segunda-feira, 22 de junho de 2020

Pedaços da história, pão da nossa identidade

               Não dispõe o nosso Município de uma revista ou boletim cultural. Compreende-se, de certo modo, essa ausência, não apenas devido aos encargos financeiros que poderia acarretar, mas também porque a existência – quase ímpar a nível nacional – duma agenda cultural mensal em papel, a São Brás Acontece, supre adequadamente, com as habituais rubricas nela incluídas, essa necessidade de olharmos para tudo aquilo que acalenta a nossa identidade.
            Acontece, porém, que outra razão se poderia aduzir: é que o nosso mensário Noticias de S. Braz, com o seu vasto leque de colaboradores, continua a preencher eficazmente o que poderia ser considerado uma lacuna.
            Em primeiro lugar, o espaço com que privilegia a poesia popular – e os poetas são aqueles que, bem à sua maneira, nos comunicam os sentimentos que a vida e os acontecimentos do dia-a-dia lhes despertam.
         Depois, porque sobre a história local e regional não falta quem, com saber e bases documentais, nos vai mimando com textos que devem ser religiosamente guardados e tidos em consideração. Aliás, decerto os responsáveis pela Biblioteca Municipal e pelas bibliotecas de associações e entidades disso se devem ter já apercebido e, antes de arrumarem cada exemplar na colecção, terão o cuidado de registar o que ele detém digno de realce para constar nos ficheiros.
           Veja-se, a título de exemplo, a edição de Maio (32 páginas em plena pandemia é obra, quando, um pouco por toda a parte, a imprensa local suspendeu a publicação, à espera de melhores dias!...):
           – Com o seu habitual saber, José do Carmo Corria Martins brindou-nos (p. 25) com o texto nº 10 da série «Há 100 anos», abordando, com muita oportunidade, a pneumónica de 1918, no âmbito das adversidades por que S. Brás de Alportel passou para se afirmar como concelho. Uma página a guardar. Religiosamente, repito!
            – Adérito Vaz é outro dos autores a ter em conta. Desta vez, iniciou uma série que promete, sobre «As carroças no Algarve que o tempo eliminou» (p. 13). Presta-se o título a duas interpretações: o tempo eliminou as carroças ou o tempo eliminou esse Algarve típico? Natural, pois, o apelo a que lutemos contra essas duas possíveis eliminações. Assim, o Museu do Traje já guardou algumas carroças; importa que se faça o inventário das que porventura por aí ainda existam e se procure forma de as reabilitar, porque serão sempre apreciadas em desfiles históricos, por exemplo. E que bonitas que elas são! Não há uma igual a outra!
            – António Cabral continua a olhar a toponímia (p. 4) e faz muito bem, porque as andanças da toponímia mostram as andanças do poder!...
            – Lina Vedes, que evocou «Costureiras e Modistas» (p. 18); João Leal, com a sua simpática rubrica «Livros que ao Algarve importam» (p. 99; Maria José Aresta, em «Memórias que o tempo não apaga» (p. 20); e também João Romero Chagas Aleixo, que iniciou agora uma evocação do Aleixo (p. 24) – constituem alguns dos outros autores que dão cartas no âmbito da preservação da nossa identidade cultural.
            Amigo e Senhor Director, que não lhe doam as mãos nesta orientação tão sábia!
                       
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 283, 20-06-2020, p. 13.



3 comentários:

  1. Muito obrigada, Caríssimo Amigo. Tão rico e importante que é, o nosso património! É ele que nos identifica. Um povo sem a sua memória não tem passado, nem presente, nem futuro ...

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  2. Gostei muito deste texto. Por ele conheci o que se vem publicando em São Braz de Alportel pela agenda cultural São Braz Acontece e pelo mensário Notícias de São Braz. E de tudo o que de importante foi referido, detive-me no pitoresco das carroças, tão coloridas na evocação que impõem de tempos que já passaram mas nem por isso devem morrer. Fundamental a sua preservação. Bela prosa, meu Amigo.

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  3. Muito bem!
    É um merecido ato de gratidão que o meu grande Amigo, Professor José d'Encarnação, acaba de fazer ao NOTÍCIAS de S.Brás e aos seus competentes colunistas nos quais ele próprio se inclui. Bem hajas!

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