Resisto habitualmente a escrever sobre tema de calendário.
O
Natal, por exemplo, não me inspira, inclusive porque, nessa época, tanta gente
o analisa que se corre sério risco de ser banal e desprovido de interesse.
Por
outro lado, embora seja festa, a todos os títulos, justificável, não me encanta
por aí além, nomeadamente pela ensurdecedora algazarra comercial que a sufoca e
por o presépio tradicional estar, também ele, sufocado pela árvore e por aquele
senhor que supostamente vem da Lapónia.
Abro
uma excepção, neste ano dos meus 80. Primeiro, em acção de graças; depois,
porque não enjeito o halo poético de que a festividade se envolve.
Recordarei
sempre João Baptista Coelho: anualmente me fazia chegar um poema, amiúde apenas
simples quadra, onde superiormente lograva condensar sábios objectivos
desejavelmente concretizáveis pelos humanos sapientes.
Este
ano, foi a vez de Aurora Madaleno me obsequiar com o livrinho, de sua autoria,
«Momentos Meus de Natal», onde compendiou breves trechos e os versos com que,
desde 2004, tem presenteado os amigos. Transcrevo uma dessas quadras singelas:
Reine
paz, reine alegria,
Brilhem luzes como estas.
Quero cantar neste dia
Boas Festas! Boas Festas!
Paz, alegria, luzes, canto – as palavras necessárias, as palavras urgentes.
As palavras a viver todos os dias!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 873, 20-12-2024, pág. 10.