-feira, 8 de março de 2019

Evocando o Dr. Josias Gyll

             Outro dia, durante o almoço com um amigo comum, perguntei pelo Dr. Josias Gyll, que eu não via desde que, a 27 de Novembro de 2010, participara na abertura da exposição «Denominador Comum», promovida pelo Hotel Viva Marinha, para que expressamente haviam sido convidados artistas que, tendo embora em comum o gosto pelas artes e pela pintura em particular, eram, no entanto, profissionais de outras áreas. Josias Gyll aí expôs «Mãe», num forte azul surrealista, e a beleza dos monstros em «Axá»…
            «Já faleceu», respondeu-me. Soube agora que o passamento se deu a 31 de Maio de 2015, ia fazer em breve 92 anos, mas nunca deixara de trabalhar. Aliás, a 1-10-2014, a Misericórdia de Lisboa, após afirmar que, para ele, a Medicina, mais do que uma profissão, era uma missão, referia-se assim à sua actividade:
            «Aos 92 anos, o médico Josias Gyll continua a receber doentes de vários pontos do país, no seu consultório, em Cascais. Natural de Ílhavo, Aveiro, licenciou-se em Coimbra, em 1948, e seguiu um percurso no âmbito da medicina geral e familiar. Hoje, ocupa-se sobretudo da Geriatria, área vocacionada para a prevenção e tratamento das doenças dos mais velhos».
            Muitos se recordarão em Cascais da sua figura: alto, invariavelmente vestindo de branco, completamente careca numa época em que eram raríssimos os que adoptavam esse modo de apresentação… Também privilegiava os carros brancos, nomeadamente um «2 cavalos» em que gostava de se deslocar.
Quadro a óleo, da autoria do Dr. Josias Gyll
            Tive ocasião de privar com ele durante longos anos, praticamente desde que veio para Cascais. E, amiúde, além das consultas – foi o nosso médico durante muito tempo –, falávamos de Arte, porque, nas horas livres, à pintura se dedicava, quadros plenos de uma interioridade forte, agressivos até para que a Arte despertasse reflexão. Tenho bem presente, além do quadro que ilustra este texto e que é da minha colecção, um outro, que ofereci a um familiar: num deserto vasto e alaranjado, uma solitária pedra; por detrás, escrito na sua letra angulosa inconfundível, de caneta de feltro preta, a frase bíblica: «Quem de vós estiver sem pecado, que atire a primeira pedra!»
            Emprestou-me, um dia, a tese de doutoramento policopiada de um biólogo que estudara o comportamento dos animais, numa época em que a Etologia dava os primeiríssimos passos e ambos nos interessávamos por isso. Não me ocorre agora o nome do cientista; lembro-me, porém, como se fosse hoje, do que Josias Gyll me disse:
            – Leve, leia e não se coíba de sublinhar ou de escrever ao lado os seus comentários. Assim, quando eu voltar a ler o livro, não lerei apenas o que o autor escreveu, mas reflectirei sobre o que a si lhe pareceu digno de nota.
            Nunca mais esqueci esta máxima!
            Recordo bem as ‘guerras’ que Josias Gyll teve de travar com a Ordem dos Médicos, que o impedia de se apresentar como geriatra, porque essa especialidade, que ele tirara no estrangeiro, ainda não era reconhecida entre nós.
            Prestou serviço no Posto das Caixas do Estoril, no âmbito atrás referido da Medicina Geral e Familiar; foi, durante muitos anos, quem se encarregou das autópsias no cemitério da Guia, pelo que se lhe poderia atribuir até a designação de «médico forense». Foram, todavia, sobretudo os problemas dos mais velhos que o interessaram e sobre eles não deixou, inclusive, de dar testemunho em textos que, por sugestão minha, chegou a redigir para o Jornal da Costa do Sol. Aliás, é essa vertente de geriatra que especialmente se frisa no citado texto da Misericórdia de Lisboa:
            «De fato branco e sorridente, Josias Gyll aceitou o convite para estar presente no IV Congresso de Ortopedia Geriátrica realizado no passado dia 26 [Setembro de 2014], no Hospital de Sant'Ana, na Parede, pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. E participou do debate falando da importância do sol e da vitamina D no bem-estar das pessoas. "Não deixem de apanhar sol", receita.
            O bem-estar é, aliás, o aspecto que mais procura cuidar nos doentes de idade avançada e entre os quais predominam os que sofrem de neuroses e de demências. Vêm de Braga, Barcelos, Santarém e até dos Açores para o consultar.
            "Estou em disponibilidade permanente, mais para atender aos doentes, do que à doença", diz».
            Completar-se-ão em breve 4 anos sobre a sua morte. Uma morte que (pesa-me!) me passou despercebida. E quiçá a muitos outros também. Creio, todavia, que a actividade do Dr. Josias Gyll em prol dos seus doentes e da comunidade não deveria ser esquecida em Cascais. Temos ruas com nomes de advogados e de médicos que, com a sua profissão, honraram esta vila. Josias Gyll também superiormente a honrou. Não deveria ser esquecido!

                                                           José d’Encarnação

Excerto de um texto inédito, manuscrito, do Dr. Josias Gyll

Publicado em Cyberjornal, edição de 07-03-2019:
http://www.cyberjornal.net/cultura/cultura/quem-e-quem/evocando-o-dr-josias-gyll

Post-scriptum: Acabo de receber de sua viúva, Raquel Gil, a seguinte informação, que muito agradeço e que, naturalmente, me escuso de comentar, porque retrata uma daquelas inconcebíveis atitudes sob a qual se escreve SEM COMENTÁRIOS:
«Só por curiosidade, e uma vez que no seu texto menciona nisso - um mês depois da sua morte, recebia uma carta da Ordem dos Médicos, onde era reconhecido finalmente como especialista de Geriatria».
Post-scriptum 2:  A tese referida no texto é de António Bracinha Vieira, que a defendera em 1979, sob o título «Psiquiatria e etologia: para um modelo bio-comportamental da psicopatologia»