quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Dormir na forma ou a distracção generalizada

            Chamar-lhe «distracção» é eufemismo, para não se deitarem muitas achas na fogueira. Convir-se-á, porém, que distracção não é mesmo, mas sim desleixo, deixa-andar, despreocupação, «quem vier atrás que feche a porta» e expressões semelhantes, desde que, ao fim do mês, venha o ordenado e «lá vamos cantando e rindo»!...
            Triste cena? Será. Urge travar às quatro rodas? Eu acho que sim; mas… somos felizes, vivemos oficialmente em Democracia e cada qual exerce as suas funções e vive os seus minutos como lhe dá prazer e como lhe deixam!...
            Entristecera-me, há dias, ver um grupo de pessoas entretidas a «mexerem» nos telemóveis, enquanto, no palco, o septuagenário Chris de Burgh nos deliciava (aos outros que o escutávamos com todos os sentidos despertos) com a sua magnífica actuação.
            Sucedeu, contudo, que, num curto intervalo de tempo, ocorreram duas outras situações que mais me fizeram reflectir. E sinto agora a necessidade da partilha. Um dever de cidadania, acho eu, posso estar errado.
       O Gabinete de Comunicação e Imagem de uma instituição universitária, a quem dera conhecimento da promoção que eu fizera acerca da publicação de uma revista, pediu-me que lhes enviasse informações sobre o conteúdo dessa revista, a fim de dele se fazerem eco na próxima newsletter. Claro que me arrepiou o estrangeirismo, assim usado por uma instituição universitária, mas… que se há-de fazer? A moda é mais importante do que a defesa da Língua!... A questão, no entanto, é outra: é que a revista em causa é, nada mais, nada menos, a revista oficial dessa instituição e eu até enviara a ficha técnica e… ninguém leu, ninguém parou um minuto a pensar!
            O outro caso passou-se com uma Câmara Municipal. O munícipe, envergando o seu traje de cidadão, sugeriu que determinado carreiro cheio de buracos, muito concorrido por dar acesso a um hospital, fosse minimamente arranjado. A essa mensagem foi dada resposta, um ano depois, por uma das secções camarárias (digo bem, «por uma das secções camarárias», porque não vem o nome de ninguém!) a informar que «de acordo com a Divisão de Assuntos Patrimoniais e Expropriações, o terreno em causa é de domínio privado, pelo que a Câmara não irá intervir». Um ano passara e, em vez do carreiro, está, há vários meses, uma estrada alcatroada, municipal, que serve o referido hospital e o parque de estacionamento pago mandado fazer pela própria autarquia! Também aqui alguém está a dormir na forma! Na tropa, dormir na forma seria inconcebível. Sorte têm os técnicos dessa Divisão: não estão na tropa!...                                                 
                                                                                  José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 744, 15-12-2018, p. 12.

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