Peço perdão. Em Setembro,
familiares desafiaram-me para uns dias em Altura e à minha terra natal apenas
me foi possível dar um olá fugaz, no abraço terno à tia Chica, de 96 anos
feitos. Subi à açoteia da casa onde nasci, espraiei o olhar por essas duas encostas,
a que vai do Corotelo para os Vilarinhos e a que desce de S. Romão até à
estrada nacional 270. Não agarrei no lápis para escrever impressões; não usei a
câmara do telemóvel para fixar uma paisagem que há décadas tenho bem presente.
Peço
perdão, porque foi em Altura, manhã cedo, enquanto o resto do pessoal se
aprontava com a pequenada para breve manhã na praia (ai, estes pés à procura de
lamejinhas!...) que adreguei pegar numa folha e anotar.
Além, uma
capoeira com perus brancos e pardos (sempre em corrimaças, não sabiam estar
quietos), garnisés… Também lá no alto, um avião fugia.
No cimo
duma torre, o depósito de água dava altura para as regas, hoje inúteis (nada
havia para regar!), mas lá estava a canalização e o fio eléctrico que vida
daria a todo o mecanismo.
Na terra ao
lado, uma estufa de framboesas.
Estufas
vira eu, muitas. O sábio aproveitamento de um clima ameno, sem que – alvitro eu
– se menospreze o que nos identifica, as tais alfarrobeiras, figueiras, oliveiras
e amendoeiras, cujos frutos deveria ser proibido deixar perder.
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 308, 20-07-2022, p. 13.
De: Cesar Correia
ResponderEliminar28 de julho de 2022 07:53
...cheiro a Barrocal - do nosso contentamento - que ainda vai escapando ao afã turístico do anafado Litoral do Verão...
Também concordo com o espírito da crónica: ao Barrocal Algarvio o que é do Barrocal.
ResponderEliminarAs framboesas sabem bem, mas a moda das estufas (e dos pedidos de verbas para sua manutenção) veio de gente de fora. As culturas locais (alfarroba, oliveiras, figos e passas de uva, além das amendoeiras mais tarde, creio eu) que durante séculos foram a base da prosperidade algarvia, servindo mercados nacionais e a exportação, foram sendo preteridas.
E aqui para nós: também eu "riparia" umas azeitonas para curar. Aprendi. Desde que, em criança na escola, trocava o meu lanche pela fatia de pão negro com azeitonas de uma colega, ainda não me cansei desses sabores inigualáveis...Muito grata pela beleza bucólica deste texto.