sábado, 18 de novembro de 2017

Os 30 anos da AMI

            Raro será quem não conheça a Fundação Assistência Médica Internacional, que o Prof. Doutor Fernando Nobre mui auspiciosamente fundou há 30 anos, sempre apoiado pela esposa, Luísa Nemésio, e demais família. No passado sábado, dia 11, houve jantar comemorativo na emblemática Casa Seixas, em Cascais, concelho onde a AMI tem, na Torre, o Centro Porta Amiga, e onde passará a ter, daqui a algum tempo, a sua sede.
            Reuniu o jantar pouco mais de uma centena de pessoas, entre convidados e voluntários, e foi pretexto não apenas para confraternização entre todos mas também para Fernando Nobre evocar, em linhas gerais, o que foram esses 30 anos de serviço em prol dos mais desfavorecidos, nomeadamente em ocasiões de catástrofes, em 82 países dos vários continentes, sobretudo de África e da Ásia.
            Passaram já pela AMI cerca de 800 voluntários, de 30 nacionalidades, e foi precisamente a excelência do trabalho voluntário que mais encómios mereceu no decorrer do jantar.
            Entre os convidados, o Dr. Fernando Nogueira, que, enquanto ministro, dispensou à AMI a maior dedicação; e altas patentes dos três ramos das Forças Armadas, alguns dos quais Fernando Nobre teve ensejo de obsequiar com a medalha da AMI, enquanto salientava o empenho manifestado por cada um nesta nobre causa humanitária.
            Para além do emblema da AMI, os convidados foram obsequiados com um saco em que se encontravam:
            ‒ O folheto ‘AMI aventura solidária’, com o convite «faça uma viagem diferente nas suas próximas férias»: uma ida a Milagres, no Ceará brasileiro, ou à ilha de Bolama, na Guiné, ou, ainda, a Réfane, no Senegal («o país dos embondeiros»); uma forma de «contribuir para um diálogo singular entre diferentes culturas e a aproximação entre populações».
            ‒ O opúsculo «A missão continua», que dá conta, em mui breves linhas, da actuação da AMI, referindo-se que, «consciente da realidade vivida em Portugal, a AMI alargou a sua área de actuação, visando minimizar os efeitos dos fenómenos da pobreza e da exclusão social em território nacional», de que são prova os 9 Centros Porta Amiga, os 2 Abrigos Nocturnos, as 2 Equipas de Rua, o Serviço de Apoio Domiciliário (em Lisboa) e 2 pólos de recepção de alimentos (em Lisboa e Porto).
            ‒ O nº 68 (2º trimestre de 2017) de «AMI notícias», em que merecem destaque a dinamização que a AMI empreendeu no Bairro das Olaias, em Lisboa; os 24 anos de presença no Brasil; uma sentida nota de reportagem sobre o que foi 1 a 19ª edição do Prémio AMI que visa galardoar os trabalhos de jornalismo em que o motivo seja ‘lutar contra a indiferença’.
            ‒ Finalmente, o magnífico livro, 2º volume de «Histórias para não Adormecer», de 170 páginas, brilhantemente ilustrado por Gisela Miravent Tavares – «sensíveis, maravilhosas, ajustadas e numerosas», assim, no prefácio, classifica Fernando Nobre essas ilustrações –, livro que contém 56 histórias verídicas contadas na 1ª pessoa pelos seus protagonistas, voluntários da AMI. Histórias passadas em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Honduras, Índia, Irão, Iraque, Líbano, Moçambique, Papua, Portugal, Republica Democrática do Congo, Ruanda, São Tomé e Príncipe e Timor. Relatos a merecer a maior atenção, porque se prendem com a face obscura de uma Humanidade que, em demasiados locais, se mostra de uma desumana e inconcebível crueldade atroz, a que vem contrapor-se a abnegação de muitos, em tarefa ingente e dolorosa. Transcrevo apenas o início do depoimento de Jorge Andrade, «Os cantoneiros da fome»:
            «Quando vivi o momento que relato, tinha já fixado algumas das imagens que caracterizam a miséria do povo angolano: a pobreza extrema dos deslocados de guerra, a tristeza do olhar das crianças subnutridas, a desesperança dos estropiados pelas minas, a fome dos meninos de rua de Luanda. Não vou esquecê-las nunca» (p. 26).

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais], nº 211, 15-11-2017, p. 6. A foto é uma gentileza da direcção do jornal, que agradeço.

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