quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Na prateleira 33

Estava mesmo na prateleira: a torre e o mastro!
            Quando, em Agosto, houve o propósito de se levantar polémica acerca do mastro Endeavour, decerto terá passado pela cabeça de alguns (dos que ainda têm cabeça susceptível de armazenar dados…) que houvera, em tempos, a intenção de também plantar por ali qualquer ‘coisa’ gigantesca. A opinião pública alvoroçou-se e o projecto não foi por diante.
            Confesso que fiquei a remoer nessa associação de ideias e vasculhei os meus arquivos. Não, não se tratava nada de mastro enorme, mas sim de um hotel. O caso passou-se em Novembro de 2006 e (passo a transcrever) “em declarações à agência Lusa, António Capucho (PSD) sublinhou que a decisão [da reprovação] se deveu ao facto de o anteprojecto da construção de uma torre na marina de Cascais ter colhido «várias reacções negativas por parte de vários sectores da sociedade civil local»”. Era um hotel do tipo gigantesco foguetão, daqueles que a gente conhece lá das Arábias, e ficava na ponta da marina, aí com uns 100 metros de altura.
            Claro: associámos o mastro à torre e um nada tinha a ver com a outra. Diga-se, aliás, em abono da verdade, que o mastrozinho, com os seus escassos 40 metros, até nem fica nada mal por ali. Ou melhor: o que fica mesmo bem é a bandeira vermelhinha cá da terra, lá no topo, a dançar ao sabor da aragem…
 
«Aqui há revista!»
            Merece, sem dúvida, apontamento maior a revista «Aqui há revista» que o Grupo Cénico da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais está a levar à cena, aos sábados, desde o passado dia 4.
            A estreia, na sexta-feira anterior, foi só para convidados, que encheram por completo o vetusto teatro e não regatearam aplausos aos dinâmicos e incansáveis actores que teimam em manter uma tradição. Aliás, esse é logo o mote do primeiro quadro – que constitui também saudosa evocação do Luiz de Barros (que em Outubro nos deixou) e emotiva homenagem a Ermelinda da Assunção – a chamar a atenção para a importância sociocultural que o teatro de revista representa na sociedade portuguesa, pela sua enorme versatilidade e capacidade de fazer rir, fazer chorar e, sobretudo, de fazer pensar!...
            Haveria que louvar o desempenho de todos e cada um – nas marcações, na voz, nas coreografias… num trabalho gigantesco que Luís Lourenço tão bem soube ensaiar, secundado, por exemplo, pelos originais figurinos da inspirada lavra de Joaquim Carvalho (que também pontificou na coreografia), pelos cenários de Fernando Rebelo, pela enorme versatilidade de David Carronha (um ‘menino’ que enche o palco e tem sempre a ‘bucha’ certa para meter e salvar o momento incerto e imprevisível), pela graciosidade de todo o elenco feminino (sem excepção!), pela saborosa oportunidade dos textos… sei lá! É de ver e de rever! E basta ir ao facebook, por exemplo, na página de Joaquim Carvalho, para saber muito mais e imaginar o que está por detrás de cada fotografia!
            Acima de tudo, porém, a enorme disponibilidade e sacrificada vontade de manter o Gil Vicente como a sala de todos nós, do nosso reencontro com uma Cascais, vila de 650 anos mas povoação de muitos séculos mais! Memória e tradição!

A Casa das Histórias
            Temeu-se pelo futuro da Casa das Histórias Paula Rego, quando o governo de Lisboa deu em acabar a eito com as fundações e houve desinteligências no seio da Fundação que tem o nome da artista.
            Na recente reestruturação camarária, aboliu-se, como se sabe, a Cultura como ‘entidade’ (digamos assim), a figura de vereador da Cultura deixou de existir a se e transitou estrategicamente para a Fundação D. Luís I a função de (em colaboração com o Executivo camarário, bem entendido), superintendência e organização das realizações culturais da mais variada índole.
            Nesse âmbito, para além do já de si enorme Centro Cultural, Salvato Teles de Menezes, administrador-delegado da Fundação, passou a ter a seu cargo a dinamização, por exemplo, da Casa de Santa Maria e da Casa das Histórias. Assim – e só para recordar uma das mais recentes – ali se evocou a passagem dos 450 anos do nascimento do dramaturgo inglês William Shakespeare, com a projecção de filmes, a leitura de poemas, a apresentação de conferências…
            Enfim, a Casa das Histórias deixou de ser apenas o repositório dos quadros dramaticamente expressivos de Paula Rego para ser também o palco de igualmente expressivas manifestações culturais. Parabéns!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 65, 15-10-2014, p. 6.

 

 

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