quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Viriato Dias Bernardo, jornalista de largos horizontes

             De ascendência alentejana – seus pais vieram de Arronches para Cascais – Viriato Dias Bernardo nasceu nesta vila a 26 de Janeiro de 1929. Por aqui sempre viveu até à morte, que ocorreu no passado dia 2.
            Depois de ter sido funcionário da Câmara Municipal de Cascais e já escrevia na imprensa local, Viriato Dias foi convidado para seguir a carreira jornalística. Ficou com a carteira profissional nº 87 e foi para a delegação de Lisboa do jornal portuense Primeiro de Janeiro, que viria a chefiar.
            Daí seguiu para a informação da RTP, onde exerceu durante muitos anos as funções de responsável pela agenda do Telejornal, tendo desempenhado esse cargo com a grande competência que ele exigia, nomeadamente antes do 25 de Abril, em que importava ter enorme diplomacia perante a Censura.
            A nível local, integrou a equipa do jornal A Nossa Terra e quando a quase totalidade dos redactores saiu, por incompatibilidade com a direcção do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais (proprietário do jornal), manteve-se fiel ao grupo liderado por João Martinho de Freitas, que viria a fundar, a 25 de Abril de 1964, o Jornal da Costa do Sol.
            Após a aposentação, regressou às lides da imprensa regional, tendo assumido, a 7 de Março de 1996, a direcção do Jornal da Costa do Sol, cargo que manteve até 1 de Março de 2007. Na mensagem de despedida, a que deu o título de «Até sempre», recordou que pertencera ao «grupo de cascalenses que dotou Cascais com um órgão de comunicação, livre de quaisquer tutelas, pela defesa dos interesses desta região».
Viriato Dias e Carlos Avilez (gentileza de Pepita Tristão, do Cyberjornal)
            Na sua direcção é de registar, durante o mandato de José Luís Judas, o espírito de colaboração que manteve com o Executivo camarário e que o presidente bem aceitou, não se coibindo Viriato Dias, como é natural, de criticar a acção camarária, quando considerava que o devia fazer, por ser essa a missão da imprensa local, nem sempre compreendida pelos autarcas. Um clima de serena compreensão e informação, para que os munícipes se apercebessem com maior evidência dos motivos por que determinadas decisões se tomavam e a razão de ser de outras que estavam programadas para se tomar.
            Foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de Cascais e sócio, desde 1954, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais.
            Recordo o que escreveu, a 17 de Setembro de 1966, a propósito do incêndio da Serra de Sintra em que viriam a morrer 25 soldados do regimento de Queluz:
            «Não poderá haver outro fogo de tão terríveis consequências em matas nacionais, porque irão ser tomadas medidas drásticas. Não se falará mais em falta de dotações ou verbas, porque tal não se pode pôr em equação, quando estão em causa o património nacional, a economia do País e vidas que são a base da Nação».
            O drama por que passámos no Verão mostra que os planos que apontava como urgentes e necessários acabaram por nunca se concretizar. E já lá vão 51 anos!...
            A 22 de Março de 1969 viria a escrever um outro artigo, que deu brado na altura, pelo seu carácter inovador, sobre o aproveitamento turístico da Cidadela de Cascais, uma vez que, já nesses anos, o interesse militar do quartel era escasso. Viriato Dias ousou, pois, propor o seguinte:
            «Um museu oceanográfico, um aquário, um Instituto de Biologia e, paralelamente, uma exposição de assuntos cartográficos no Instituo Hidrográfico [sugerira que tanto esse Instituto como o Aquário Vasco da Gama para ali fossem transferidos] poderiam ser um pólo de atracção para a sede do concelho, que foi berço do turismo em Portugal e à qual estão ligadas longínquas e vultosas tradições marítimas».
            E concluía:
            «A vetusta cidadela, onde, com o rodar dos tempos, se criaria um museu natural de oceanografia – grande, enorme e imperdoável lacuna existente no País – continuaria, assim, a sua função junto ao mar».
            Estava-se em… 1969!
            Um sonho, esse, que as vicissitudes dos tempos nunca ousaram tornar realidade!
            Do homem e do jornalista fica-nos, por isso, a imagem de um cidadão empenhado, que preza acima de tudo a nobreza de carácter, de «antes quebrar que torcer», que privilegia o rigor da informação e manifesta plena disponibilidade para estar activo em prol do bem comum.

                                                                                  José d’Encarnação

2 comentários:

  1. Marcelina Neves, 6/12 às 22:51
    Caro Professor Encarnação, só hoje tive conhecimento, através do seu depoimento, do falecimento do nosso querido Viriato Dias no passado dia 2 e gostaria de agradecer-lhe as justas e merecidas palavras que dedicou a este nosso conterrâneo, tão esquecido nos últimos tempos da sua vida... Que descanse em paz! Espero que a nossa Edilidade cumpra o dever de fazer perpetuar a sua memória, nesta Terra que ele tanto amou. Um abraço.

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