Chamar-lhe
«distracção » é eufemismo, para não
se deitarem muitas achas na fogueira. Convir-se-á, porém, que distracção não é mesmo, mas sim desleixo, deixa-andar,
despreocupação , «quem vier atrás que
feche a porta» e expressões semelhantes, desde que, ao fim do mês, venha o
ordenado e «lá vamos cantando e rindo»!...
Triste
cena? Será. Urge travar às quatro rodas? Eu acho que sim; mas… somos felizes, vivemos
oficialmente em Democracia e cada qual exerce as suas funções e vive os seus
minutos como lhe dá prazer e como lhe deixam!...
Entristec era-me, há dias, ver um grupo de pessoas
entretidas a «mexerem» nos telemóveis, enquanto, no palco, o septuagenário
Chris de Burgh nos deliciava (aos outros que o escutávamos com todos os
sentidos despertos) com a sua magnífica actuação .
Sucedeu,
contudo, que, num curto intervalo de tempo, ocorreram duas outras situações que
mais me fizeram reflectir. E sinto agora a necessidade da partilha. Um dever de
cidadania, acho eu, posso estar errado.
O
Gabinete de Comunicação e Imagem de
uma instituição universitária, a
quem dera conhecimento da promoção
que eu fizera acerca da publicação
de uma revista, pediu-me que lhes enviasse informações sobre o conteúdo dessa
revista, a fim de dele se fazerem eco na próxima newsletter. Claro que me arrepiou o estrangeirismo, assim usado por
uma instituição universitária, mas…
que se há-de fazer? A moda é mais importante do que a defesa da Língua!... A
questão, no entanto, é outra: é que a revista em causa é, nada mais, nada menos,
a revista oficial dessa instituição
e eu até enviara a ficha técnica e… ninguém leu, ninguém parou um minuto a
pensar!
O
outro caso passou-se com uma Câmara Municipal. O munícipe, envergando o seu traje
de cidadão, sugeriu que determinado carreiro cheio de buracos, muito concorrido
por dar acesso a um hospital, fosse minimamente arranjado. A essa mensagem foi
dada resposta, um ano depois, por
uma das secções camarárias (digo bem, «por uma das secções camarárias», porque
não vem o nome de ninguém!) a informar que «de acordo com a Divisão de Assuntos
Patrimoniais e Expropriações, o terreno em causa é de domínio privado, pelo que
a Câmara não irá intervir». Um ano passara e, em vez do carreiro, está, há
vários meses, uma estrada alcatroada, municipal, que serve o referido hospital
e o parque de estacionamento pago mandado fazer pela própria autarquia! Também
aqui alguém está a dormir na forma! Na tropa, dormir na forma seria inconcebível.
Sorte têm os técnicos dessa Divisão: não estão na tropa!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 744, 15-12-2018, p. 12.
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