É bem provável que a globalização em que estamos embrulhados e os distúrbios que ela provocou voltem a exigir um olhar mais atento para a nossa realidade circunvizinha, num retorno às boas tradições que fizeram o saudável quotidiano de nossos avós.
Queiramos ou não, as medidas políticas que tardam (e sempre tardarão!) serão teóricas de mais para que se concretize o apregoado regresso ao campo, fonte, afinal, da nossa verdadeira riqueza e auto-sustento.
Não me admiraria, portanto, que voltasse a figura do pastor que leva ao pasto ovelhas e cabras de vários vizinhos, distinguindo-se os animais por uma marca, ainda que eles saibam melhor que ninguém o caminho do seu aprisco. Não me admiraria que voltassem a funcionar os fornos comunitários, em que se ajuntavam numa fornada os pães tendidos pela Ti Maria e pela Ti Jòquina e pela Ti Getrudes – e cada uma punha sinal para indicar «daqui para ali, os pães são meus!».
O mesmo acontecia, em tempo de Romanos, em relação às fornadas de material cerâmico. Decerto também as de pão, mas nada ficou para no-lo provar, enquanto que de telhas e tijolos há grafitos marcados na massa por secar.
Encontramo-los por toda a parte, ainda que só recentemente se tenha consciencializado que a palavra CAMPANI, por exemplo, significava não que aquela telha fosse “de Campano”, o fabricante ou o destinatário dela, mas sim que essa telha, com esse grafito, marcava o começo do lote que fora encomendado por um senhor com esse nome.
Compreende-se a importância histórica que essa informação detém:
1º) Fica-se a saber que, no local donde essa telha proveio, existia um forno cerâmico (pelo menos, um) e, por conseguinte, haveria barreiros bons por perto (informação de teor económico).
2º) A etimologia do nome (neste exemplo, latina) ajudava a saber que gentes habitavam por ali (informação de teor sociocultural).
3º) Se se fabricavam telhas, era porque se necessitava delas para cobrir habitações – e haveria um aglomerado populacional por perto ali (informação de teor urbanístico).
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 572, 15-06-2011, p. 13.
sábado, 18 de junho de 2011
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