segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Uma noite plena de emoções

             Hesitei em escrever esta crónica. Não sei de música o bastante para dar ao espectáculo o seu real valor. Sou praticamente um ignorante nessa nobre arte de interpretar o que outros escreveram em pautas. Mas vou ousar escrevê-la, mesmo sabendo que não estou à altura, porque esta noite de sábado, 24 de Outubro, no auditório da Srª da Boa Nova, dificilmente nos sairá da memória nos próximos tempos.
Sim, já assistira aos dois outros concertos da Orquestra Sinfónica de Cascais, excelentemente dirigida pelo maestro Nikolay Lalov. Já escrevi que essa opção da autarquia em apoiar uma orquestra sinfónica, apesar de ‘louca’ aos olhos de muitos, resultara muito bem. Os dois anteriores concertos provaram-no. Mas este, do Outono, ultrapassou em muito, amigos, o que era expectável!
Primeiro, pela variedade dos temas escolhidos: árias e trechos de óperas. Boa parte deles estão no ouvido de toda a gente, que, embora porventura os não consiga identificar («Esta é a ária ‘Là ci darem la mano’, da ópera Don Giovanni, de Mozart»…), os sabe, no entanto, trautear. O maestro teve o cuidado, com o à-vontade que lhe conhecemos, de ir explicando, uma a uma, as peças que se iriam saborear – e também isso foi uma importante mais-valia! Rossini (e o seu inevitável Barbeiro de Sevilha), Bellini, Donizetti (linda, a furtiva lágrima!), Verdi, Puccini, Mozart, Gounod, Mascagni (e a sua Cavalaria Rusticana) fizeram-nos mui reconfortante companhia!
Depois, porque, se apreciámos deveras a interpretação, encantou-nos também o entusiasmo com que maestro e todos os músicos – todos! – se entregaram ao espectáculo. Vimo-los deliciarem-se não só com o que estavam a tocar mas também ao ouvirem os demais, naqueles momentos em que o seu instrumento tinha uma pausa a cumprir. Um entusiasmo bem visível no final, em que mutuamente se aplaudiram e cumprimentaram, de satisfação estampada no rosto, por terem plena consciência de haver activamente participado numa noite mágica, que também vão gravar a letras de oiro no seu palmarés.
Cristiana Oliveira
Finalmente, os cantores! Extraordinários! A soprano Cristiana Oliveira, natural de Braga, linda voz, mui expressivo olhar, uma cantora e uma actriz! De Itália veio o tenor Diego Cavazzin e, de Sófia (Bulgária), terra natal do maestro, o baixo Deyan Vatchov. Encantaram-nos de verdade! E só revendo – se tal fora possível – o brinde final, da Traviata (de Verdi), com os três cantores em palco, de taça na mão, e o público a vigorosamente acompanhar com palmas, se poderá ajuizar de como o espectáculo nos encheu a alma! E, ao sair, nem sentimos a cacimba da noite – que o calor do concerto tudo o mais fez esquecer!...
Só há uma palavra: maravilha! Um auditório de lotação esgotada!
E cá ficamos a esperar pelo concerto de Inverno, anunciado para 12 de Dezembro. Nada menos do que a 9ª sinfonia de Beethoven!

                                           José d’Encarnação 

Publicado em Cyberjornal, edição de 26-10-2015:

Diego Cavazzin
Deyan Vatchov

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