segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A propósito de «Passos à volta da memória»

Senhor Director
Permita-me que venha à sua presença para publicamente me congratular com a iniciativa, em boa hora lançada por uma empresa, a CulturGuarda, em estreita colaboração com entidades locais e regionais, intitulada «Passos à volta da memória – Uma visita encenada à sé catedral da Guarda».
Integrada no programa que visa a «teatralização» (!) do centro histórico da cidade, «Passos à volta da memória» incita a ver “o magnífico retábulo, as vigilantes gárgulas, os recantos escondidos»… de «uma das mais antigas, bonitas e importantes catedrais de Portugal», com «histórias e segredos» que um actor terá todo o gosto em contar aos visitantes até 31 de Agosto.
Num texto de apresentação da actividade – a que tive acesso – escreve-se que «cada visitante receberá […] uma monografia da autoria do historiador João Paulo Cardinal Martins das Neves», acrescentando-se que, assim, «a Guarda passou a ter uma obra inteiramente dedicada à nossa catedral». O feliz retomar, portanto, de algo que já foi feito, em 1990, quando o monumento comemorou 450 anos e o Museu preparou catálogo da exposição “Catedral – As formas no tempo”, o qual, posto à venda no templo, se esgotou em menos de dois meses! É, pois, óptimo que de novo se tenha pensado nisso!
Nesse mesmo texto se afirma:
«E se eu vos disser que a maioria das pessoas da Guarda... nunca entrou na Sé?!! Se eu vos disser que apenas uma minoria muito minoritária participou numa visita de estudo a Sé?!!! E se eu vos disser que só meia dúzia de guardenses subiu as escadas até lá cima e se deixou deslumbrar com a bela vista?!!»
Ora tem o autor do texto inteira razão! E talvez possa aproveitar o ensejo para se interrogar acerca dessa inexistência de visitas ao telhado da catedral para se deslumbrarem com a magnífica panorâmica e verem as tais «vigilantes gárgulas»!... É que eu já tive oportunidade de prestar sobre isso um esclarecimento (vide «Sé da Guarda votada ao abandono», Terras da Beira, 6-3-2008, p. 12): o mal está na inoperância do guarda que teimam em manter ao serviço e que, iniludivelmente, não serve! Não é prestável, não tem apresentação! E não incita sequer os visitantes a subir à cobertura! Aliás, que é que acontece quando o visitante se não integra no programa ora em curso e, depois de o programa acabar, pretender subir? O mesmo de sempre!

«É a hora, portanto, de olharmos para a Sé com outros olhos! Aproveitemos» – escreve-se com entusiasmo na apresentação do programa.
E é mesmo, acreditem! Olhar com olhos de ver e… coragem para agir!

Publicado em Terras da Beira [Guarda], 07-07-2011, p. 10.

1 comentário:

  1. Nem mais. Eu próprio quis uma vez levar um grupo de amigos de Braga a subir à Sé (o que seria também para mim, que passei 10 anos da minha vida na cidade) mas as minhas intenções esbarraram na intransigência do vigilante que alegou que estariam em limpezas. Outros amigos meus tiveram direito a um mais lacónico "Não tenho tempo". Enfim... feitios e (in)sensibilidades.

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