sábado, 3 de dezembro de 2011

O canastrão de pisar castanhas

Foi com muito prazer que apresentei, no Dia de S. Martinho, o livro Murmúrios de um tempo… – O objecto etnográfico, repositório de memória, de João Orlindo Marques (Apenas Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-628-343-1).Por dois motivos:
Prende-se o primeiro com o local da cerimónia: o Centro das Artes Culinárias, sediado no Mercado de Santa Clara, em Lisboa. O antigo mercado, sito junto ao largo da vetusta Feira da Ladra, foi recuperado na sua estrutura de ferro forjado e nele funciona agora este Centro, repositório de uma colecção de quase 4000 objectos «relacionados com as artes culinárias de vários locais, épocas e estilos, do mais modesto ao mais sofisticado, da arte popular ao design, da cozinha rural à cozinha burguesa, do passado mais ao menos longínquo ao presente».
Ambiente de todo oportuno, portanto – e este é o segundo motivo –, para aí se dar conta de como singelo canastrão de pisar castanhas, usado na aldeia de Balocas, perdida nas dobras da Estrela, freguesia de Vide (Seia), pode ser um bom pretexto para, em livro, se fazer ressuscitar todo um quotidiano, o ciclo anual na vida de uma comunidade.
Não são, pois, inúteis esses objectos, ainda que eventualmente já fora de uso: constituem memória ou, como reza o título da obra, «murmúrios de um tempo…». Por isso, hoje, dois caminhos temos pela frente: um, a musealização perpetuadora de memórias; outro, a recuperação desses costumes antigos.
Na circunstância, manifestei a opinião de que, perante o caos em que o desenfreado capitalismo nos atolou, não se me afigurava nada impossível um cada vez maior retorno aos campos, à lavoura, à riqueza abandonada por quantos, nas últimas décadas, sonharam vir a usufruir, nos meios urbanos do litoral, de condições de vida sadia e venturosa. Desenganados estamos! E a recuperação de casas, de terras agrícolas outrora úberes, poderá ser, na verdade, inevitável e mui salutar caminho a seguir!
Por isso, falar, em plena cidade e no Dia de S. Martinho, do canastrão de pisar castanhas… teve sabor especial!

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 582, 01-12-2011, p. 13.

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