quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ir e vir, vir e ir…

            O tema nada tem de novo e, bem analisadas as nossas vidas, mais ou menos curtas ou longas, certo é que sempre ouvimos dizer a amigos e a familiares que tinham família dispersa por aqui e por ali. E não apenas no território nacional, onde, manda a tradição, gente do interior demanda o litoral (e regressa, pelas festas, «à terra») ou ensaia mesmo trajectos mais diferenciados.
            Ainda no começo do mês de Setembro encontrei na recepção de um hotel no Algarve uma senhora que passou a meninice na Areia (povoação da freguesia de Cascais) e nunca mais ali voltara; e eu, algarvio, vivendo perto da Areia desde os quatro anos, andei na escola com os seus familiares, que bem conheço. Estava, claro, bem longe de pensar que a Paula, a falar com pronunciado sotaque algarvio, fosse natural de Cascais!...
            Os nossos jovens, mormente depois da excelente experiência que foi – e é! – o Programa ERASMUS, de mobilidade de estudantes e de docentes, partem agora sem problemas para o estrangeiro e o desenraizamento já não é tão grande como outrora, graças à facilidade de comunicações, no sentido concreto de transportes e no abstracto, de ligação telefónica ou virtual.
            Constituiu, no entanto, para mim, uma boa surpresa a existência, desde 2013, da Orquestra XXI, formada exclusivamente por executantes portugueses que estudam no estrangeiro. Assisti, com gosto, no passado dia 3 de Setembro, ao concerto no Casino Estoril, sob a direcção musical do maestro Dinis Sousa, com Artur Pizarro ao piano, o último concerto da 9ª digressão, que começara em Oliveira do Bairro e passara pela Casa da Música do Porto e pela Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Vale a pena dar conta das cidades onde estão esses 53 estudantes: Paris, Zurique (5), Colónia, Monte Carlo, Madrid (2), Munique (2), Berlim (7), Trosingen, Genebra (2), Leipzig (4), Amesterdão (2), Londres (8), Lubeque, Bruxelas, Glasgow, Detmold (3), Roterdão (3) Antuérpia (3), Hannover, Utreque, Haia, Düsseldorf, Mannheim.
            Regozijei, porque também musicalmente senti assim a Europa mais pequena, mais unida. Fagotes, flautas, trompas, trompetes, violinos, violoncelos, contrabaixos… substituíram aqui, eloquente e pacificamente, mísseis, bazucas, metralhadoras, canhões… Um som muito mais auspicioso!
                                                                          José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 716, 29-09-2017, p. 11.

Os jovens que estudam música no estrangeiro e formaram, este ano, a Orquestra XXI

2 comentários:

  1. A música é isso, levita sobre um mundo doido.

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  2. Teresa Silva 5/10 às 8:21
    Sem dúvida, a música e as artes no geral são motores de união entre as gentes! O problema é que temos desinvestido continuamente nisso... Quando digo 'temos', refiro-me ao poder-governação, que é quem dá as carcanholas... Esperemos que se possa ainda recuperar da nossa deseducação coletiva!

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