sexta-feira, 15 de março de 2019

Salvar isto, salvar aquilo!...

           Voltei hoje a consciencializar melhor o nome que dera a estas crónicas que a Direcção do Renascimento faz o favor de acolher: Sanfoninas! Assim como que o som arrastado, repetido, quase sem graça de uma sanfona. Voltei mesmo ao dicionário a ver o que era mesmo uma sanfona: «instrumento músico, de cordas de tripa, friccionadas por uma roda».
           E chamaram-me a atenção dois pormenores: a etimologia da palavra radica no vocábulo grego «symphonía» (bonito!...) e, na linguagem familiar, há dois significados para sanfona: bisbórria e pandilha. «Bisbórria» é o troca-tintas, o trapalhão; «pandilha», o conluio de várias pessoas para enganar alguém! Nada mais apropriado, pois, para o tema de hoje, porque, se estamos como estamos, é porque superabundam os bisbórrias e são mais que muitas as pandilhas!
          Aqui d’el-rei, grita-se, é preciso salvar o interior, que no interior do País é que há riqueza a potenciar, não apenas a cultural e turística, mas também uma economia a desenvolver e que as pandilhas e os bisbórrias optaram por abandonar.
          «Salve-se o interior!». Já o uso desse verbo implica desastre, alguém em risco de afogamento eminente. Salve-se! Mas… fechem-se as estações de correio, encerrem-se as repartições de finanças, acabem-se com os tribunais, destruam-se as agências da Caixa Geral de Depósitos!...
         «Está com algum problema, amigo? Hoje, tudo pode fazer-se através da Internet, essas velharias passaram de moda!...».
          O raio que os parta! (Deus me perdoe!...).
            Recebi, há semanas, como muitos outros, no saquinho de papel dos medicamentos que comprara, os quatro folhetos a apelar para outro salvamento, o das farmácias. Sim, sabemos que os remédios também são um negócio; mas apetece parafrasear Augusto Gil: «Mas as farmácias, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?!». Só esses tais de que atrás se falava e que parecem não ser gente é que não percebem. Cuca Roseta percebe: «A farmácia é um porto seguro, onde nos recebem e ajudam quando mais precisamos». Rui Massena também: «As farmácias são a nossa primeira rede». E o querido octogenário Ruy de Carvalho: «As farmácias são essenciais. É lá que as pessoas vão quando estão aflitas». Ou a nossa estrela maior Eunice Muñoz: «O que seria de nós sem as farmácias?».
            Conclusão: mais um salvamento a fazer das garras das pandilhas e dos troca-tintas – que é como diz, das sanfonas!
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 750, 2019-03-15, p. 11.

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