quarta-feira, 20 de agosto de 2025

aculturações

     

   
    Falavam os historiadores de ‘romanização’ para identificar a influência exercida pelos Romanos colonizadores sobre as populações indígenas.
O fenómeno estava bem patente, por exemplo, nos monumentos epigráficos, uma vez que, por eles, se verifica claramente que mesmo os textos referentes a indígenas passaram a ser redigidos em latim e tanto os nomes de pessoas como os de divindades chegaram até nós latinizados.
Quando, porém o movimento descolonizador ganhou maior força no Ocidente, começou a proclamar-se que o uso da palavra estava errado, porque não houvera, da parte do governo central romano, uma ordem expressa para que tudo passasse a ser à romana. Daí que – até à semelhança do que ocorrera mais perto de nós, no contacto de civilizações diferentes – o termo ‘aculturação’ passasse a ser o preferido, porque, na verdade, ambas as partes em confronto acabavam por contribuir para o resultado final.
E, no caso português (o português nosso e o português do Brasil), há exemplos deveras curiosos nesse sentido:
– Camone: é um turista estrangeiro; a palavra deriva da expressão ‘come on’, «anda cá!», amiúde utilizada pelos turistas nos primeiros tempos.
– «à la guilho» é estranha e desajeitada corruptela, de uso culinário, da expressão castelhana ‘al ajillo’, literalmente ‘com alhinho’.
– Gilete: lâmina ou utensílio de barbear; vem do nome do seu inventor, o norte-americano King Camp Gillette (1855 1932).
– No português do Brasil uma fotocópia diz-se xerox, fotocopiar é xerocar, da marca inglesa Xerox. Inventado, em 1948, pelos físicos Chester Carlson (norte-americanos) e Otto Kornei (austríaco), este processo tem designação etimologicamente grega: de ‘cserós’ (seco) e ‘gráfo’ (escrever), por não usar tinta.
– Kodak foi, até à década de 90 do século passado, o nome corrente para designar máquina fotográfica, nome que deriva da marca, criada, em 1888, pelos norte-americanos George Eastman e Henry A. Strong.
– Freezer, em português do Brasil, é congelador, a palavra foi diretamente importada do inglês em que «to freeze» significa congelar.
Enfim, neste nosso mundo global, o que mais interessa é que, independentemente das palavras, os actos contribuam para uma cada vez mais desejável convivência pacífica.             

                José d’Encarnação

 Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 345, 20-08-2025, p. 13.

 

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