domingo, 29 de abril de 2012

Andarilhanças 45


Fernanda Ataíde
            Faleceu, no passado dia 19, Fernanda Athayde, que foi a grande timoneira do Hotel Atlântico e um dos vultos notáveis da nossa terra, pela sua tenacidade, saber e dedicação à causa da hotelaria e do turismo locais.
           A seu filho e continuador Luís Athayde e demais família, o meu abraço de mui sentidos pêsames.
            Que descanse em paz!

Fortaleza da Senhora de Luz
            No âmbito da comemoração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, abriu a Câmara Municipal de Cascais, na tarde do sábado, 21, a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, sita entre a marina e o Palácio da Cidadela. Margarida Ramalho, uma das investigadoras que mais se tem debruçado sobre a história e a interpretação dos vestígios arqueológicos dessa que constitui seguramente o mais antigo bastião de defesa da vila, guiou as visitas e ajudou os curiosos a compreenderem o significado que tem essa união íntima entre a Arqueologia e a História para alimentar as raízes da nossa identidade.
            Tive, pois, ocasião de rever os locais por onde, em 1989, se instalou o núcleo «Cascais na época dos Descobrimentos» da exposição «Cascais, um olhar através do seu património», que a Associação Cultural de Cascais, em estreita colaboração com a Câmara, levou a cabo. Datam desse outono a instalação eléctrica e a possibilidade de visita ao monumento, assim como o projecto, que ainda não logrou ser concretizado, de se musealizar esse espaço prenhe de história.

Cidadela
            Após a visita à fortaleza e antes da cerimónia de apresentação da fotobiografia de D. Maria Pia de Sabóia, houve tempo para dar uma vista de olhos pela reconversão da Cidadela. Além da pousada recém-inaugurada, que ficou, afinal, diga-se de passagem, bem integrada no conjunto arquitectónico pré-existente (o toque de modernidade não choca e o aproveitamento dos espaços para os 126 quartos e suites é digno de encómio), há todo um conjunto de equipamentos, que se arriscam a ser, doravante, mui agradável ponto de encontro para residentes e forasteiros. Adivinha-se, para já, grande afluência ao fim-de-semana e, no Verão, o espaço da antiga parada do quartel será, sem dúvida, condigno palco de manifestações culturais.
            Cumpre-se, assim, mais de cem anos passados, um desejo da população cascalense, dado que, como se sabe, logo nos primórdios da República, a cidadela foi oficialmente entregue ao povo de Cascais.
            O que falta? O que eu sempre disse e considero falha imperdoável, o único pecado mortal cometido: a ausência da História! Não teria custado muito destinar um dos espaços – e ele há tantos!... – para nele se recordar, ainda que minimamente, com fotografias, alguns objectos e até (porque não?) um pequeno vídeo, o que foi aquele monumento, o enorme conteúdo histórico que o impregna. Não nos deram ouvidos, tenho muita pena! Curiosamente, não fora essa a atitude de uma entidade de quem, à partida, tal se não esperaria, o Exército: após o 25 de Abril, a magnífica cisterna sob a parada foi esvaziada e transformada em salão nobre da Artilharia, mostrando, em vitrinas, pedaços de história; e, no jardim fronteiro à porta de armas instalou-se o Museu da Artilharia Antiaérea. Outros tempos, esses, em que à Cultura se reconhecia o papel que efectivamente detém, por mais que não se queira!...

D. Maria Pia de Sabóia
            Esposa de el-rei D. Luís I, o monarca que faleceu no Palácio da Cidadela (hoje afecto ao Museu da Presidência da República), D. Maria Pia de Sabóia esteve profundamente ligada a Cascais e às suas gentes, a partir de 1870. Justificava-se, pois, que nesse palácio fosse apresentada a fotobiografia comemorativa do centenário da sua morte (1911), da autoria de Maria do Carmo Rebello de Andrade, numa edição conjunta do Palácio Nacional da Ajuda e da Câmara Municipal.
A cerimónia ocorreu ao final da tarde de sábado, 21, perante luzida e selecta assistência.
Falou o Sr. Presidente da Câmara: palavras de ocasião, a realçar o significado do acto.
Fez o historiador Rui Ramos uma longa conferência sobre a monarquia na 2ª metade do século XIX, destacando miudamente as diferenças entre a monarquia italiana e a portuguesa de então (ficou-se a saber que já nessa altura os governantes sabiam fazer das suas!...). O erudito conferencista é, desde 1986, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e tem-se dedicado, em particular, a estudar o final da monarquia portuguesa e os primórdios da I República.
Também a Dra. Isabel Silveira Godinho, directora do Palácio Nacional da Ajuda, disse de sua justiça, dando conta de como o livro fora elaborado, com base na documentação existente no palácio.
A autora quase nos contou todo o conteúdo da obra, enquanto repetidamente as imagens (supomos que as mais significativas, do quotidiano da Família Real, instantâneos do veraneio em Cascais…) eram passadas no ecrã.
Inteligentes, porque muito breves, as intervenções finais tanto da Senhora Vereadora da Cultura como do actual responsável pelo palácio.
 Previsto para iniciar-se às 18.15 h, o acto teve o chamado ‘quarto de hora académico’ de tolerância e só viria a concluir-se em cima das 20 horas.                                                            

[Publicado no Jornal de Cascais, nº 311, 25.04.2012, p. 4].

Sem comentários:

Enviar um comentário