Há obras que surgem no momento oportuno, porque os seus mentores reflectem sobre o mundo e lhes pareceu que, de facto, era importante lançar uma pedrada no charco.
É o caso dos temas escolhidos pela equipa da revista Egoísta, chefiada por Mário Assis Ferreira, da Estoril-Sol. ¿Que assunto poderia interessar, sem lamechices, na quadra natalícia? ¿Que personagem ocupa, na celebração, o principal papel? Maria, a mãe! Maria, a consubstanciar, aqui na sua não fácil função maternal, o papel da Mulher.
«Maria» é, pois, essa evocação de um nome onde cabem, na feliz expressão de Assis Ferreira, «todas as Mulheres do mundo»:
«Mulheres, Mães, que são esteio do que somos e inspiração de amor.
Amor que parece arredado deste conturbado mundo em que a angústia tende a sufocar a esperança».
Desta vez, Mário Assis Ferreira foi parco na introdução: 10 linhas que terminam a sugerir a divinização da Mulher, tal a relevância que lhe deve ser dada – e aqui se dá!
Capa da revista Egoísta |
Com a inesperada maquetização a que a equipa gráfica, chefiada por Patrícia Reis, já nos habituou – é sempre impossível imaginar com que nos vão surpreender!… – este nº 75 de Egoísta, com 124 páginas, reúne colaborações bilingues (português / inglês) de, entre outros:
– Maria Teresa Horta («Maria», poema inédito);
– Afonso Cruz («Nem todas são Marias», com impressionantes fotos de mui expressivas anciãs…);
– Maria do Rosário Pedreira («Maria – Três poemas e uma canção»);
– Inês Pedrosa («Nomes»);
– Maria João Martins («Falar às jovens raparigas em flor»);
– José Eduardo Agualusa («Gramática do Instante e do Infinito», ilustrado com soberbas fotografias a preto e branco);
– Patrícia Cruz («Eu, Maria, me confesso»);
– Urbano Tavares Rodrigues («Conto de amor»);
– Sérgio Costa Araújo («Do solo árido nasce a aurora», com estampas antigas sobre a vida de Nossa Senhora, no seguimento da passagem 2: 6-7 do evangelho de S. Lucas, referente ao nascimento de Jesus);
– Yvette Centeno (o poema «Maria»);
– Richard Zimler («Paula Rego e a Virgem Maria: de carne e osso»);
– Rainer Maria Rilke («O nascimento de Maria»)…
Nota, ainda, para «Madonno», com desenhos de Tomás Castro Neves, texto de Xavier Pereira e fotografia de João Paulo: na sua aparente irreverência, um convite à reflexão, pequenos textos, salpicos de poesia.
Eloquentes, as fotografias de plantas e de flores, de Pedro Serpa.
Termino com a referência ao texto brincalhão de Maria Manuel Viana, «A importância de ser». Não Ernesto, como na peça de Óscar Wilde, mas Maria. E ela diz que quer ser Maria, simplesmente, e não «Dona Maria», como lhe chamam «os operadores dos call centers, o meu carteiro, os funcionários nos guichets, a minha empregada. E eu odeio. Sou MM e não Maria. Ponto». Para perorar, no final lindo:
«(…) a dupla MM, nome que para mim alguém inventou e de que tanto gosto. MM, aime-aime. Eu, tu, para sempre até morrermos todos e a loucura se esgueirar por entre as palavras».
Em latim, Maria liga-se a mar. O oceano a perder de vista. A Mulher com letra maiúscula em toda a sua infindável extensão…
Uma daquelas a quem chamo Maria quis fazer este comentário, também porque se não revê nos outros nomes por que é chamada: «"Em latim, Maria liga-se a mar. O oceano a perder de vista. A Mulher com letra maiúscula em toda a sua infindável extensão…”. Serão assim muitas Marias, e que feliz que sou por tantas se reverem nesse oceano. Por ora, sou alguma coisa perdida nele, nesse mar largo. Mas chegarei à margem e ainda assim, haverei de ser Maria».
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