terça-feira, 10 de maio de 2016

Buer

            Ocorreu-me outro dia o termo «buídas», usado para designar pequenos tanques rasos, de batemilha, que serviam para apanhar com rede os pássaros que lá iam beber desprevenidos. E achei que deveria consigná-lo aqui, embora buer e buída sejam termos conhecidos e, inclusive, registados no Dicionário do Falar Algarvio. Confessemos que é mais fácil dizer ‘buer’ e ‘buída’ do que ‘beber’ e ‘bebida’, sobretudo se já se está com um grãozinho na asa…
            Mas, para além dessa ocorrência que me levou aos tempos da minha infância, acabei por ficar por lá, pela infância, e pareceu-me que não seriam despiciendas duas anotações complementares.
            Da primeira, descaradamente infantil, naquele nosso jeito de querermos ser homenzinhos mesmo a falar, já aqui se fez menção em Junho de 2012: o remoque pronto do catraio ao outro que lhe assobiara enquanto bebia, como se de animal se tratasse:
            ‒ Já bubi e sobejou para a grande besta que me assobiou!
            A segunda: o mau hábito (a meu ver) que há de os pais perguntarem à criança pequenina «Bua?» – que é como quem diz «Queres água?». Também aqui «bua» é mais cómodo que pronunciar «água»; contudo, a vertente pedagógica deveria prevalecer. Não é «de pequenino que se torce o pepino»? É.                             
                                        José d’Encarnação
 
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 208, Maio de 2016, p. 10.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário