quarta-feira, 19 de maio de 2010

«Meta o civismo no...»

Foi notícia, há dias, o mau estado em que anda a saúde mental em Portugal, que se receitam muitos ansiolíticos, que o pessoal toma comprimidos para dormir… Grande novidade! Com o estado a que isto chegou, só se fôssemos de aço inoxidável!... E mesmo assim!...
Costumo parar – mas fico sempre no meu utilitário… – junto à saída dum parque de estacionamento subterrâneo, quando vou buscar a minha neta à escola (uma das funções habituais dos avós…). Nunca há problema, mesmo quando uma viatura tem de sair, pois deixo espaço bastante e, por outro lado, tento sempre, nesse caso, facilitar a saída, informando da vinda (ou não) de qualquer viatura na rua.
Há dias, porém, um carro parou à minha frente, também na espera de um estudante. A passagem ficou tapada e veio um senhor muito bem posto, em pose de grande empresário, ao volante de vistosa viatura topo de gama e logo desatou a buzinar, todo afobado. O condutor da frente fez sinal a pedir desculpa e apressou-se a desimpedir o caminho; e eu fiquei sossegado…
O senhor bem posto fulminou-me com o olhar; ambos abrimos os vidros.
– Acha que está bem estacionado?
– Não consegue passar?
– Tá bem estacionado, acha?
– Desculpe, não consegue passar?
– Olhe: meta o seu civismo no…
É, pois, nestes episódios do dia-a-dia que se demonstra a verdade do que atrás se disse acerca da saúde mental. O senhor ficou danado e de nada lhe valeu zangar-se, porque o trânsito estava todo engarrafado logo ali (hora de saída de escola em dia de chuva…). Além disso, querendo ofender-me (?), até me louvou, porque reconheceu que eu tinha civismo. Agora não sei é onde é que ele queria que eu o metesse, até porque não acabou a frase e foi-se logo embora! Quando o reencontrar, ainda hei-de perguntar-lhe!...

Publicado no Jornal de Cascais, nº 220, 18-05-2010, p. 6.

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