quarta-feira, 17 de março de 2010

Barbershop, de Júlio Conrado




Num sítio também emblemático para a cultura literária em Cascais, a vetusta Livraria Galileu, o Professor Salvato Telles de Menezes apresentou, no final da tarde de sábado, 6, o mais recente livro de Júlio Conrado, que dá pelo sugestivo nome de «Barbershop».
Sempre a barbearia constituiu, no coração de uma aldeia ou mesmo de uma vila, aquele ponto de encontro onde se sabem as novidades, onde se discute futebol, se dá uma olhadela pelo jornal (local, desportivo ou diário), se geram cumplicidades… Local prenhe de magia, onde tudo pode acontecer na fantasia de quem por lá passa e, repoltreado na cadeira, deixa que o barbeiro lhe corte o cabelo ou lhe ensaboe a cara.
Diz-se logo, em jeito de subtítulo, que se trata de «leitura que não vai querer interromper», tal como se não interrompe «um corte de cabelo».
E, na capa, lá está – em mui sugestivo desenho de Catarina Gaeiras – a barbearia iluminada, indiferente, parece, às janelas e escadas do resto do quarteirão em que se insere. Ilusão, claro! Porque, pela barbearia, ou melhor, pelo romance perpassam, para além do barbeiro, um sonhador, personagens do nosso quotidiano, em fina e mordaz ironia, num retrato pleno de sagacidade: o «poeta taciturno eterno candidato ao Nobel de literatura»; o «pícaro amador de viúvas ricas»…
Enfim, anuncia-se trama com trágicos crimes imperfeitos «no quintal sossegado», vingança, amor, avidez…
Júlio Conrado insere o enredo numa Cascale algo misteriosa, retirando o nome, porém, da mais antiga carta topográfica que se conhece da vila de Cascais pendurada sobre a baía, no século XVI. Claro que, não sendo autobiográfico, o romance deixa transparecer experiências vividas – por este olhanense que também veio para Cascais em tenra idade e por cá se deixou seduzir.


Publicado em Jornal de Cascais, nº 211, 16-03-2010, p. 6.

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