Para
além do tema em si, pleno de actualidade, o que decerto levou a que, de Outubro
de
Gostei
do livro, da sua estruturação em curtos subcapítulos. Inclusive da sua textura,
do formato, do tipo de letra, do papel!… Um daqueles livros físicos que nos faz
pensar quanto é penoso imaginar que, daqui a uns tempos quiçá, só haverá livros
digitais!...
Inspira-se
o título num provérbio japonês, que constitui, de resto, a epígrafe do volume:
«Ao lado do teu amigo, nenhum caminho será longo». Poderá ‘assustar’ o
subtítulo «Para uma teologia da amizade», na presunção de que estaremos logo
perante dissertações estranhas, alheias ao nosso dia-a-dia. Muito ao contrário!
Acabamos por verificar que, afinal, nos importa cada vez mais fazer silêncio, e
olhar com outros olhos o que habitualmente fazemos. Cita-se, por exemplo,
Claude Lévy-Strauss: «A cozinha assinala a passagem da natureza para a cultura»,
para se afirmar que «a cozinha é o lugar da criatividade e da recomposição», na
sequência de uma estranha frase de Santa Teresa, «Deus move-se por entre os púcaros»
(p. 81)! Isto é, gestos comuns, maquinalmente executados, poderão vir a ser
‘outros’, se forem devidamente integrados em maior atenção.
Onde deixaste os sapatos?
E,
nesse aspecto, conta José Tolentino Mendonça uma história deliciosa. Adestrado
numa filosofia zen, o discípulo prepara-se arduamente pois vai ser examinado
pelo mestre. E, quando chega diante dele, «o mestre pergunta-lhe apenas: “Ao
entrares agora, onde deixaste os sapatos? À direita ou à esquerda do armário?»
(p. 86).
Uma
exortação à alegria, à celebração, «bem-aventurados aqueles que vivem uma história
e a podem contar» (p. 145), porque, na verdade, se «o alaúde foi construído à navalha»,
o certo é que «depois solta uma música incrível». Um hino à liberdade de sermos
nós próprios: «Uma pessoa que dominou a sua vida vale mais do que mil pessoas
que dominaram somente o conteúdo de livros», é citação de Mestre Eckhart, que
determina, de seguida, perspicaz observação: «Parece que temos de viver sete
vidas num dia só, ofegantes, ansiosos, desencontrados e meio insones» (p. 221).
Curiosa,
nesse âmbito, a análise acerca do que nos rouba o tempo: «Os telefonemas que chovem
e se prolongam por coisa nenhuma; os compromissos e obrigações sociais de mero
artificialismo; as reuniões sem uma agenda preparada em vista de objectivos…»
(p. 221).
Alimentava-me
eu, desde há mais de 30 anos, em textos de pensadores como os irlandeses Joseph
Murphy e Emmet Fox ou o americano Merlin R. Carothers, meus livros de
cabeceira. E tenho agora, em português, quem vai no mesmo sentido de nos mostrar
que… vale a pena viver!
Publicado em Cyberjornal, edição de 2015-01-13:

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