Uma luz diferente quis envolver o raminho. Chamou por
mim. Cativou-me – a recordar a frase d’O Principezinho:
«Quando se ama
uma flor plantada numa estrela, é um encanto, à noite, olhar para o céu: todas
as estrelas estão floridas».
Florinhas de
corolas hexapétalas de um azul cerúleo, estames amarelos ao centro envolvidos
de branco; folhas lanceoladas, só de nervura central de um verde mais carregado.
Beleza! Vistas assim, de parede cinza ao fundo: maravilha!
Dir-se-ia
artificial arranjo de ikebana, mas não é: rendo-me ao Criador!
Não
resisti. Fotografei a serenidade bela do meu miosótis. E mais pasmado fiquei quando
vim a saber do seu nome popular: não-me-esqueças!
Irresistível
a vontade de o começar a partilhar. De Portugal voou, por exemplo, para Roma. Recebeu-o
Eugenia Serafini com particular carinho e, num repente, quis dedicar este haiga:
Piccoli fiori
Sorridono alle
S t e l l e
Volo
di Colibrì
As flores bem pequeninas
Sorriem para as estrelas
Qual voo de colibri
Ikebana,
arranjo floral japonês; haiga, desenho simples, com traços singelos, a
complementar o haikai, poema conciso. A delicada simplicidade japonesa, imagem
e poesia, a sublimar a admiração, a concretizar a comunhão entre a Arte divina
captada por uma objectiva e catapultada – pela Poesia – para um horizonte superior.
Imaginamos o
sereno esvoaçar do colibri a tentar sugar mui saboroso néctar – e quedamo-nos, alfim,
em mui contemplativo silêncio, alheados, completamente alheados do vertiginoso corrupio
em que se nos escoam os dias…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento [Mangualde],
nº 860, 01/03/2024, p. 10.
Realmente são lindas!!!
ResponderEliminarChe bella introduzione ai delicatissimi myosotis, hai un animo gentile caro amico José, e grazie per avere citato il mio haiku. Eugenia
ResponderEliminarAgora compreendo muita coisa...
ResponderEliminarUma tia minha tinha um quintal que parecia um jardim.
Atravessava-se uma ponte de cimento sobre o rio, protegida por altas paredes brancas, entrava-se (e fechava-se logo) uma porta estreita e vermelha e ordenado-desordenado à volta de um tanque redondo com repuxo, o quintal ajardinado ia-se afeiçoando ao terreno.
Do lado direito duas cameleiras emaranhadas uma na outra. Bastava tocar-lhes e as pétalas derramavam-se pelo chão. Trazia algumas para os meus herbários até reparar que, quando secas, não tinham graça nenhuma.
Havia canteiros com flores por aqui , por ali, à volta das cenouras e cebolas. E do lado esquerdo um caramanchão metálico, com um banco de madeira sob a ramagem das minhas rosas preferidas: rosas de Santa Teresinha.
O quintal tinha limite: ao fundo uma parede alta de pedra que suportava terrenos sobranceiros. E era quase no limite que havia um canteirinho de miosótis que eu achava lindos, de uma pureza invulgar como o azul do céu de Verão.
Não sabia que lhes chamavam "não-me-esqueças", mas compreendo agora porque tanto esse espaço povoa as minhas memórias passada uma eternidade.
Muito belos o haiku de Eugenia Serafini e o texto.
Não conhecia