quarta-feira, 9 de junho de 2021

De Castelo Branco para o mundo!

        Nunca será de mais salientar a intensa actividade literária de António Salvado, bem apoiada também nas instituições albicastrenses. Ressaltam-se os livros de poesia, mas há de referir-se igualmente o objectivo, alcançado, de pôr Castelo Branco no centro de um pólo literário para o mundo.
            Na verdade, embora, na sua maior parte de pequena dimensão, sucedem-se os livros de poemas saídos do seu estro incansável. Poeta, semeador de versos, sim, incontestavelmente; contudo, não deixa de ser notável a sua característica de semeador de Cultura. Primeiro, porque não hesita em chamar para o seu lado quem se disponibiliza a caminhar com ele nessa senda; depois, porque sai do seu rincão albicastrense e parte mundo afora.
            Ora veja-se, sem ordem pré-definida e sem dar atenção à cronologia:

            Horizontal. 2021. Edição de Caraba Ibérica. Na apresentação, António Teixeira e Castro começa por afirmar que quando as Musas se instalam, instalam-se! É mesmo. E António Salvado em simbiose com elas. E os desenhos, aqui, de Ribeiro Farinha sublinham eloquentemente o denso lirismo, quase erótico, que dos poemas se desprende: «Tão dócil aquele instante / perpetuado   no gomo / das nossas bocas unidas»…

            Poemas para Nósside. 2021. Editora Labirinto, de Fafe. Sugestivos corpos femininos, em pinturas/desenhos do alicantino Miguel Elías, professor de expressão artística na Universidade de Salamanca. Nem o mel na boca ultrapassa a doçura do amor. Nósside, poetisa grega do século III a. C.

            Do ano os meses. 2020. Edição da Câmara Municipal de Castelo Branco. Três quadras para cada mês, para os meninos cantarem. Um trabalho musical de Custódio Castelo, em doze andamentos. E há uma pen com os cantares, interpretados por Ana Paula Gonçalves, acompanhada pelo João Roiz Ensemble. Arquitectou tudo o Rui Tomás Monteiro. Cito Julho: «Fértil madureza / de túmidos frutos / nas ramagens presos, / viçosos  maduros». Cirúrgico!

            Áleas do Jardim. 2021. RVJ – Editores. Versos (de A. Salvado) e imagens (eloquentes, de Rui Tomás Monteiro) a partir de estátuas e de outros motivos do Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco. E do jardim se enxerga o mundo! Morte: «Ah, se apenas ceifasse / misérias, sofrimentos, / e a tirana ambição!...». D. João IV: «Vaticinou os cravos / que floriram em coro / numa jovem manhã».

            E venham as provas do partir da cidade para outras paragens, em romagem:

            Entre ramos de loto. Sirgo. MMXXI. Cadernos do Quarto Minguante. Ilustrações do japonês Kousei Takenaka. Português e castelhano. Apresentação e tradução de Alfredo Pérez Alencart. 22 tercetos. O último, Oração: «A prece eleva ao alto / um coração sincero / e um pensamento em dor».

            Catorze poemas e um artigo. Traduzidos para Romeno por Elena Liliana Popescu. Edição do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Quase em homenagem ao poeta Mihail Eminescu. Nestes, um halo de alguma tristeza. Inesperada. «É tempo sem alegrias / tempo de chagas abertas» (p. 22).

            Cadernico de poemas na Mirandés. Sirgo. MMXX. Cadernos do Quarto Minguante. Tradução, para mirandês, da poetisa Adelaide Monteiro. 14 poemas seleccionados. E que estranha sonoridade, essa, da nossa outra língua oficial: «Semiente de tierra, maresie de mar, tengo-bos ne ls braços a balanciar»!…

            Sementes, pois, as que por aqui estão a ser lançadas. E que bom é tê-las nos braços. A balancear!...

                                                               José d’Encarnação

Publicado em Gazeta do Interior (Castelo Branco), nº 1692, 26 de Maio de 2021, p. 8.

 

2 comentários:

  1. Mais alguns títulos para a lista das obras a ler.

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  2. Agradeço mais este belo texto que dá conta do trabalho de um Poeta maior, laborioso, que venho seguindo há tantos anos. E agradeço ainda mais porque não conhecia as últimas publicações, por razões pessoais, embora a apresentação de um destes títulos tivesse sido feita por outro Amigo meu.

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