quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Secção da PSP de Cascais em edifício degradado

            Fiquei estupefacto.
            Legítimos os aplausos para a mudança de instalações da esquadra da PSP do velhinho edifício da Afonso Sanches, em pleno centro histórico da vila de Cascais, para parte do devoluto imóvel da lota. Lá estive e regozijei-me com o aspecto airoso do conjunto e até os senhores agentes tinham melhor cara, por estarem a trabalhar em condições humanas.
            Qual não é, porém, o meu espanto quando – convocado para uma diligência no foro da investigação criminal, fui, a 8 de Setembro, ao nº 150 da Av. Piemonte, ali na raia do Monte Estoril com a Amoreira. Instalações antigas de uma dependência camarária, já não recordo qual, mas com todo o aspecto de armazéns, arrecadações ou quejandos. Logo o aspecto exterior, sem letreiros identificativos (o que se compreende, quer para não dar nas vistas quer para não aumentar a vergonha), era assaz desagradável.
            Chovera na noite anterior e felizmente que os processos conseguem estar a bom recato, porque correu água das largas fissuras do tecto e veio escada abaixo. A senhora da limpeza (passava das 10 horas) ainda andava com os baldes a esvaziar as poças e a pôr outros onde ainda pingava.
            De soslaio, dei uma vista de olhos aos «gabinetes» onde os agentes inquiriam as testemunhas. Condições? Nenhumas! Trabalhar ali, um acto de heroísmo, de abnegação, de amor a uma causa! Louvei a serenidade de todos.
            E dei comigo a pensar que esta é a Cascais das grandes festas. Dos lumina, da orgulhosa bandeira desfraldada no topo do alto mastro… e da PSP que tem esquadra «nova» em casa emprestada (?), onde agora alguns serviços funcionam, que outros continuam na Afonso Sanches: «perdidos e achados», os calabouços…
            Portanto, no centro da vila: dois edifícios; a Esquadra de Investigação Criminal na Av. Piemonte; a secção de trânsito lá para as bandas de S. Domingos de Rana… Lamentava-se-me, outro dia, um amigo: «Eh, pá! Primeiro que a polícia chegasse para tomar conta da ocorrência!...».
            ‒ E, se calhar, bem depressa veio ela até aqui perto da vila. Já viste que vem lá de S. Domingos de Rana e porventura nem pode utilizar a auto-estrada? Os agentes fazem das tripas coração e não admira, pois, que, de vez em quando, até estejam de mau humor, porque não é fácil ser polícia em Cascais!
            ‒ Não?
            ‒ Pois não. Somos muito bons em muitas coisas, até ganhamos prémios e legitimamente embandeiramos em arco; noutras, porém, engonha-se, engonha-se... Já não é do teu tempo, mas vê o caso do tribunal. Tens ideia das andanças que teve até ser onde é, depois de ter sido criada a comarca em 1963? Deixa ver se me lembro: foi, durante anos, numa casa apalaçada da Rua da Bela Vista; depois, passou com malas e bagagens para o Palácio Faial, sobre a Praia da Conceição e o Estado pagava um balúrdio pelo arrendamento. A zona onde hoje se encontra começou a ser pensada aí pela década de 50: queria instalar-se aí o novo Centro Cívico; mas o novo edifício só foi inaugurado não há muito tempo.
            ‒ Espera aí. Voltando à polícia: não há uma nova esquadra quase acabada ali no Alto da Pampilheira, que até prevê quartos para agentes que venham de fora?
            ‒ Há. Empreiteiro faliu. Burocracia emperrou. E, altaneiro, o imóvel lá está, hoje cai um azulejo, amanhã outro. Dizem que vai ser demolido. Obra de prestígio do arquitecto Troufa Real.
            ‒ Mas valha-nos o hospital.
            ‒ Valha-nos. Também foram anos e anos de luta! Contudo, o destino a dar ao antigo imóvel discute-se, discute-se, discute-se!... A concretizar anos depois. Menino, não esqueças: Cascais é para… saborear lentamente!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 65, 01-10-2014, p. 6.

 

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