quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O livro sobre a tauromaquia em Cascais

            Houve logo quem bramasse: «Um livro sobre toiros, agora que toda a gente está contra as touradas?! Só visto!...».
            A crítica só pode ter saído da boca de quem não sabe distinguir os tempos e as mentalidades e não tem a noção de que algo que hoje é branco amanhã pode ser preto, se mudarem as circunstâncias. Criticamos os políticos por dizerem hoje uma coisa e amanhã outra completamente diferente; amiúde, eles nem têm culpa e explicam: «Senhores, as circunstâncias mudaram!».
            Mudou hoje a mentalidade geral sobre as corridas de touros, nomeadamente porque se começou a dar mais importância ao mundo animal, se começou a ver quão importante é a biodiversidade. Dantes, eu matava lagartos, cobras, lagartixas, aranhas; eu armava aos pássaros e matava-os (quando lhes acertava) com uma fisga improvisada; hoje, saúdo as pequeninas lagartixas que andam pelo meu jardim, preservo as osgas que me passeiam pelas paredes da garagem, porque me comem os insectos, e também por isso protejo as aranhas…
            Mudam as mentalidades e o facto de as corridas, hoje, serem globalmente mal encaradas, tal não quer dizer que, no passado, esse não tivesse sido um entretenimento típico das zonas mediterrânicas e, de modo especial, de Espanha e de Portugal. Aliás, não se combatiam as feras em plenos anfiteatros romanos e não foi o nosso Salvação Barreto chamado a fazer a pega no filme «Quo Vadis?», que evocava precisamente um desses espectáculos, em que (pesa-nos!) às feras também eram lançados os Cristãos?... Na actualidade, o solene anfiteatro romano de Nîmes, em França, transformou-se em praça de touros, mas sobretudo em palco de grandes espectáculos musicais. Tal como a Praça do Campo Pequeno, em Lisboa.

Uma tradição
Emília Sabino, representante da Junta
            O livro A Tauromaquia em Cascais, da autoria dos já consagrados reveladores do passado cascalenses, Manuel Eugénio Fernandes Silva e José Ricardo C. Fialho, em muito boa hora apoiado pela União de Freguesias Cascais Estoril e apresentado perante mais de meia centena de amigos e cascalenses, no final da tarde do passado dia 18 de Junho, no largo fronteiro ao edifício da Junta, vem precisamente no sentido de nos revelar essa tradição, a das touradas em Cascais.
Manuel Eugénio e Ricardo Silva
            Uma tradição que remonta ao século XIX e se prolongou décadas afora, com a construção de sucessivas praças, até à Monumental, inaugurada a 15 de Agosto de 1963 (faria agora 55 anos!) e demolida em Março de 2007, por a Santa Casa da Misericórdia de Cascais ter considerado o empreendimento não rendível, apesar de os baixos da praça estarem ocupados por estabelecimentos comerciais e no terreno derredor se efectuar uma feira, a conhecida «Feira da Praça de Touros». Demoliu-se, ficou longos anos – demasiadamente longos! – o terreno a servir de parque «informal» de estacionamento (como hoje se diz) e só agora para aí se logrou a aprovação de um projecto urbanístico, que também não vai ser aceite sem reservas.
Aspecto da assistência à apresentação do livro
            Conta-se tudo, tintim por tintim, nesse livro, ano após ano, corrida após corrida: quem se notabilizou, que ganadarias, que cavaleiros, que forcados, se esteve frio, se o vento (o grande inimigo, sempre, das touradas na Monumental!...) incomodou, se houve praça cheia ou assim assim…

                                                                              José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 245, 2018-08-15, p. 6.

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