quarta-feira, 9 de maio de 2018

Rui Massena encantou com as suas novas sonoridades

            Longo aplauso de pé, a exigir actuação complementar, sublinhou a actuação da Rui Massena Band, na noite de sábado, 5, no Salçáo Preto e Parta do Casino Estoril.
            Espectáculo singular, donde não pode sair-se indiferente: ou se gosta ou se detesta.
Instantâneo do espectáculo. Foto: Casino Estoril.
            Escrevi «espectáculo» e não «concerto». Concerto foi, sem dúvida; eu acentuaria, porém, a sua vertente global. Tivemos o Rui ao piano, o motor da engrenagem; tivemos os seus cinco companheiros, cada um a proporcionar-nos estranhos sons indizíveis:
            Sim, havia instrumentos de cordas: Bernardo Fesch no baixo, Daniela Silva no violoncelo, e Rui Moreira na viola arco; havia as baterias e toda uma parafernália de percussão (Sandro Mota e João Cunha); mas os sons – perfeitamente caldeados num grande apuro da sonoplastia, a cargo de João Paulo Nogueira – casaram mui harmoniosamente com os jogos de luz, sob a maestria de Nuno Salsinha. Por isso, foi espectáculo, genialmente urdido. Admiramos as sombras chinesas – que, amiúde, desaparecem executantes, desaparecem instrumentos e há apenas sugestões em pano de fundo para que, com maior intimidade, nos deixemos enlevar e envolver num mundo quase exótico, etéreo, galáctico… Para outros mundos vamos…
            Voluntariamente, creio, não foi distribuído programa, não nos explicaram donde vinham os sons, embora ousássemos identificar a pureza do xilofone, o suave passar dos dedos por harpejos ou as carícias em rude bilha elevada ao estatuto das sonoridades novas… Dizem que assim se penetra num mundo «neo-clássico», por o músico ter partido da música dita clássica e a ter vestido de novas roupagens. «Neo-clássico» grafado com hífen, para se não confundir com o Neoclassicismo antigo. Certo é que – como sempre – a inovação tem as suas fundas raízes e não podem fazer-se trechos assim sem um domínio perfeito da arte dos sons.
            Li que Rui Massena explicara, a propósito de uma das suas iniciativas, que «Abraço, Estrada, Alento, Liberdade, Dúvida, Borboleta, Amanhecer, Meditação e o Renascer» eram, para ele, «algumas das emoções traduzidas em sons». É-nos, de facto, impossível não comungar com os músicos, nesse ambiente onírico em que se movem. E todas essas são, não há dúvida, emoções que nos invadem.
            Gosta-se ou detesta-se. Eu gostei e aplaudi!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 09-05-2018:

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