Uma
incursão pelo género dramático por parte do escritor cascalense José Jorge Letria,
que, sob o título «Ninguém é Garrett», evoca os últimos tempos do escritor
Almeida Garrett.
Boa
a escolha do local, porque a acção
se desenrola aquando Garrett muda para nova morada e o palácio dos Condes
prestar-se-ia, de facto, a ser essa nova mansão. Por outro lado, assume o texto
um carácter intimista, de mensagem garrettiana aos vindouros (veja-se o
solilóquio muito bem interpretado por Luiz Rizo, numa das suas melhores actuações),
e o facto de apenas haver, na Sala de Música, lugar para 30 espectadores faz
com que a mensagem passe melhor.
Escreve
o autor, na folha distribuída, que foi o seu precoce contacto com Garrett
através da peça Frei Luís de Sousa
que sempre o seduziu; por isso, aliás, terá feito um jogo de palavras no
título, uma vez que «Ninguém» é o nome que a si mesmo dá o Romeiro, quando lhe perguntam
«Romeiro, quem és tu?». Pode pensar-se, assim, que se dá a entender que esse
«Ninguém» incarna o próprio Garrett; ou que, é escusado tentar, ninguém pode
equiparar-se ao génio daquele escritor romântico.
Um
texto, até agora inédito, que prima pela simplicidade com que apresenta, pela
voz de dois amigos – Gomes de Amorim (incarnado por João Pecegueiro) e
Gonçalves (o actor Rodrigo Cachucho) – e também pelo testemunho de Alexandre
Herculano (Sérgio Silva), essa fase final de uma vida em que também o amor (e o
amor conturbado…) esteve presente (e Teresa Côrte-Real incarna bem a
Viscondessa da Luz, Rosa de Montufar).
Não
se diriam de mui fácil representação
os diálogos entre os dois amigos, uma vez que são mesmo diálogos, ou seja, sem
nada onde pôr as mãos. João Pecegueiro e Rodrigo Cachucho disso se desempenham,
todavia, muito bem e não quero também deixar de referir que apreciei deveras o
modo como representaram – não são fáceis esses papéis, embora pareçam – Beatriz
Beja, a governanta Maria Adelaide, deveras eloquente nas expressões faciais – e
o criado incarnado por Pedro Russo, que sabe acompanhar expressivamente o mero
apagar ou acender de uma lâmpada…
Vale,
pois, a pena dar uma saltada até ao Museu, na certeza de um serão bem agradável.
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal,
edição de 1 de Março de 2019:
Muito obrigada pela informação, que me dá a possibilidade de poder ir ver a peça Ninguém é Garrett, de José Jorge Letria . Moradora no concelho, fascinada pela personagem central e misteriosa do Romeiro na peça Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, e motivada pelo seu texto, só podia ficar com vontade de aparecer. Um abraço de amizade de Helena Ventura Pereira
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