E chamaram-me a atenção dois pormenores: a etimologia da palavra radica no vocábulo grego «symphonía» (bonito!...) e, na linguagem familiar, há dois significados para sanfona: bisbórria e pandilha. «Bisbórria» é o troca-tintas, o trapalhão; «pandilha», o conluio de várias pessoas para enganar alguém! Nada mais apropriado, pois, para o tema de hoje, porque, se estamos como estamos, é porque superabundam os bisbórrias e são mais que muitas as pandilhas!
Aqui
d’el-rei, grita-se, é preciso salvar o interior, que no interior do País é que
há riqueza a potenciar, não apenas a cultural e turística, mas também uma
economia a desenvolver e que as pandilhas e os bisbórrias optaram por
abandonar.
«Salve-se
o interior!». Já o uso desse verbo implica desastre, alguém em risco de
afogamento eminente. Salve-se! Mas… fechem-se as estações de correio,
encerrem-se as repartições de finanças, acabem-se com os tribunais, destruam-se
as agências da Caixa Geral de Depósitos!...
«Está
com algum problema, amigo? Hoje, tudo pode fazer-se através da Internet, essas
velharias passaram de moda!...».
O
raio que os parta! (Deus me perdoe!...).
Recebi,
há semanas, como muitos outros, no saquinho de papel dos medicamentos que
comprara, os quatro folhetos a apelar para outro salvamento, o das farmácias. Sim,
sabemos que os remédios também são um negócio; mas apetece parafrasear Augusto
Gil: «Mas as farmácias, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem
assim?!». Só esses tais de que atrás se falava e que parecem não ser gente é
que não percebem. Cuca Roseta percebe: «A farmácia é um porto seguro, onde nos recebem
e ajudam quando mais precisamos». Rui Massena também: «As farmácias são a nossa
primeira rede». E o querido octogenário Ruy de Carvalho: «As farmácias são essenciais.
É lá que as pessoas vão quando estão aflitas». Ou a nossa estrela maior Eunice
Muñoz: «O que seria de nós sem as farmácias?».
Conclusão:
mais um salvamento a fazer das garras das pandilhas e dos troca-tintas – que é
como diz, das sanfonas!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 750, 2019-03-15, p. 11.
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