
Com uma lucidez impressionante, Mestre Nadir Afonso festejou os seus 90 anos no sábado, 4, na galeria do Casino Estoril, aquando da inauguração do XXIV Salão de Outono. E teceu amplas considerações acerca da Arte como Matemática ou o papel da Matemática na Arte.
Mostra importante, de trabalhos ímpares de quantos, ao longo de mais de duas décadas, têm mostrado naquele espaço as suas obras, o Salão constitui, nesta quadra, para além da homenagem, ponto de passagem obrigatório para quem na Beleza sentida queira as forças anímicas recuperar.
Inauguração bem concorrida, condimentada a rigor com iguarias transmontanas. Carlos Magno evocou a obra e a extraordinária personalidade artística do Mestre que, em Paris e no Brasil, trabalhou com arquitectos consagrados (Le Corbusier, Niemeyer…), mas que, alfim, pela pintura se deixou seduzir, na graciosidade geométrica de coloridos traços minimalistas que ora perenemente se nos oferecem à admiração, por exemplo no túnel para o paredão, em frente do Parque Palmela, em Cascais.

Teve outro registo, não menos social e simpático, a abertura, a 27 de Novembro, da exposição anual «Denominador Comum», promovida pelo Hotel Viva Marinha, para que expressamente foram convidados «artistas que, tendo embora em comum o gosto pelas artes e pela pintura em particular, são, no entanto, profissionais de outras áreas:
- Josias Gyll, conhecido geriatra de Cascais, apresentou-nos, por exemplo, «Mãe», num forte azul surrealista, e a beleza dos monstros em «Axá»…
- Maria Regina de Mongiardim, diplomata e professora universitária de Política Internacional, convida-nos ao intimismo, à meditação: maternidade, vultos misteriosos no beco enlameado…
- Francisco Azevedo, diplomata de carreira, «arco-íris de suaves cores de nostalgia» (assim Mateu Manaure caracterizou as suas telas).
- Mariana Fialho, eborense a viver na Suíça: o silêncio dos muros fechados, sem gente no meio urbano…
- Gabriela Barbosa (“Bié”), funchalense, mostrou «objectos de sedução»: o quotidiano de que se constrói a beleza, consubstanciada em artigos de toilete, o par de sapatos em comunhão com cogumelos, a caixa da camisa e da gravata aliada à discreta coscuvilhice de uma romã…
A arte, aqui, a situar-se no campo da evasão de um quotidiano profissionalmente absorvente. E foi pequeno o hall para conter os amigos que acorreram à chamada. As obras de arte dispersam-se por ali, como quem não quer a coisa, casando-se com a decoração. Dois dedos de conversa, a recordar tempos idos, no saboreio de um requintada tapa e bebida a condizer, na apreciação serena de mensagens pictóricas a pausadamente decifrar.
Publicado no Jornal de Cascais, 22-12-2010, p. 6.