terça-feira, 16 de março de 2021

Judeus no Canto

            «Aposentado. Finalmente! Adeus horários rígidos, reuniões insípidas e inconclusivas, relatórios de actividades e programação de actividades para daqui a cinco anos!.... De papo para o ar! Assim mesmo, vou passar os dias de papo pró ar, porque  já dei para esse peditório do orçamento nacional. Plantei árvores, tenho filhos e já escrevi um livro!...».
Claro que raciocínios destes caem pela base longo ao fim da primeira semana e se há, de facto, quem, na aposentação, deixe cair os braços, há os que de pronto se dedicam à solidariedade como voluntários ou, mesmo, os que não hesitam em continuar, em moldes serenos, as actividades a que se dedicavam, a fazer aquilo que os tais apertados horários lhes não haviam dado oportunidade de se dedicar.
Congratulo-me vivamente com aqueles muitos colegas da minha idade que acordam todos os dias com objectivos definidos a cumprir. Abençoados!
José Manuel de Azevedo e Silva, por exemplo. Jubilou-se como professor de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Anda hoje pelos quase 84 anos. Não parou. Dele se publicou há dias o livro «A Judiaria do Canto, Tibaldinho, Mangualde – Um Caso Único, em Portugal e no Mundo» (Theya, Edições Universitárias Lusófonas, Lisboa, 2021), prova da investigação a que não quis virar costas, nomeadamente por se tratar da sua terra natal.
Congratulo-me não apenas pelo seu significado de dinamismo pessoal mas, de modo especial, por dar a conhecer um aspecto da história da sua terra, que se revela deveras relevante.
Escreve o presidente da autarquia, João Azevedo, no prefácio, com manifesto júbilo, que «a existência de uma sinagoga escondida nas profundezas da terra, numa mina-galeria, na localidade de Tibaldinho, desvela agora a história de ignotos judeus nestas paragens» e «catapulta Tibaldinho e Mangualde para uma centralidade cultural ímpar». E o autarca não enjeita a necessidade de «aproveitar o valor histórico, cultural e socioeconómico da judiaria do Canto e da sua sinagoga» para, com criatividade e inovação, «integrar esta nova realidade nas estratégias de desenvolvimento local e regional». Amém!
Bem hajas, meu caro Azevedo, pelo exemplo e pelos singulares resultados a que a tua investigação te levou.

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 795, 15-03-2021, p. 11.

 

 

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