quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Congratulo-me!

            De novo a falar de rotundas! Agora, sobre a única existente na 3ª circular, em Cascais, no entroncamento com a Rua de S. Bernardo, para o Bairro de S. José. Também para a louvar, porque descongestionou grandemente o trânsito que os semáforos ali existentes acabavam por ordenar mas eram… uns empatas! Boa ideia foi, deveras apreciada pelos muitos automobilistas que por ali circulam diariamente, ou não fosse essa a via de escoamento mais utilizada para sair de Cascais Ocidental!
            Não é, todavia, sobre a evidente oportunidade da rotunda que ora me apraz reflectir! Levantou-se aí uma parede do lado nascente e, em vez do branco homogéneo e puro, houve por bem a Junta de Freguesia de Alcabideche (desse lado, já é dessa freguesia) sugerir à Câmara que ali se ostentasse um exemplar da arte urbana, que Cascais tem abraçado com enorme entusiasmo (veja-se a delícia que são, nesse aspecto, as paredes do Bairro da Torre!). Se bem o pediu, melhor o recebeu e o Município encomendou um painel ao conhecido luandense Nuno Nomen, que vive em Carcavelos, um dos pioneiros da arte em grafitti.
            E o que pintou Nomen?
            As duas principais ‘riquezas’ de Alcabideche: uma cultural e outra desportiva!
            A cultural prende-se com a evocação do poeta árabe Ibne Mucana, natural de Alcabideche, o primeiro que, ainda no século XI, falou da existência de moinhos de vento na Europa e é por isso que, abundante como era em moinhos, Alcabideche escolheu há muito o moinho como seu ex-líbris. E lá está o monumento que foi dedicado ao poeta e a transcrição do verso referente à sua terra natal.
            A riqueza desportiva é o autódromo. Apesar de já não ser palco das grandes provas de Fórmula 1, continua a ser pista deveras apreciada para os treinos das grandes marcas e para provas de outras modalidades automobilísticas.
            Aplaude-se a escolha!


* * *
            Não vou, todavia, fugir de Alcabideche, mormente agora que já se sabe dizer que é aí que a A16 começa.
            Naturalmente devo fugir, isso sim, de inoportunas publicidades, que a ética expressamente mo proíbe. Por isso, aliás, devo confessar à partida, sob juramento se necessário, que ninguém me encomendou nada do que vou escrever a seguir. E se o meu escrito incitar, como espero, o leitor a ir ver o que em palavras pobres descrevo, não é com o intuito (longe de mim!) de lhe sugerir que compre, compre, compre!...
            Aprecio o gosto que ora se vai encontrando aqui e além para transformar o ambiente das casas de banho, decorando-as com motivos simpáticos, agradáveis à vista. Assim no CascaiShopping. Contudo, para mim o que mais se deve aplaudir é a decoração da parede do túnel da entrada poente (e chamo-lhe assim para não se confundir com a entrada poente larga). Uma pessoa entra e… está numa das praias de Cascais! O mar à frente, azul, plácido, naquela visão serena que nos apetece e que tanto nos faz ter saudades quando estamos uns dias sem a ver! O mar, a sua vastidão!... E então não é que, de seguida, parece que pisamos o imenso areal do Guincho, a serra de Sintra ali a mergulhar no Atlântico?!... Maravilha!
            Um verdadeiro achado também este, sim, senhores! Os meus parabéns!


                                               José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais] nº 317, 12-02-2020, p. 6.

2 comentários:

  1. Belo e oportuno texto. Diferentes manifestações de arte bem integradas nos cenários. "Ó homem de Alcabideche/que não te faltem sementes/que o labor do teu moinho/cuja vela o vento mexe/possa ter o remoinho/que dispensa as correntes". O início do poema de Ibn Muquânâ na tradução de Adalberto Alves em O Meu Coração é Árabe. E parabéns por esse olho treinado para os pormenores que às vezes escapam aos distraídos, como eu, e pelas mãos ligeiras no acerto do teclado.

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