quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Palmas para as palmas!

           Passeava-me, há anos, pelo pinhal junto a casa de meus pais. A zona, quase nas faldas da Serra de Sintra e perto do Atlântico, usufrui, porém, de mavioso microclima mediterrânico. Meu compadre tem excelente olival, onde íamos apanhar azeitonas para retalhar e comer de conserva, e o pinhal – que um incêndio já reduziu a cinzas – abrigava aqui e além moitas de palmas. Deixei-me enlevar pelas recordações – recordo.

            E vi as mãos, já encarquilhadas mas ligeiras, de minha avó a entrançar as palmas. Ficava, então pelos meus cinco-seis aninhos, de olhos esbugalhados a ver como tudo aquilo ganhava forma. E depois eram os capachos, as esteiras… Pediam meças, estas, pelo variado das cores, aos tapetes de Arraiolos, pois então! E havia os abanos, com cabo de pau ou mesmo de cana, para atiçar o lume das sardinhitas ou das febras. E as seiras, as alcofas e os chapéus também.

            Escusado será, pois, esclarecer que fiquei deveras contente com a longa e bem merecida reportagem, de Maria Simiris, na edição de Julho do nosso jornal, «’Palmas douradas’ levam São Brás de Alportel e a serra algarvia à alta-costura». Abençoadas mãos, abençoadas gentes, abençoada Maria Cerqueira Gomes! E teve honras de visita da Ministra da Cultura, que também esteve no Centro de Artes e Ofícios, uma instituição que nunca me cansarei de aplaudir.

            Senti-me reconfortado com a minha terra a sair de si e a mostrar-se ao País! Já não é apenas a cortiça na alta-costura – que bom!

            E mais deliciado fiquei, outro dia, quando, em mui apreciado concurso da RTP 1, uma das perguntas foi: «Qual o artesanato típico do Sítio do Desbarato?».

            Esparto, palma, cortiça – uma trilogia a aplaudir. E a acarinhar!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 285, 20-08-2020, p. 13.

Post-scriptum: Teve Emanuel Sancho a gentileza de me informar - para que conste e eu acho muito bem! - que é «no nosso Museu do Traje que a Maria João Gomes / Palmas Douradas tem o seu atelier permanente de trabalho e exposição». Mais uma importante 'valência', por conseguinte, em que o Museu se afirma ao serviço da comunidade, na sua singular óptica de museologia social.

2 comentários:

  1. Oh, que bonito texto sobre a importância e a utilidade das palmas, ou sobre a importância dos afectos, uma vez mais. Desconhecia que delas se fizesse tanta coisa que, afinal, via quase todos os dias. Ou talvez nem sequer soubesse o que eram palmas...Afinal já chegam à alta-costura!!!Parabéns pelo texto e pela terra natal, que tão bem sabe valorizar o seu artesanato.

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