segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O embondeiro, tema de postal natalício

            O Doutor Jorge Paiva, botânico, investigador e docente do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, iniciou, há largos anos, mui louvável iniciativa: defensor acérrimo da biodiversidade, porque estudou, porque pensa, porque sabe, envia todos os anos, pela época natalícia, um postal a largo punhado de amigos, a abordar tema da sua especialidade. Trata-se, no fundo, de mais um grito de alerta, bem documentado, acerca daquilo que fazemos e não deveríamos fazer e, sobretudo, daquilo que, no decorrer do próximo ano, poderia – e deveria! – ser campo de batalha de todos nós.
Agradeço-lhe sempre. Todos os anos fico na expectativa: «Sobre que nos irá escrever desta vez?». E aprendo muito!
Este ano, o assunto é o da sua preferência: a biodiversidade. Todos dependemos uns dos outros. E, neste aspecto (começo pelo fim da sua mensagem), confesso que nunca tinha pensado nisso: «Dos 70 kg que peso, cerca de 2 kg são seres microscópicos (milhões, portanto), a maioria deles importantíssimos na defesa e manutenção do meu organismo». Quem diria?!...
Contudo, o exemplo deste ano é deveras elucidativo: o do embondeiro, cuja existência e proliferação dependem (imagine-se!) «de morcegos polinizadores, de aves e pequenos mamíferos dispersores»! E o Professor Jorge Paiva demonstra por a+b que se trata de uma árvore da maior utilidade, em que tudo se aproveita: «A goma da casca é utilizada como antisséptico e antipalúdico; as fibras da casca servem para cordoaria, arreios, fios e redes de pesca, cestaria, cordas musicais, etc.; […] as concavidades do tronco servem para armazenar águas pluviais, utilizadas pelas populações; o tronco oco serve de habitação e até de sepultura; […] as folhas jovens são utilizadas na alimentação humana e do gado doméstico e para tratamento de diarreias, febres, inflamações, picadas de insectos, asma e dificuldades respiratórias, etc.; […] a polpa das sementes é utilizada na alimentação e fabrico de refrescos, gelados e doçaria».
Matou o Homem cerca de 80% da cobertura vegetal que tínhamos quando se iniciou o actual período de vida da Terra, o Holoceno; por isso, é cada vez maior o aquecimento global, com todas as graves consequências que tal acarreta.
Daí, a mensagem natalícia de Jorge Paiva, a que mui gostosamente me associo: consciencializemo-nos cada vez mais de que sem floresta e sem os outros seres vivos não seremos capazes de sobreviver!

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 606, 15-12-2012, p. 3.

1 comentário:

  1. Ficamos contentes por termos coincidido, nesta época de reflexão, na escolha de um motivo que é também ele uma estrela cintilante a apontar um caminho...saibamos nós levantar os olhos e tomar consciência do nosso dever de cidadania!

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