quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Saudades de Luiz Goes

            Partiu o Luiz, no passado dia 18. Já de algumas largas semanas a esta parte que esperávamos o desenlace, pois que dificilmente resistiria à infame turquês da doença que o aprisionara.
E deixou-nos uma enorme saudade. Não apenas da sua voz potente, que proclamava como ninguém «É preciso acreditar!», que convocava o «irmão» para cantar, para dar as mãos, para lutar… Saudades da Pessoa (sim, com letra maiúscula) que sempre soube ser, amigo do seu amigo, companheiro indefectível, solidário, disponível.
Não mais o verei saltar da cadeira do restaurante aqui do bairro onde, de vez em quando, vinha almoçar. De braços abertos, avançava ao meu encontro para um forte abraço fraterno e jovial: «Como vais, rapaz? Que prazer ver-te!». Fomentava a Amizade, cimentava-a.
Nasceu em Coimbra (1933), em Coimbra se formou em Medicina Dentária (profissão que sempre exerceu), mas desde cedo demandou Lisboa e era um dos mais ilustres munícipes de Cascais. Aliás, atribuiu-lhe a Câmara Municipal a Medalha de Mérito Cultural; o TEC tem, no seu mural do Mirita Casimiro, a placa rósea com a sua assinatura, ali afixada por ocasião da comemoração dos seus 70 anos (5 de Janeiro de 2003), porque – tal Carlos Carranca, a cujo grupo pertencia –  o Luiz sempre fez a ponte entre Cascais e Coimbra, entre os antigos estudantes da Lusa Atenas que, como ele, se instalaram na capital e arredores. Carlos Carranca publicara, de resto, em 1998, uma biografia sua: Luiz Goes de Ontem e de Hoje.
Enquanto recordamos o Amigo, o Poeta, o Cantor, o Homem, não podemos, porém, deixar de verberar os tempos que estamos a viver. Morreu em Mafra o Luiz. Longe, pois, de todos os ambientes por onde fora semeando o seu génio. E porquê? Porque só em Mafra, depois de muito procurar, houve uma cama disponível para o receber! Mal vai, na verdade, o nosso Serviço Nacional de Saúde; mal vão as casas de cuidados continuados que se inauguram e não abrem ou, se abrem, têm preços incomportáveis para o bolso do cidadão normal.
Diligenciava-se para que a Luiz Goes fosse outorgada uma tença ou algo de semelhante, por parte da Secretaria de Estado da Cultura, atendendo aos brilhantes serviços prestados à Cultura Portuguesa (recorde-se que foi condecorado com o grau de Grande Oficial de Ordem do Infante Dom Henrique, teve a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra e foi galardoado, em 2005, com o Prémio Amália Rodrigues). Nada foi possível. E Luiz Goes não resistiu, à sombra do convento…
Houve missa de corpo presente, hoje, dia 19, em Coimbra, na Igreja de Santa Cruz que tantas vezes cantou e que tão prenhe está da tradição coimbrã. Repousarão os seus restos mortais no jazigo da família de Manuel Portugal, enquanto se espera que seja aceite a proposta de virem a repousar no Panteão Nacional de Santa Cruz.
Luiz, uma coisa tu bem sabes: não te esqueceremos! Descansa em paz, Amigo e Lutador!

Publicado na edição de 20 de Setembro de 2012 do Cyberjornal:

1 comentário:

  1. O Dr.Gonçalo Reis Torgal teve a gentileza de me enviar hoje este comentário que não teve oportunidade de inserir aqui, como era sua intenção. Transcrevo-o e agradeço:
    «Só hoje li o seu sentido comentário que comungo totalmente inclusive no que vergonhosamente se passa com a saúde em Portugal e especificamente nesse campo onde se não fosse o papel e acção das Misericórdias nada teríamos a poder ser usufruído por quem roubado é pelo governo do garoto do coelho passos pedro. Bem haja pois. um abraço Gonçalo

    ResponderEliminar