quinta-feira, 4 de março de 2021

Viseu sabe bem

      Vêm estas considerações a propósito de os municípios terem optado, na sua generalidade, por dar primazia à elaboração de uma página digital, na convicção de que, dessa forma, todos os munícipes estariam a par das iniciativas em curso. Pressuposto errado, portanto.
            Cumpre, pois, aplaudir quem, ao invés, anda com os pés assentes na realidade.

            Sempre com o sabedor apoio do Dr. Alberto Correia, brindou-nos o município de Viseu com um bonito ‘estojo’ cartonado que contém 12 livrinhos – em papel e magnificamente ilustrados – que integram a colecção «Viseu Sabe Bem». Todo o património gastronómico ali servido em beleza e num eco perfeito de mui centenares tradições, apanágio das nossas terras. A merecer um enorme aplauso! Assim, sim, se ajuda a criar comunidade, a fazer com que as gentes privilegiem o que, na verdade, constitui a distinção.
            Vale a pena enumerar os títulos: A broa de Vildemoinhos; Pão de S. Bento; Pastéis de feijão; Castanhas de ovos; Viriatos; Enguias da Murtosa; As farturas; Tabernas de Viseu; Rancho à moda de Viseu; Pão de Santos Êvos; D. Zeferino; Filhós de mel de Várzea de Calde.
          E a aliciante poesia que ressuma dos subtítulos?! Ora veja-se: «Viriatos: uma saborosa invenção»; as farturas: «doce manjar do povo»; as tabernas: «convivialidade e ócio»... Maravilha! Até apetece. E D. Zeferino – quem é? O criador de um restaurante típico da cidade, a alma-máter do «Cortiço», onde se come «coelho bêbado três dias em vida» ou as «feijocas com todos à maneira da criada do Senhor Abade»!

            Sim, as iguarias são para saborear; mas, Amigo, os textos, numa linguagem simples, estilo deveras atraente e bem burilado, são de saborear também.

Está de parabéns o Dr. Alberto Correia e o município viseense.

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 794, 01-03-2021, p. 11.

 

1 comentário:

  1. Deixo aqui o meu comentário com o maior prazer e já a salivar...O texto é pequenino, belíssimo, cheio de pedaços apetitosos. Conheço a excelência da cozinha de Viseu e arredores e podia trazer aqui umas pinceladas das boas lembranças que me deixaram. Todos os lugares e seus espaços de restauração que me serviram bem, estão bem frescos na memória. Mas o texto vem a propósito de uma questão muito importante: para poupar em papel, muitas câmaras deixaram de enviar as agendas-circulares aos munícipes, parte dos quais nem abre as mensagens electrónicas enviadas, em lugar da antiga agenda. Anda o país quase todo a "poupar", não cuidando de considerar o retorno que podia advir de "pequenos sacrifícios". Parece o município de Viseu tem as ideias mais claras e a perfeita noção de que os olhos vêem melhor o que as mãos tocam, ou o paladar aprecia. Beijinho, meu querido Amigo, por nem sequer precisares de muitas linhas para lembrar coisas tão importantes.

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