sábado, 8 de agosto de 2015

Escarafunchar para… ir ao fundo!

              ‒ Que estás tu praí a escarafunchar?
            Pergunta sempre incómoda, a da avó para o menino que enfiava o dedinho no nariz para tirar cocas; ou, então, que se entretinha a arrancar as crostas de ferida no joelho…
            Ocorre-me o termo a propósito de um trabalho académico, a que já aqui fiz referência (edição de 1 de Agosto de 2014): «Epigrafia Latina dos Concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo», datado de Junho de 2003, que Pedro Pina Nóbrega, realizara no seu 3º ano de Faculdade, sob orientação do Prof. Amílcar Guerra, no âmbito da disciplina Leituras e Interpretações Epigráficas.
            Depois de mui sumário enquadramento dos dois concelhos na malha geográfica e administrativa portuguesa, o autor refere os estudos feitos acerca de 41 epígrafes romanas identificadas nos seus territórios; e parte da sua análise para nos dar uma ideia de quem terão sido os habitantes desse espaço em tão longínquos tempos.
            Escreve Pedro Pina, na pág. 62 (o texto está acessível na Internet na plataforma Academia.edu), que o trabalho epigráfico é «inesgotável», inclusive porque «cada indivíduo tem a sua forma de ver o monumento e a inscrição. Se para uns pouco mais há a fazer, para outros existem outros campos a explorar». Ou, para usarmos do termo que chamei a título: há sempre outras formas de…escarafunchar!
            Fez muito bem o autor em ter chamado a atenção para essa relatividade do saber, porque se corre o risco – hoje, em que é muito fácil disponibilizar um texto na Internet – de, um dia, alguém considerar uma análise como definitiva e assim se transmitir indefinidamente. Como a história do senhor padre que, um dia, pôs a hipótese de o templo de Évora ser dedicado à deusa Diana; era mera hipótese, mas… como «de Diana» ficou até mui recentemente!...
            O próprio trabalho de Pedro Pina pode também servir de exemplo, quando apresenta na estampa XI a foto de uma «ara de Esmolfe» (cedida, a foto, pelo Museu Nacional de Arqueologia) e, na estampa XIII, a mesma foto, dizendo tratar-se de uma «ara votiva de Quintela da Azurara» e «foto de Inês Vaz»! Uma troca evidente, se se ler o texto: faltou a foto da epígrafe 14 e repetiu-se a da 16. Fui… escarafunchar e achei!
                                                               José d’Encarnação

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 667, 01-08-2015, p. 24.

Sem comentários:

Enviar um comentário